Aleitamento materno: conexão entre mãe e filho que atravessa os tempos - Mariana Salles

Amamentação: conexão ancestral e reflexões importantes no Agosto Dourado

Um pouco de histórias e informações necessárias para um aleitamento materno com rede de apoio e segurança para mães e filhos

Priscila Correia, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 17/08/2024, às 08h06

Desde tempos imemoriais, o aleitamento materno está enraizado na história e na cultura dos povos indígenas, que viam a amamentação como uma extensão natural da vida e uma expressão de conexão com a Terra. Naquelas sociedades, o leite materno era considerado um alimento sagrado, vital para o crescimento e a saúde das crianças, sendo fornecido até que elas estivessem prontas para a próxima fase de desenvolvimento.

Essa prática, profundamente harmoniosa com a natureza, mostrava como o corpo da mulher era celebrado como fonte de nutrição e continuidade da vida. A relação entre mãe e filho, mediada pelo aleitamento, era vista como um ato de pura humanidade, um reflexo da interdependência com o meio ambiente.

Contudo, ao longo dos séculos, a interferência de práticas ocidentais, a introdução de fórmulas infantis e a medicalização do parto e da amamentação alteraram essa relação natural. O que era uma prática imbuída de significado e espiritualidade tornou-se, em muitos casos, uma fonte de dor e sobrecarga para as mulheres modernas, que enfrentam desafios como a falta de apoio, pressões sociais e complicações físicas.

O Agosto Dourado, mês dedicado à conscientização sobre a importância do aleitamento materno, traz anualmente a oportunidade de refletir sobre essas questões. Então, na coluna de hoje, que tal resgatarmos a ancestralidade da amamentação, reconhecendo-a não apenas como um ato de nutrir, mas como uma expressão de nossa ligação com a Terra e com as gerações passadas? Ao valorizarmos essa prática, podemos também buscar formas de aliviar as dores e os desafios que muitas mulheres enfrentam hoje, valorizando o aleitamento como uma experiência integral e digna de apoio e respeito.

Alimento político

Você certamente já ouviu alguém dizer que o ato de amamentar é muito mais do que dar alimento para uma criança – inclusive, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, lançado pelo Ministério da Saúde em 2019, fala exatamente sobre isso: “Se fosse possível dizer em uma frase por que o leite materno e a amamentação são tão importantes, a frase seria ‘amamentar é muito mais do que alimentar uma criança’. O leite materno é o primeiro contato das crianças pequenas com uma comida de verdade e o período da amamentação é especial, cercado de afeto e cuidado”.

A maioria das pessoas, é claro, sabe sobre os benefícios da amamentação para a saúde física e emocional da mãe e do filho. Entretanto, essa “conclusão” positiva sobre tudo que o aleitamento pode proporcionar para ambos somente foi possível pela união de indivíduos e entidades comprometidas em promover a qualidade de vida das famílias e combater a desnutrição infantil, que foi muito impulsionada pelo crescimento no mercado de fórmulas de leite industrializadas e compostos lácteos.

A importância da amamentação faz parte da literatura, pelo menos, desde a sociedade mesopotâmica, por volta de XVIII a.C. – em documentos dessa época já forma encontrados relatos sobre desmame e das amas de leite; e há registros também em partes da Bíblia e papéis egípcios, gregos, romanos. Mas especificamente no Brasil, há estudos que mostram, por aqui, quando os portugueses chegaram em 1500, encontraram indígenas que tinham o hábito amamentar seus filhos. Mas assim como aconteceu em vários setores daquela época, esta tradição local também foi enfraquecida pela chegada dos europeus - entre os índios, o aleitamento chegava até os 2 anos de idade da criança. Além disso, como os recém chegados alimentavam seus filhos com uma mistura leite com carboidratos, “instituíram” o mesmo para o resto da população . O resultado? Um aumento significativo da taxa de mortalidade infantil.

