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Como as escolas podem trabalhar com as famílias na integração das crianças?

Especialistas dão dicas sobre como a escola pode contribuir com a interação na escola de alunos com diferentes perfis e comportamentos

Priscila Correia, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 24/08/2024, às 08h05

Um estudo recente conduzido pelo Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Escolares da UFMG, com apoio do Centro Lemann, revelou uma realidade alarmante: mais de 45% das secretarias de educação no Brasil enfrentam deficiências na gestão de bullying, racismo e violência. Esses dados evidenciam uma falha significativa no cuidado e proteção dos alunos, potencializando traumas que podem marcar essas crianças e adolescentes para o resto de suas vidas. 

E, apesar das escolas terem papel fundamental na mediação desses conflitos entre alunos, nem sempre isso acontece. Não é raro, inclusive, que os professores e coordenadores, que lidam diretamente com crianças e adolescentes, não tomem nenhuma atitude. Como resolver isso? Para começar, é preciso que o corpo docente tenha capacitação contínua para mediar conflitos. Além disso, entender sobre disciplina positiva e práticas pedagógicas inclusivas é essencial. Kate Amaral, criadora da 1Manas, startup educacional, com foco na educação positiva, parentalidade e relação pais e filhos, pontua, ainda, que a gestão escolar deve acompanhar as aulas e intervir se perceber que o professor não está atuando adequadamente na mediação de conflitos. “É necessário fornecer feedbacks e orientação ao professor, incentivando a adoção de novas práticas e abordagens que melhor atendam às necessidades dos alunos”, diz.

Já Deise Moraes Saluti, que é psicóloga, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga, levanta um contraponto: os professores hoje mal conseguem controlar o tempo, menos ainda lidar com tão diferentes perfis e temperamentos, além das questões neuro atípicas. “Olha só quantas camadas têm em sala de aula para um professor lidar em seus 40 minutos. É quase impossível. Ele tem que ter ordem, mas não consegue, não tem voz ativa. Tem que controlar os hiperativos, mas não consegue porque quando um senta, o outro se levanta. Não consegue controlar as crianças porque elas vêm de casa já com um monte de questões. As crenças são diversas, os preconceitos e problemas já iniciam dentro de casa”, analisa. E ela vai além: “A escola é responsável por ensinar, aplicar as matérias e ensinar, mas educar, respeitar o coleguinha, ter empatia, são coisas que não são apenas responsabilidade da escola, precisa vir de casa também”, complementa.  Ou seja, é preciso um trabalho conjunto entre escola, pais e filhos.

Direto ao ponto

Quando temos um filho que está passando por situações que podem afetar seu convívio com os colegas, nos perguntamos como podemos ajudá-lo. Entretanto, na maioria das vezes, é preciso uma “força tarefa” entre família e escolas.

“Todas as escolas têm o dever da inclusão, de receber alunos atípicos, alunos com dificuldades de aprendizado, com questões de suporte etc. É dever da escola aceitar esses alunos. Mas a pergunta que não quer calar é: a escola está preparada para receber esses alunos? Os professores possuem preparo e conhecimentos em todas as neurodiversidades em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas?”, analisa Deise Moraes Saluti.

A seguir, psicólogos e pedagogos falam um pouco mais sobre diferentes situações, passadas para a coluna por mães leitoras, que acontecem nas escolas - dentro e fora de sala – e como enfrentá-las.

Um aluno com TEA, com suas particularidades, que não consegue se enturmar (as outras crianças não praticam bullying, mas também não fazem amizade):

Iara Souza, psicóloga clínica - Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente enfrentam dificuldades em se enturmar e fazer amizades devido a seus desafios na comunicação e interação social. É importante oferecer apoio tanto à criança quanto aos seus pais e cuidadores. Estratégias de intervenção podem incluir o desenvolvimento de habilidades sociais específicas, o estímulo à participação em atividades de grupo e à criação de oportunidades para interações sociais positivas. Também é essencial promover a sensibilização e a educação sobre o TEA entre os colegas, incentivando a empatia, a tolerância e a inclusão, para criar um ambiente mais inclusivo e favorável ao desenvolvimento social da criança. A criança com TEA deve ser vista e apoiada de forma integral, com suporte emocional e psicológico adequado, levando em conta suas necessidades individuais. O trabalho conjunto com profissionais da saúde e da educação é crucial para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável da criança. Além disso, é necessário cuidar também dos pais e cuidadores, que podem se sentir culpados ou invalidados, lembrando que o diagnóstico deve servir como um facilitador das necessidades da criança, e não como um rótulo.

Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista - É muito importante que tanto os pais quanto a escola respeitem o interesse da criança quanto à socialização. Em geral, as crianças que estão dentro do Espectro Autista têm menos interesse na socialização do que as crianças que não estão. Essa criança, muito provavelmente, vai ter menos interação social e vai ter um amigo de preferência e uma ou algumas crianças com as quais terá maior proximidade. Então, é muito importante que os pais e a escola não projetem as suas próprias características nessa criança, inclusive para que o espaço dela não seja invadido com as expectativas da escola ou dos pais. Se for do interesse dessa criança ter menos amigos e um círculo mais restrito (que geralmente é o que acontece) é muito importante que isso seja respeitado. Se não há nenhum problema na sala, nenhum tipo de bullying por parte dos colegas, então é muito importante deixar que - no tempo da criança, sem que ela se sinta invadida - ela possa construir suas relações. E ninguém precisa ficar angustiado achando que essa criança tem que ser cheia de amigos ou socializar como as outras, porque essa criança tem as suas particularidades e vai fazer os seus laços ao seu modo.

Marina Makul, pedagoga especialista da 1Manas - É muito importante que a escola cuide, acolha e adote estratégias para promover a inclusão desse aluno, que não consegue se enturmar! Intervenções que promovam interações sociais de forma estruturada e organizada podem ser positivas. Por exemplo, ao criar atividades em grupos pequenos, onde tais interações serão guiadas e mediadas por um adulto, que eventualmente poderá “traduzir” alguns comportamentos, ajudar na auto regulação, facilitar a comunicação verbal e não verbal e auxiliar os alunos nos processos pedagógicos. Para promover empatia e compreensão, entre os alunos que convivem com essa criança, também é fundamental educá-los sobre o TEA, de maneira adequada à faixa etária. A escola deve proporcionar um ambiente acolhedor e inclusivo, onde as particularidades de cada aluno são respeitadas. A capacitação dos professores para lidar com alunos com TEA é fundamental, e além disso, esses alunos possuem o direito a um mediador escolar! Um exemplo é de uma criança brasileira, com TEA, que estudava em uma escola internacional e, como alguns professores não eram fluentes em português, ela passou a fazer as traduções, para que outros alunos com dificuldades de compreender a língua, pudessem se comunicar e se sentir mais confortáveis nessa convivência!

Um aluno com Trissomia 21, que não acompanha o aprendizado de outros alunos:

Iara Souza, psicóloga clínica - Crianças com Trissomia 21 geralmente enfrentam desafios no aprendizado e desenvolvimento cognitivo, o que pode dificultar o acompanhamento do ritmo dos outros alunos. É essencial adotar uma abordagem individualizada, que inclua a criação de um plano educacional personalizado, com metas realistas e adequadas às capacidades da criança. O uso de estratégias de ensino diferenciadas, recursos visuais e materiais adaptados também é importante para facilitar o aprendizado. Promover a inclusão da criança em atividades educacionais e sociais é crucial para estimular seu desenvolvimento e integração no ambiente escolar. O apoio de profissionais especializados, como psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, é fundamental para fornecer suporte individualizado e promover o progresso da criança. A atuação interdisciplinar e o acompanhamento contínuo são essenciais para garantir seu progresso e inclusão tanto na escola quanto na sociedade.

Rachel Mendes, pedagoga especialista da 1Manas - A escola deve adotar uma abordagem inclusiva e individualizada. Adaptar o currículo e as atividades de acordo com as necessidades por meio do desenvolvimento do PEI (Plano Educacional Individualizado) que detalha os objetivos de aprendizagem específicos para o aluno, bem como as estratégias e adaptações necessárias para ajudá-lo a atingir esses objetivos. É necessário ter uma equipe capacitada para aplicar estratégias pedagógicas adequadas.

