Desde agosto, o Brasil vive um alerta com os casos de intoxicação por bebidas falsificadas com metanol. O problema ganhou as manchetes e afastou parte do público dos bares e restaurantes. De acordo com o levantamento mais recente da Abrasel e Stone, as vendas no setor caíram 4,9% em setembro. Em comparação ao mesmo mês do ano passado, a queda foi de 3,9%.
Os números refletem o medo que se espalhou entre os consumidores. Segundo o Ministério da Saúde, o país já registrou 133 notificações de intoxicação por bebida adulterada. Destas, 46 foram confirmadas e 87 seguem em investigação. São Paulo lidera o ranking, com 38 casos confirmados, seguido de Paraná, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Até o momento, oito pessoas morreram por causa da contaminação.
Além de preocuparem os clientes, os casos causaram prejuízo ao setor. O presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, afirma que o impacto foi direto: “O pânico provocado pelos casos de metanol derrubou o movimento em muitos estabelecimentos”, diz à Forbes.
Autoridades intensificam o combate à falsificação de bebidas adulteradas
Para tentar conter o avanço desse crime, operações policiais vêm sendo realizadas em diferentes estados. Em São Paulo, a Polícia Civil destruiu mais de 100 mil garrafas usadas em falsificações. Já a Polícia Federal investiga a origem do metanol utilizado pelos criminosos, com foco em usinas do setor sucroalcooleiro de estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso.
A substância, também chamada de álcool metílico (CH₃OH), é tóxica e pode causar cegueira ou até a morte, mesmo em pequenas doses. Segundo o Conselho Federal de Química, a ingestão de apenas 4 ml já pode provocar danos irreversíveis.
Diante do aumento de casos, um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados quer tornar crime hediondo a falsificação de bebidas alcoólicas. A expectativa é que a punição mais severa ajude a coibir novas ocorrências.
O peso do bolso também explica a queda nos restaurantes
Embora a crise do metanol tenha assustado os consumidores, ela não é o único fator que explica a retração nas vendas. Segundo Guilherme Freitas, economista da Stone, a inflação e o endividamento das famílias continuam pressionando o setor.
Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,48%, segundo o IBGE. Nesse mesmo período, a alimentação fora de casa desacelerou de 0,50% para 0,11%. Isso significa que, além da insegurança, o orçamento apertado também tem levado as pessoas a ficarem mais em casa.
Freitas observa ainda que, embora o emprego siga em bom nível, a criação de novas vagas formais perdeu força. Como consequência, as famílias cortam gastos considerados supérfluos — e o lazer costuma ser o primeiro da lista.
Panorama nacional mostra retração generalizada
Dos 24 estados avaliados pela pesquisa Abrasel-Stone, apenas dois tiveram crescimento nas vendas de bares e restaurantes em relação ao ano passado. Nos demais, houve queda. Ao todo, o Brasil conta com cerca de 1,5 milhão de estabelecimentos de alimentação — sendo mais de 378 mil apenas em São Paulo.
Enquanto o setor tenta se recuperar, especialistas reforçam a importância de o consumidor ficar atento à procedência das bebidas e evitar locais sem registro ou com preços muito abaixo do mercado.
Resumo:
Casos de intoxicação por metanol e aumento de preços fizeram os brasileiros repensarem o consumo fora de casa. O medo das bebidas falsificadas e o aperto financeiro reduziram o movimento em bares e restaurantes, segundo dados da Abrasel e Stone. Autoridades intensificam o combate à falsificação e um projeto de lei quer tornar o crime hediondo.
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