Mas o aleitamento materno por aqui teria uma fase ainda mais, digamos, obscura: com a taxa de mortalidade aumentando e as famílias sentindo suas perdas, a importância do aleitamento materno voltou a ser o foco. Entretanto, estamos falando de um período escravocrata, quando mulheres negras apenas serviam. E assim foram criadas as amas de leite. No mesmo período, um movimento surgiu, partindo de médicos, para defender o aleitamento realizado pelas mães, sugerindo que o leite das escravas era inferior porque negras eram inferiores e poderiam, inclusive, transmitir qualidade morais menores aos bebês, mudando inclusive o seu caráter. Esse movimento, logicamente, fez novamente a taxa de aleitamento cair. Logo depois, com as mulheres começando a entrar no mercado de trabalho, mais um distanciamento entre mae e filho acabou sendo gerado. E, coincidentemente, neste mesmo período, a indústria de alimentos começou a criar substitutos para o leite materno. E os médicos que antes criticavam o aleitamento por amas de leite, adivinhem, deram seu aval para essa indústria.

Os anúncios dessa época, é claro, apenas falavam sobre as maravilhas do alimento completo e ao alcance de todos. Além disso, com ele as mulheres poderiam trabalhar sem “culpa” por não poderem alimentar seus filhos. Afinal, havia leite em todas as prateleiras e seios passaram a ser quase secundários. Ou seja, nos fizeram acreditar, por um lado, que eramos totalmente substituives, que os laços criados com nossos filhos no momento de amamentar já que eram “necessários”, e assim afetando nosso emocional e o vínculos com os pequenos; e, por outro, que poderíamos nos dedicas ao trabalho, vender nossa força de trabalho, que não era preciso ter culpa. E, então, de novo, as taxas de aleitamento despencaram. Junto à isso, uma realidade ainda mais cruel: em uma país em que saneamento básico é quase um luxo, para fazer as tais fórmulas, muitas vezes, eram utilizadas agua sem tratamento. E então, crianças que já tinham um déficit por não receber leite materno, ainda tomavam “leite” com água inadequada no preparo, desencadeando sérios riscos para a saúde das crianças, como diarreia, problema de desenvolvimento e crescimento, doenças respiratórias e aumento da mortalidade infantil.

Apenas nos anos 70 do século passado, com a mortalidade infantil crescendo, é que começaram a surgir estudos apontando os benefícios do aleitamento materno. Além de pesquisas, o governo começou a agir, inclusive proibindo a distribuição de leite em pó em hospitais e criando o que conhecemos hoje como os bancos de leite humano, que beneficiam milhares de bebês prematuros. Foi nesse época também que as mulheres conquistaram o direito a 120 dias de licença maternidade e que o Conselho Nacional de Saúde publicou a Norma de Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL), com diretrizes sobre a propaganda e a rotulagem de produtos voltados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade. Já nos anos 90, houve a publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pela lei federal n° 8.069 garante que toda criança tem direito ao aleitamento materno. Já em 1994, nasceu a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, uma certificação de qualidade conferida aos hospitais que cumprem os passos para o sucesso do aleitamento materno, que ajuda a incentivar a permanência da mãe e do pai junto à criança e o aleitamento na primeira hora de vida.

Já dos anos 2000 para cá, novas políticas públicas sobre o aleitamento materno foram criadas, como a regulamentação sobre a venda e o marketing de alimentos industrializados; definição dos parâmetros para a criação de salas de apoio nos ambientes de trabalho; criação do Agosto Dourado, quando se comemora a Semana Mundial do Aleitamento Materno, com cursos, palestras e outras ações que promovem o tema.

Em 2024, as organizações WABA (Word Alliance for Breastfeeding Action), que é uma rede global de indivíduos e organizações dedicadas à proteção, promoção e apoio à amamentação em todo o mundo, e a IBFAN Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – International Baby Food Action Network), que têm lutado por um mundo sem pressões comerciais, para que as mulheres possam tomar decisões informadas quanto à alimentação infantil de forma adequada trazem como tema deste ano, no Agosto Dourado, o “Apoio à amamentação em todas as situações”, reduzindo as desigualdades.