Um aluno superdotado que os colegas acabam excluindo por se destacar nos aprendizados:

Marina Makul, pedagoga especialista da 1Manas - O professor precisa identificar e reconhecer as necessidades de aprendizagem diferenciadas dos alunos superdotados e oferecer desafios intelectuais que estejam alinhados ao seu nível de habilidade. É necessário promover a conscientização dos outros alunos sobre a diversidade intelectual, mostrando que ser diferente não é negativo. É muito bacana mostrar que podem contar com esse aluno para aprender mais sobre determinado assunto, para tirar algumas dúvidas e pensar juntos! Programas de enriquecimento curricular, como clubes de ciências, olimpíadas escolares ou projetos especiais, podem ser uma forma de valorizar as habilidades desse aluno sem isolá-lo socialmente, uma vez que todos podem e devem participar também! Lembro de uma situação em que um aluno superdotado, tinha muito conhecimento sobre as Galáxias, Planetas e o Universo… sempre trazia livros, notícias e queria compartilhar com os amigos tudo o que sabia! Desse grande interesse, o Projeto de trabalho daquele grupo teve esse tema, o que contribuiu para que se sentisse inserido ao grupo, como um importante integrante!

Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga - Um aluno superdotado e que possui uma interação com todos os alunos também sofre discriminação por seu comportamento. Seus trabalhos são melhores, suas provas e notas são as melhores, veja só, nós estamos fazendo o caminho inverso, onde o destaque não consegue se destacar na sua maioria mediana. É isso, um aluno com maior capacidade de aprendizado também precisa de uma rede de apoio ou ele acaba tendo que frear seus conhecimentos, limitar suas atividades, pois não haverá professor disponível para acompanhá-lo. Ele vai ser obrigado a aguardar pelo momento que toda sala puder acompanhar. Isso é uma limitação encontrada na maioria das escolas públicas ou privadas. Se uma criança for exigente, ela vai precisar aguardar, se uma criança se atrasar no conteúdo, ela vai perder. Parece que a conta nunca fecha. É preciso aprimorar os conhecimentos de professores e coordenadores para que se sintam mais capacitados a receber esses alunos.

Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista- As crianças e adolescentes com altas habilidades nem sempre são mais maduras. A gente precisa entender que o que a gente pode imaginar que seja uma característica muito positiva dessa criança - na verdade essa criança tem uma diferença em relação à média – não significa que essa criança não vá precisar de apoio também. Talvez sejam necessários materiais diferentes e talvez ela precise ser estimulada de outra forma. Então essa criança também precisa de uma atenção por parte da escola e por parte dos pais. Se essa criança começar a ser estigmatizada ou se tiver alguma questão com os colegas, é importante que a escola trabalhe isso e sempre possa incluir a diferença na convivência e realizar atividades para mostrar para as crianças que as diferenças fazem parte do mundo, da vida e precisamos aprender a conviver com elas.

Um aluno que é tímido e não consegue fazer amizades:

Iara Souza, psicóloga clínica - Abordar a timidez da criança não como uma questão ruim, mas como uma característica! Conversar sobre individualidade e que mudanças são bem-vindas e podem ajudar! Falar sobre os benefícios de interagir e de como fazer amizades pode ser muito legal, criar um ambiente acolhedor e encorajador em casa e na escola. Incentivar a criança a participar de atividades sociais, promover a autoconfiança e desenvolver habilidades sociais podem ser estratégias eficazes. Além disso, buscar a ajuda de um psicólogo pode ser útil para entender as causas da timidez e desenvolver estratégias específicas para ajudar a criança a se socializar e fazer novas amizades.

Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga - Para um aluno tímido que possui dificuldade de interação, de relacionamentos com outros alunos é também muito difícil quando não há apoio do professor. Imagine o quanto essa criança sofre se for lhe perguntado algo, ou como ela deve se sentir ansiosa por medo de ser chamada na frente da sala, ou lhe ser feita qualquer pergunta onde ela sabe que os amiguinhos vão rir dela. Os professores não têm tempo suficiente de realizar tarefas individuais com essa criança e acabam expondo e isso é significativamente prejudicial. Sintomas físicos mais comum que destacam o emocional de uma criança extremamente tímida muitas vezes é a sudorese, tremor nas mãos e pernas, diarreia ou enurese miccional, que é a condição da criança fazer xixi na roupa por medo. Lembrando que esses sintomas podem gerar traumas muitas vezes irreversíveis para essa criança. E gera, automaticamente, um desconforto, precisando até mudar a escola para não sofrer com os gatilhos emocionais.

