A princípio, a frase “fome ou vontade de comer” pode soar estranha. Afinal, são sinônimos — logo, têm o mesmo significado, certo? Na verdade, nem sempre. Apesar do objetivo em comum (a ingestão de comida) a origem é bem distinta. E essa diferença pode trazer prejuízos à saúde.
Mas antes de mais nada é preciso entender ambas situações. A fome fisiológica, a verdadeira, é uma resposta do corpo à necessidade de se alimentar. Enquanto a fome psicológica, ou fome emocional, é desencadeada por aspectos emocionais, como raiva, tristeza, ansiedade, angústia e até felicidade.
Para exemplificar, não faltam casos do dia a dia que se enquadram. O horário do almoço está chegando e ouviu um barulhinho na barriga? É fome. Por outro lado, aquele desejo insaciável de comer um chocolate após a refeição é apenas vontade de comer.
Porém, esta não é a única maneira de saber se o que você está sentindo é fome ou vontade de comer. Para entender mais, AnaMaria conversou com psicóloga Valeska Bassan, especialista em transtornos alimentares, que detalhou a fome psicológica.
Inicialmente, a especialista reforça que é “completamente normal” sentir apenas a vontade de comer, ainda que alimentos de baixo valor nutricional, e ceder à tentação. E a atitude, quando isolada, nem mesmo é prejudicial. Porém, há casos em que a fome psicológica passa a ter efeitos negativos, quando a comida é utilizada para gerir emoções. Ela cita as principais alterações:
- Comer compulsivamente;
- Hábitos alimentares desregulados, como pular refeições ou comer de forma irregular;
- Torna-se um comportamento frequente;
- Substitui refeições nutritivas ou leva ao consumo excessivo de calorias.
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Fome ou vontade de comer?
Como diferenciar fome e vontade de comer? Os danos gerados pelos transtornos alimentares tornam a tarefa essencial. Para isso, é preciso ficar atento a uma série de fatores, como explica Bassan. Os mais comuns são a ausência de sinais físicos de fome ou a vontade mesmo após uma refeição completa.
Além destes, há também o desejo súbito por alimentos específicos. Por fim, é frequentemente associada ao sentimento de culpa ou arrependimento após comer. A psicóloga oferece um guia prático para entender os sentimentos:
- Sinal verde: se o estômago estiver vazio e emitir sons, é um indicativo de que é hora de se alimentar.
- Sinal amarelo: quando o desejo de comer não se direciona para alimentos nutritivos, como saladas ou frutas, e parece mais um capricho, é provavelmente só vontade de comer.
- Sinal vermelho: dor de cabeça resultante de longos períodos sem comer sugere que o melhor momento para se alimentar já passou, aumentando o risco de se entregar às tentações.
Para ela, reconhecer os sinais ajuda a gerenciar melhor a relação com a alimentação e buscar alternativas saudáveis para lidar com as emoções: “É um caminho inteligente para evitar cair em tentações desnecessárias que podem levar a transtornos alimentares”, acrescenta a especialista.
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Como lidar com a vontade de comer?
Normalmente, a vontade de comer é direcionada aos alimentos pouco nutritivos, doces ou gordurosos. De acordo com a psicóloga, isso ocorre por fatores biológicos e psicológicos. O cérebro deseja os deseja porque eles fornecem energia rápida e prazer imediato, ativando centros de recompensa do órgão.
Isso faz com que muitas pessoas associam esses alimentos ao conforto ou a recompensas, reforçando o hábito de buscá-los em momentos de estresse ou baixo ânimo: “A combinação de gratificação instantânea e condicionamento emocional torna doces e alimentos gordurosos tentadores”.
Um exemplo comum é a vontade de doces após uma decepção, amorosa ou profissional, por exemplo. Ao mesmo tempo, o desejo de pedir uma pizza ou hambúrguer para celebrar uma conquista pessoal, como a aprovação em uma prova importante. Em ambos os casos, configura-se vontade de comer.
Por isso, é importante aprender a lidar com ela. Segundo Bassan, a estratégia mais adequada é matar a vontade. Ela explica que pode ser mais eficaz permitir-se uma pequena quantidade do alimento desejado do que tentar substituí-lo por uma opção mais saudável que não atende ao desejo.
“Isso pode prevenir o consumo excessivo posterior do alimento desejado após já ter consumido outras opções. A chave é o equilíbrio e o consumo moderado, permitindo-se desfrutar de pequenas porções do que realmente se deseja, em vez de tentar substituir completamente e acabar comendo ambos”.
Porém, não é recomendado ceder à tentação com frequência. Para isso, a psicóloga explica que é preciso adotar técnicas mais conscientes, como observar os sinais do corpo e as circunstâncias que desencadeiam o desejo de comer — e assim aprender com eles. Outras estratégias:
- Práticas de mindfulness;
- Diminuir estresse, que é um gatilho comum para a fome emocional;
- Opções de lanches saudáveis e menos calóricos à disposição;
- Manter horários regulares de refeição para estabilizar a fome ao longo do dia;
- Em casos persistentes ou impactantes, buscar suporte profissional de psicólogo ou terapeuta;
Implementar essas estratégias pode fortalecer um relacionamento mais saudável com a alimentação e gerenciar efetivamente a fome psicológica, que é um fenômeno que afeta os indivíduos de maneira distintas. Ou seja, também precisa de tratamento individualizado.