Segundo estas instituições, a SMAM (Semana Mundial da Amamentação) está apoiada em 4 pilares que são: Informar - sobre as desigualdades existentes no apoio à amamentação e sobre os seus indicadores; Promover - ações para reduzir as desigualdades no apoio à amamentação com foco em grupos de apoio; Consolidar - a amamentação como um fator que contribui para diminuir as diferenças na sociedade; Envolver - líderes como pessoas e organizações para colaborar e apoiar a amamentação. E dentre as situações em que as lactantes devem ser apoiadas, temos as mulheres que trabalham de maneira formal e informal na volta ao trabalho; as mães de prematuros; nas crises climáticas (enchentes, tufões, terremotos etc.); nas diferenças de gênero e raça e várias outras situações cujo apoio é fundamental para que o aleitamento materno seja exclusivo até o sexto mês e complementado até dois anos ou mais, segundo a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, segundo o último Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), o índice de aleitamento materno exclusivo em crianças menores de 6 meses foi de 45,8%. A expectativa é que esse número chegue a 79% até 20230.

“Pílulas” sobre amamentação

É preciso lembrar que se hoje as informações que chegam até a população já não deixam dúvidas sobre a importância do amamentar, a realidade para colocar em pratica ainda é bastante diferente entre as mulheres. Enquanto algumas têm rede de apoio, acesso aos mais variados benefícios nas empresas empregadoras, médicos e demais profissionais da área de saúde para ajudar nesse momento e uma família; outras precisam se equilibrar entre os cuidados com os filhos, empregos informais, maternidade solo e as vezes nenhum apoio externo.

Por isso, a seguir, separamos por tópicos informações importantes que podem ajudar o amamentar de cada mulher, que se encontram em diferentes situações.

A Hora de Ouro – Como já falamos, o leite materno é um alimento essencial para o desenvolvimento dos bebês, principalmente, nos primeiros meses de vida. Conhecida como "hora de ouro", o aleitamento realizado na primeira hora de vida do recém-nascido é essencial para garantir seu desenvolvimento e bem-estar, contribuindo, também, com a saúde da mulher. “Além de proteger contra infecções respiratórias e alergias, o leite materno favorece o desenvolvimento cognitivo do bebê e evita o risco de doenças crônicas, como a hipertensão e diabetes” explica Yara Leite, Gerente de Enfermagem do Hospital Bom Pastor. Para a mãe, a prática de amamentar traz diversos benefícios. “Amamentar reduz os riscos de hemorragia pós-parto, diminui as chances de desenvolver câncer de mama, ovário e colo do útero e fortalece o vínculo entre mãe e bebê no contato pele a pele”, completa a profissional. Os benefícios, é claro, são muitos, como aumentar o vínculo afetivo entre mãe e filho; ajudar a controlar a pressão arterial que, se estiver alta, pode evoluir para complicações graves como a eclâmpsia, síndrome de Hellp e problemas cardiovasculares; diminuir os índices de depressão pós-parto; favorecer a colonização do bebê por bactérias boas da mãe, que ajudam na proteção da criança; reduzir as chances de hipoglicemia (glicose baixa) e de hipotermia (queda brusca de temperatura corporal, especialmente nos bebês); melhorar a imunidade dos bebês, diminuindo o risco de alergias futuras; regular os batimentos cardíacos do bebê, ajudando a diminuir o choro e o estresse.