Rachel Mendes, pedagoga especialista da 1Manas -  A formação de pequenos grupos para projetos pode ajudar alunos tímidos a interagir de forma mais confortável, sem a pressão de falar diante de toda turma. É importante encorajar o aluno a realização e participação das atividades de interesse a fim de favorecer o relacionamento com outras crianças com interesse em comum. Oferecer um ambiente acolhedor e reforçar positivamente as tentativas e interação também são estratégias para que o aluno tímido se sinta confortável e confiante para construir relacionamentos.

Um aluno que é demasiadamente infantil e é ridicularizado pelos colegas:

Iara Souza, psicóloga clínica - Para ajudar esse filhp é importante lembrar que cada criança se desenvolve em seu próprio ritmo. É importante refletir quais os incentivos e cenários que a criança tem sido exposta. Incentivar a expressão da sua autenticidade e criatividade. Se comunicar com a criança de forma adequada para a idade, incluindo autonomia e pequenas responsabilidades contribuem para o avanço de fases sem a culpa pela fase anterior. O apego dos pais em algumas situações pode alimentar o comportamento infantilizado, muitas vezes até em adultos.

Marina Makul, pedagoga especialista da 1Manas – O professor precisa estar atento e deve intervir imediatamente para impedir qualquer comportamento de ridicularização. Promover atividades que valorizem as características positivas de cada aluno e que ensinem respeito à qualquer diversidade é fundamental. É um processo que demanda investimento e cuidado… envolve se perceber (pouco a pouco), construir autoimagem, autoconfiança e autoestima. Acho importante que essa criança e seus pais também recebam apoio emocional para lidar com a situação e busquem juntos possibilidades de tornar essa convivência mais agradável! A escola deve ter uma política clara contra o bullying e educar todos os alunos sobre empatia e respeito.

Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista - Essa é uma pergunta muito interessante porque quando uma criança está infantilizada, é papel da escola alertar os pais da situação e é muito importante que os pais repensem a sua relação com essa criança para poder dar mais autonomia para essa criança e poder incentivar o crescimento dessa criança, liberando-a para crescer. Em algumas situações os pais têm dificuldade em ver os filhos crescerem e vão segurando alguns comportamentos mais infantilizados e isso vai alterando o comportamento da criança. Normalmente quando a criança está infantilizada, isso tem a ver com a forma como a criança é tratada na família. Então, nesses casos, é importante que os pais possam refletir e começar a incentivar o amadurecimento dos seus filhos.

Um aluno fora do padrão corporal que não consegue acompanhar as atividades físicas e que sofre com o deboche dos colegas:

Iara Souza, psicóloga clínica - Quando uma criança enfrenta dificuldades por estar fora do padrão corporal e sofre com deboches dos colegas devido à sua dificuldade em acompanhar atividades físicas, é essencial adotar uma abordagem sensível. É importante conversar abertamente com a criança sobre seus sentimentos, oferecendo apoio e criando um espaço seguro para ela expressar suas emoções. Além disso, envolver a escola é fundamental para assegurar que o ambiente seja mais respeitoso e inclusivo, com iniciativas anti-bullying e a valorização de diferentes habilidades. Fortalecer a autoestima da criança, lembrando-a de suas qualidades e conquistas além do físico, também é crucial. Se necessário, o apoio de psicólogos pode ser útil para lidar com o bullying e fortalecer a resiliência emocional. Por fim, incentivar a criança a participar de atividades físicas de forma prazerosa, sem pressão, ajudará a focar no bem-estar e na diversão, em vez de apenas no desempenho.

Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga - Uma criança com questões de obesidade ou fora do padrão de outras crianças da sua mesma idade sofre preconceito até mesmo na própria casa, vindo dos próprios pais. Exemplos são frases preconceituosas que os pais falam, como “Para de comer senão você vai explodir”, “Você parece o porquinho do vizinho”, “Tá parecendo a Peppa Pig”, “Rolha de poço do papai”, “fofinho” e outros. A porcentagem dessa criança crescer com traumas de infância e sofrer bullying no colégio é enorme. Seus medos e ansiedades serão transformados em fome, essa fome misturada com ansiedade ou depressão toma outras proporções e, claro que no ambiente escolar e ou em qualquer outro ambiente, essa criança irá se sentir desconfortável. Isso irá gerar gatilhos para que ela ao invés de controlar a fome, aumente-a ainda mais. O famoso efeito cascata. De pequeno sofre e arrasta o sofrimento para todo lugar que estiver. Hoje, no Brasil, 9,4% de meninas possuem obesidade e 12,4% dos meninos são considerados obesos. No ambiente escolar eu costumo dizer que esse efeito cascata começa de casa. Pais obesos, sedentários, geram filhos obesos e sedentários. As palavras são maravilhosas, mas o exemplo arrasta multidões. E é isso que acontece. Claro que essa criança vai se alimentar mal, dormir mal, comer mal, sem exercícios e sem atividade física, o ambiente escolar é o primeiro lugar com maior frequência de sofrimento psíquico. Necessário atendimento especializado com psicóloga comportamental, rede de apoio com os pais, nutricionista e outros profissionais. Importante entender que para mudar essa criança é muito necessário mudar a mentalidade dos pais também. Reorganizar alimentação, regular o sono, praticar exercícios físicos, tudo isso faz parte do processo de cura dessa criança.

Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista - É importante que a gente possa ajudar as crianças a expandirem os padrões. E tanto a escola quanto a família devem ensinar a abrir os padrões e ensinar que a gente não comenta sobre o corpo de ninguém, que é preciso ter respeito pelo corpo das outras pessoas e não se comenta quem é mais alto, quem é mais baixo, quem é mais gordo, quem é mais magro, que isso não é algo a ser comentado, pois não é relevante. E quando um amigo não consegue realizar uma atividade, o melhor que a gente pode fazer é ajudar. Isso é um aprendizado que se vier desde cedo facilita muito a convivência.  É importante poder trabalhar nesse sentido, enfatizando que cada um é do seu jeito e tirar um pouco o peso das aparências e dos padrões corporais.

Um aluno que sofre racismo:

Iara Souza, psicóloga clínica - Lidar com o racismo contra uma criança é uma situação delicada que requer várias frentes de enfrentamento. Em primeiro lugar, é essencial conversar com a criança, escutar e validar suas emoções, deixando claro que ninguém merece ser tratado injustamente por causa da raça. Além disso, é importante reforçar com a criança o orgulho por sua herança cultural e histórica, promovendo uma imagem positiva de sua identidade, o que pode ajudar a fortalecer seu senso de autoestima e pertencimento. Em relação ao ambiente escolar, é crucial que os responsáveis procurem a escola diante de qualquer incidente de racismo, exigindo que a instituição garanta um ambiente seguro e inclusivo, com políticas efetivas contra a discriminação e o racismo, lembrando que racismo é crime e que a escola deve promover ações antifascistas. Também é necessário ensinar a criança a identificar comportamentos racistas e praticar formas apropriadas de resposta, para que ela saiba como lidar com situações semelhantes no futuro de maneira segura. Considerar o apoio de um psicólogo ou conselheiro especializado em questões de identidade racial e resiliência também pode ser uma boa estratégia para ajudar a criança a processar suas experiências de forma saudável. Por fim, é recomendável conectar a criança com grupos e atividades que celebrem a diversidade e promovam a inclusão, facilitando o contato com outras crianças e adultos que compartilhem ou respeitem sua identidade racial.

Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga - Uma criança que sofre racismo não só pratica outros tipos de preconceitos, como possui uma autoestima muito baixa. Ela se questiona o tempo todo sobre sua aparência e sobre suas capacidades. Hoje os colégios possuem mais cuidados com as questões de racismo e preconceitos, mas o grande detalhe é que isso deveria acontecer em casa. Essa conscientização deveria vir como um ensinamento dos pais, questões de caráter e personalidade. Alguém que pratica o preconceito é alguém que sofreu preconceito também. Essa visão ainda muito percebida, está inserida no nosso país. O preconceito nas escolas atinge um percentual de mais de 80% entre jovens e adolescentes. Essa luta ainda deve durar. O Ser humano ainda precisa evoluir muito para aprender a respeitar o outro na sua totalidade.

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