A privação de sono é um problema sério que afeta milhões de pessoas, mas os danos causados por ela vão muito além do cansaço.
Estudos científicos têm mostrado que, principalmente em crianças e bebês, a falta de sono afeta diretamente a capacidade de concentração, aumenta a irritabilidade, prejudica o humor e interfere na aprendizagem.
Em muitos casos, os sinais dessa privação podem ser confundidos com diagnósticos equivocados, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Segundo um estudo da European Sleep Research Society, crianças privadas de sono demonstraram comportamentos hiperativos, explosões emocionais e maior dificuldade em se concentrar por longos períodos.
Esses sintomas são frequentemente interpretados como “birra” ou transtornos de comportamento, mas, na realidade, estão associados à falta de um sono de qualidade.
Sono e emoções: o papel da amígdala cerebral
Pesquisas recentes destacadas pela neurocientista Andréia Tambosi ressaltam o impacto da privação de sono na amígdala cerebral, a estrutura responsável por regular emoções intensas, como raiva e medo.
Um experimento monitorou dois grupos de participantes: um que dormiu a noite toda e outro que permaneceu acordado.
Ao expor esses indivíduos a imagens variadas – desde neutras, como uma cesta, até emocionais, como uma casa pegando fogo –, os pesquisadores observaram que a amígdala dos privados de sono apresentou uma ativação 60% maior.
Isso demonstra que a privação de sono intensifica as respostas emocionais, o que pode explicar por que crianças cansadas frequentemente apresentam crises de raiva ou comportamento desafiador. Elas não estão “fazendo birra” por escolha, mas sim reagindo à incapacidade de regular suas emoções devido à falta de descanso adequado.
A privação de sono e a genética
Outro dado alarmante, apontado por Andréia, é o impacto genético da privação de sono. Pesquisas mostram que a falta de descanso afeta a atividade de genes ligados à inflamação crônica e ao estresse celular.
Além disso, genes responsáveis por funções metabólicas e respostas imunológicas sofrem alterações negativas. Essa degradação genética não só prejudica a saúde do indivíduo, mas pode ser transmitida para as próximas gerações.
A importância da rotina do sono
Muitos dos problemas de comportamento diagnosticados em crianças podem ser solucionados com ajustes na rotina de sono.
Quando pais e cuidadores implementam horários consistentes para dormir, os sintomas de irritabilidade, dificuldade de concentração e hiperatividade frequentemente desaparecem, reforçando que o problema não era TDAH, mas sim a falta de descanso.
Promover uma rotina de sono saudável é essencial para o desenvolvimento físico e mental das crianças. É preciso observar os sinais de cansaço, estabelecer horários regulares e criar um ambiente propício para o descanso.
A privação de sono é um inimigo silencioso, cujos efeitos vão além do que imaginamos.
Garantir um sono de qualidade não é apenas uma questão de bem-estar imediato, mas um investimento na saúde e no equilíbrio emocional de longo prazo, especialmente para as gerações futuras.