Amamentação e prematuridade - De acordo com resultados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) do Ministério da Saúde de 2019 onde foram avaliadas 14.558 crianças menores de cinco anos, 52,1% das crianças brasileiras continuam sendo amamentadas no primeiro ano de vida. Entre as menores de seis meses o índice de amamentação exclusiva é de 45,8%. Dados mostram que o país ainda está abaixo da média mundial atual e também da meta a ser atingida até 2030. Quando se trata de bebês prematuros, as dificuldades são ainda maiores. Hoje a prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil no Brasil. O país é o décimo no ranking mundial da prematuridade, no qual mais de 12% dos partos realizados são de prematuros. Neste sentido, a Associação Brasileira de Pais e Familiares de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, reforça o papel essencial que a amamentação e o leite materno têm para a saúde dos prematuros, com impacto positivo para o seu crescimento e desenvolvimento saudável, além da qualidade de vida durante a primeira infância até a fase adulta, evitando doenças como diabetes e hipertensão, entre outras. “O leite materno das mães de prematuros é diferente do leite produzido pelas mães de bebês que nascem a termo, principalmente no que diz respeito à quantidade de proteínas, calorias e fatores de proteção. A amamentação do prematuro, além de fortalecer o vínculo mãe-filho, muitas vezes abalado por longas permanências na UTI Neonatal, é responsável por favorecer a maturação gastrointestinal e aumentar desempenho neuropsicomotor dessas crianças”, explica a nutricionista Simone Saldibia que também é coordenadora do conselho científico da ONG Prematuridade.com. Comprometida com a causa, a entidade apoia a ideia de que todos tenham suporte e oportunidade para amamentar, sendo fundamental que ninguém fique para trás, principalmente as mães vulneráveis e de prematuros que podem precisar de amparo adicional para a prática da amamentação. “A amamentação é um direito e uma necessidade fundamental para a saúde das crianças, especialmente dos bebês prematuros. A conscientização e o apoio à prática, tanto no ambiente de trabalho quanto na sociedade em geral, são essenciais para garantir que todas as mães possam amamentar seus filhos de forma segura e saudável.”, salienta Simone.

Benefícios comprovados - A pediatra Patty Terrível explica que o leite materno protege contra diarreias, infecções respiratórias e alergias. Também diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes, além de reduzir a chance de desenvolver obesidade. Ainda de acordo com a especialista em amamentação, crianças amamentadas no peito são mais inteligentes, há evidências de que o aleitamento materno contribui para o desenvolvimento cognitivo. “O ideal da amamentação são seis meses exclusivos e complementado pelo menos por 2 anos”, completou Patty.

Sono de mães e bebês – Manter o dono em dia fundamental para mães e bebês. E um detalhe que poucos se atentam é sobre a questão da iluminação nesses momentos. A luz adequada pode influenciar diretamente na qualidade do sono e na produção de melatonina, tanto para a mãe quanto para o bebê. Adriana Tedesco, Naturopata e Especialista em Iluminação Saudável, explica como a luz elétrica pode ser utilizada para criar um ambiente propício para a amamentação. "Até cerca de três meses de idade, os bebês dependem totalmente da melatonina presente no leite materno, que é produzida pela mãe. Durante esse período, a ambiência luminosa recebida pela mãe é essencial para que ela produza e sintetize melatonina de forma adequada, influenciando o ciclo circadiano do bebê," diz Adriana. "É importante criar um ambiente luminoso adequado para a amamentação noturna, com menos de 10 lux no ambiente até três horas antes desse momento. A iluminação âmbar, que tem ação calmante, deve ser utilizada de forma indireta, vinda do teto, e com a menor intensidade possível”. Além disso, após os três meses de idade, o bebê começa a produzir sua própria melatonina, mas a preocupação com o ciclo circadiano continua. "Expor o bebê à luz natural logo pela manhã ajuda a regular seu ciclo e a garantir uma boa qualidade de sono à noite. Durante a noite, o quarto do bebê deve estar completamente escuro ou com uma iluminação mínima, como um balizador âmbar jogando luz para o chão, para que a produção de melatonina não seja prejudicada”. Adriana também alerta contra o uso de brinquedos com luzes de LED que projetam estrelas ou desenhos no teto durante a noite, pois esses emitem espectro de luz azul, que pode interferir no sono do bebê. "Esses brinquedos podem ser utilizados durante o dia, mas à noite é importante que o bebê durma sem nenhum estímulo luminoso”. Além da iluminação, outros fatores devem ser considerados para criar um ambiente adequado para a amamentação e o sono do bebê, como um ambiente com um cheiro suave e sons da natureza. Outra dica é a dimerização da luz ou o uso de automação para controlar a intensidade da iluminação no quarto do bebê. A rotina de exposição à luz natural pela manhã é outra recomendação importante. "Se a casa não tem boa iluminação natural, a mãe pode levar o bebê até a janela ou fazer um passeio matinal para garantir que ele receba a luz natural necessária. Isso ajuda a regular o ciclo circadiano do bebê, melhorando a qualidade do sono noturno". E não se pode esquecer, é claro, de evitar o uso de aparelhos eletrônicos, como celulares e tablets.

Rede de apoio - A rede de apoio é essencial no sucesso da amamentação e pode ajudar de diversas maneiras, como no suporte emocional, na ajuda com tarefas práticas e troca de experiências. “Pessoas próximas podem estar presentes neste momento oferecendo suporte emocional, ouvindo as preocupações da mãe e oferecendo encorajamento e palavras de conforto que ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, criando um ambiente mais tranquilo para a amamentação.”, explica Flávia Puccini, fonoaudióloga, consultora de amamentação e especialista da Philips Avent. Ter suporte de uma rede de apoio é fundamental para que a mãe possa cuidar de si mesma. Segundo dados de pesquisas realizadas no Brasil por Philips Avent, 2 em cada 3 mães têm menos de 1 hora livre por dia. Diante dessa rotina sobrecarregada, contar com a presença de familiares e amigos no dia a dia dos pequenos traz também benefícios para as mães, que podem desfrutar de mais momentos de bem-estar e autocuidado. “Muitos esquecem que essa mulher acabou de passar por um parto, um procedimento que também exige um tempo de recuperação. Ela precisa ter tempo para descansar e se recuperar adequadamente. Além da recuperação, tem a amamentação, que gera uma demanda imensa da mãe e todos os hormônios envolvidos que geram sentimentos muito intensos nessa fase. Portanto, é importante que mães e rede de apoio possam dividir tarefas comuns do dia a dia, como preparação das refeições, limpeza da casa e cuidado com outras crianças da família, permitindo que ela possa se concentrar na amamentação e ter mais tempo para o autocuidado.”, conclui a especialista.

Pertencimento pela leitura - A literatura pode ser uma excelente forma de se informar e perceber que as angustias desse momento são comuns a outras mulheres. A maternidade contemporânea é marcada por múltiplas jornadas e altos níveis de exigência e performance, o que leva as mães ao adoecimento. Em “Cuide-se Pra Cuidar”, publicação da Hanoi Editora, a analista de Perfil Comportamental e de Percepção Infantil Laura Schwengber convida este público a refletir sobre a importância do autocuidado como imperativo para a saúde mental. Mãe de quatro filhos, a especialista questiona crenças e papéis de gênero atribuídos às mulheres na maternidade e encoraja o público feminino a nadar contra a maré de pressões. O objetivo é estabelecer diálogos honestos e respeitosos sobre os desafios enfrentados no dia a dia para reduzir o sofrimento. O livro reúne, além da experiência da autora, dicas práticas para ativar a “farmácia interna” que cada uma possui. Esse processo de cura acontece com a liberação de hormônios produzidos naturalmente pelo organismo para regular positivamente os sentimentos. O exercício de autoperdão é um dos primeiros tópicos abordados por Laura, porque compreender-se, acolher-se e perdoar-se são atitudes essenciais na jornada da maternidade. Com escrita sensível e feeling da formação como jornalista, a autora expõe sabotadores e aborda a importância de mudar a mentalidade diante dos desafios. Ao longo dos capítulos, ela toca em pontos sensíveis como sobrecarga, autorresponsabilidade, relacionamento, vida profissional e família. Laura Schwengber ainda ajuda mulheres a deixarem o cotidiano mais leve e a transformarem suas difíceis e cansativas rotinas. “Cuide-se Pra Cuidar” tem uma importante mensagem às mães: a maternidade não é uma corrida para ver quem alcança mais rápido a linha de chegada. Tampouco é um cabo de guerra entre quem se doa ao extremo e abre mão de si mesma em nome dos filhos e quem segue a vida quase como se nada tivesse acontecido após o nascimento deles. A obra ensina que é preciso encarar essa incrível missão sem pretensão de se tornar uma super-heroína. Para comprar, acesse Amazon

Mitos e verdades da amamentação

Toda mulher, ao engravidar ou ter filhos, já escutou conselhos sobre o seu amamentar, de dicas caseiras até listas do que não deve fazer. Mas, afinal, o que é mito ou verdade dentro dessas “crenças populares”?

Segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP e médico do Hospital Albert Einstein, muitas mães ainda enfrentam desafios na amamentação, apesar dos benefícios comprovados. “Ainda que seja fundamental orientar a mulher sobre a amamentação no pré-natal, não são todos os médicos que o fazem. Somando a desinformação ao estado emocional mais vulnerável e à falta de apoio social, a mãe acaba se sentindo pressionada e acuada, comprometendo ainda mais a amamentação”, lamenta o especialista.

Considerando este cenário, especialistas reuniram 7 desinformações que invalidam a amamentação como um ato natural da maternidade, desestimulando a prática:

A fórmula infantil é tão completa quanto o leite materno – Mito. Rico em anticorpos, o leite materno é o único que aumenta a imunidade da criança, ajuda a combater alergias e infecções respiratórias, além de diminuir riscos de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão. Até mesmo o neurodesenvolvimento do bebê tem impacto com a amamentação: em um estudo, pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, concluíram que o mio-inositol, uma molécula encontrada no leite materno, está diretamente ligada à formação das conexões neurais dos bebês. “Ou seja, somente o leite materno pode prover estes benefícios à criança”, reforça Carlos Moraes.

Amamentar na primeira hora de vida é indiferente à saúde do bebê – Mito. O aleitamento materno na primeira hora de vida é fator protetor contra a mortalidade neonatal. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), quanto mais se atrasa o início da amamentação, maior é o risco de morte no primeiro mês de vida. “Atrasar o aleitamento materno entre 2 e 23 horas após o nascimento do bebê eleva em 40% o risco de morte nos primeiros 28 dias de vida. Já o atraso de 24 horas ou mais aumenta esse risco em 80%”, alerta Carlos Moraes.

É necessário amamentar de 3 em 3 horas – Mito. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), não é obrigatório estabelecer um horário fixo para a amamentação: o recomendado pela instituição é que o bebê seja amamentado em livre demanda, isto é, sem restrições de horários e de duração da mamada. “Nos primeiros meses de vida, inclusive, a frequência costuma ser maior e com horários mais irregulares”.

A amamentação afeta a intimidade do casal – Depende. Segundo uma revisão de estudos entre mulheres que voltaram a ter relações sexuais até 6 semanas após o parto, 58,2% delas não amamentaram, contra 38,7% das que amamentaram. Conforme Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e membro da SBRASH; é comum que a fase da amamentação, cheia de oscilações hormonais e emocionais, afete o lado sexual da mulher, que acaba se concentrando mais no papel de mãe do que de esposa. “Daí, cabe ao casal perceber a necessidade de nutrir e cultivar sua relação, seja com momentos de beijos e carícias, ou mesmo com um filme a dois durante o sono do bebê. Ou seja, amamentar a criança jamais será motivo de perda da intimidade, se o casal souber preservar sua conexão”, pontua Claudia Petry.

Quando congelado, o leite materno perde nutrientes – Mito. Congelar o próprio leite é um hábito muito comum, principalmente quando a mulher volta a trabalhar ou mesmo em caso de ingurgitamento mamário. No entanto, o processo requer cuidados. “O leite retirado, cuja duração é de até 15 dias, precisa ser guardado em frasco de vidro que tenha tampa de plástico. A higienização correta é feita com água fervente no recipiente por 15 minutos, seguida de secagem com pano limpo e repouso para que seque por completo, de modo natural”, explica Carlos Moraes. Outra dica importante, segundo ele, é usar a tampa do frasco para anotar o dia e a hora que o leite foi tirado. “Ao oferecer para o bebê, o leite deve ser descongelado em banho-maria, sem ferver, apenas esquentando a ponto de tirar o gelo. Lembrando que, uma vez descongelado, o leite não deve ser congelado novamente”.

A prótese de silicone atrapalha a amamentação – Depende. De acordo com Luís Maatz, cirurgião plástico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), o silicone utilizado atualmente é composto por um material biocompatível, possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente. “O ideal é que a prótese seja colocada via inframamária (incisão embaixo das mamas), ou pela via axilar, não havendo cortes na glândula nem nos ductos mamários. Dessa forma, seja na produção do leite como no seu trajeto ao mamilo, não há contato direto com a prótese”.

Quem fez redução de mama não pode amamentar – Depende. Segundo Luís Maatz, que também é cirurgião de Reconstrução Mamária no Hospital Sírio-Libanês, na maior parte dos casos, as dúvidas relacionadas à redução mamária e à amamentação surgem por conta do corte de determinados ductos mamários. “Entretanto, a formação de novos ductos ocorre posteriormente. Quanto maior o intervalo entre a mamoplastia e o período de amamentação, maior a probabilidade de poder amamentar normalmente”, esclarece Maatz.

Para superar os desafios, é essencial que as mães recebam apoio adequado de familiares, profissionais de saúde e da sociedade como um todo. “Campanhas de conscientização, políticas públicas favoráveis e ambientes de trabalho que respeitem as necessidades das lactantes são fundamentais para promover e sustentar a prática da amamentação”, pontua Carlos Moraes.

A pediatra Patty Terrível fala, ainda, sobre algo que muito se escuta, que amamentar é instintivo. “É um mito. Portanto, amamentar exige dedicação e preparo, é um aprendizado para a mãe e para o bebê, vai exigir muito mais do que adaptações fisiológicas da mulher, requer calma e paciência no início. É importante que a mulher busque informações durante o Pré-natal e conte com uma rede de apoio bem estruturada, pois os benefícios compensam o esforço”, orienta. Além disso, lembra, não é preciso revezar os seios durante a amamentação. “O ideal é esgotar o leite de uma mama primeiro, para só então trocar, se o bebê ainda tiver fome. Isso é importante pois assim o bebê consegue absorver uma porção do leite rica em açúcar e gordura que contribui na saciedade e ganho de peso”.

E Patty traz outras considerações importantes: as situações de estresse e cansaço podem afetar a produção de leite. “No puerpério, a mãe vivencia, além de momentos de ansiedade, alteração do sono, do humor e estresse, fatores que implicam na diminuição da produção láctea. Contudo, neste aspecto, a mãe pode contar com uma rede de apoio e/ou um profissional da saúde para ajudar a enfrentar estes desafios”, diz. Outro ponto bastante comum é sobre a mulher que está amamentando não engravidar. “Mito. A amamentação influencia na fertilidade. Contudo, não é um método 100% seguro. Isso porque ao espaçar as mamadas pode ocorrer a ovulação, oportunizando a gravidez. É portanto recomendado que a mãe converse com seu médico sobre métodos contraceptivos indicados para o período”, esclarece.

Em tempo: Em comemoração ao Agosto Dourado, a ANS reforça a campanha de conscientização sobre o aleitamento materno e reafirma a importância das iniciativas em prol do incentivo à amamentação, conforme indicação da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

A hora de ouro é a primeira hora após o nascimento, que potencializa o sucesso do aleitamento para a mãe e o bebê. O contato entre eles imediatamente após o parto promove a continuação do vínculo que começou durante a gestação e ajuda o bebê nesta transição do útero para o mundo. Esse é o momento preferencial para que o recém-nascido receba sua primeira alimentação, o leite materno. A OMS, inclusive, orienta que os bebês recebam apenas leite materno até os seis meses de vida. Após esse período, a criança deve receber alimentos saudáveis, de acordo com a orientação do pediatra, mantendo a amamentação até os dois anos ou mais.

Entretanto, mesmo diante de tantos benefícios e amplos estudos e debates, barreiras como o desconhecimento de profissionais, que não promovem o aleitamento materno, crenças populares não comprovadas cientificamente, dificuldades enfrentadas pela lactante, entre outros fatores, podem resultar no desmame precoce de bebês. Nesse sentido, a ANS busca esclarecer alguns Mitos e Verdades sobre a amamentação.

Amamentação é um ato íntimo e deve ser feito apenas em lugares reservados?

Mito! A amamentação não é um ato íntimo e a mãe não precisa se privar desse momento: pode ser feita em qualquer lugar, a hora que quiser, pelo tempo que for necessário, sem que a mãe passe por qualquer tipo de constrangimento.

O leite materno é um superalimento?

Verdade! Na amamentação, o bebê recebe os anticorpos da mãe para proteção contra diversas doenças, tais como diarreia e infecções, principalmente as respiratórias. O risco de asma, diabetes e obesidade é menor em crianças amamentadas. A amamentação é um excelente exercício para o desenvolvimento dos ossos e músculos da face da criança, incluindo dentição, fala e respiração.

Muitas mulheres, especialmente as mães de primeira viagem, já ouviram a frase “seu leite é fraco”. Isso é verdade?

Mito! Não há leite materno fraco. É importante ressaltar que o leite materno contém todos os nutrientes de que a criança necessita, sendo o alimento ideal e exclusivo até o sexto mês de vida e recomendado até os dois anos ou mais. A ideia do leite fraco, ainda nos dias de hoje, continua sendo uma das principais causas da complementação precoce.

A amamentação é uma grande aliada para a saúde do bebê?

Verdade! O colostro é o primeiro leite que a mulher produz quando começa a amamentar. É altamente concentrado, repleto de proteínas e rico em nutrientes – por isso, mesmo uma pequena quantidade, pode fazer toda a diferença no estômago do bebê. Ainda combate infecções, ajuda no sistema imunológico, contribui para o funcionamento do intestino do bebê e previne contra a icterícia (condição que ocorre quando as células vermelhas do sangue quebram, levando o bebê a produzir bilirrubina, substância amarelo-alaranjada de difícil eliminação, pois seu fígado não está totalmente desenvolvido). O colostro contém milhares de anticorpos e funciona como a “primeira vacina do bebê”, com repercussões para a vida toda.

Amamentar dói?

Mito! Amamentar não dói. É esperado que a mulher sinta certa sensibilidade no início, mas nada que a impeça de amamentar. Se ocorrer uma dor insuportável, rachaduras nos mamilos ou feridas, ela deve procurar um banco de leite humano em sua cidade ou serviço de saúde especializado em aleitamento materno para ajustar a pega do bebê, avaliar a língua e as técnicas de amamentação. Se estiver tudo certo, essa sensibilidade passa nos primeiros dias. Caso sinta qualquer desconforto, a mulher não deve hesitar em procurar ajuda especializada o mais rápido possível.

Amamentar tem efeitos contraceptivos?

Verdade! Sim, mas é temporário e a mãe precisa estar com o aleitamento exclusivo, sem mamadeira ou fórmula. Esse efeito ocorre pelo alto índice de prolactina (hormônio que estimula a produção do leite), fazendo com que a mulher não ovule e nem menstrue. A mulher que amamenta pode voltar a menstruar de dois meses a um ano após o parto.

Amamentar emagrece?

Mito! Amamentar pode queimar entre 500 e 700 calorias extras por dia. Apesar de ser uma quantidade expressiva, isso não significa que apenas amamentar ajudará a retornar ao peso anterior à gravidez.

A alimentação da mulher realmente influencia na qualidade do leite?

Verdade! A alimentação da mãe durante a amamentação deve conter alimentos in natura ou minimamente processados. No período de aleitamento materno, a mulher deve dar preferência a comidas feitas em casa e pratos que incluam alimentos naturais como frutas, legumes, verduras, arroz, feijão, carnes e ovos, ou seja, comer comida de verdade! Se a mãe tem uma alimentação saudável vai ajudar também na hora da introdução alimentar do bebê.

A prótese de silicone atrapalha a amamentação?

Mito! A prótese, em si, não impede a amamentação por não alterar a glândula responsável pela produção do leite. O problema pode ocorrer no tipo de cirurgia escolhida, que envolve o local do corte e a região onde o implante é colocado.

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