A inteligência artificial (IA) tem transformado a educação, oferecendo benefícios como a personalização do aprendizado e a automatização de tarefas administrativas. Ferramentas de IA podem adaptar materiais didáticos às necessidades de cada aluno e liberar mais tempo para os professores se dedicarem ao ensino. No entanto, a IA também apresenta desafios, como a dependência excessiva da tecnologia, que pode reduzir o desenvolvimento de habilidades críticas e analíticas dos alunos. Além disso, há preocupações sobre a privacidade dos dados coletados e a possibilidade de que a IA torne os estudantes mais passivos no aprendizado.
O uso de ferramentas como o ChatGPT para completar tarefas escolares pode levar à trapaça, comprometendo a integridade do processo educacional. Para garantir um equilíbrio, é essencial integrar a IA de maneira que complemente, e não substitua, os métodos tradicionais de ensino, promovendo a autonomia e a ética no aprendizado.
Os dois parágrafos acima, embora bastante didáticos, foram criados pelo Chat GPT. Assustador, não, pensar em uma máquina tendo uma linha de raciocínio tão linear? Sim, muito. Entretanto, ao que tudo indica, é uma realidade sem volta. Ferramentas como o ChatGPT e outros assistentes virtuais estão sendo utilizadas por crianças e adolescentes para auxiliar nos estudos, facilitando o acesso a informações e personalizando o aprendizado. No entanto, o uso da IA na educação também levanta questões importantes sobre dependência tecnológica, integridade acadêmica e desigualdade de acesso. Portanto, para ajudar a entender melhor o papel e benefícios dessas tecnologias, na matéria dessa semana vamos ponderar prós e contras do seu uso por crianças e adolescentes, em busca de uma solução saudável, inclusiva e honesta para todos.
A Educação com Inteligência Artificial
O uso de IA nas escolas ainda causa discussões acaloradas entre pais e professores. Mas é impossível negar que ela, de fato, está chegando – e para ficar.
O receio sobre o assunto, claro, é muito justificável, pois podem deixar os estudantes mais dependentes das respostas rápidas (que às vezes não são corretas, é preciso dizer); incentivar o plágio; aumentar a desigualdade de oportunidades, já que nem todos poderão ter acesso; entre outros problemas (abaixo, veja o nosso quadro de prós e contras). Entretanto, se voltarmos um pouco no tempo, perceberemos que esses medos, no final, acabaram caindo por terra. André Cia, especialista em IA, que defende a importância dessa tecnologia na educação, faz uma interessante comparação com a época da invenção das calculadoras. “A introdução da IA nas escolas brasileiras deve ser encarada com a mesma naturalidade com que as calculadoras foram incorporadas ao processo educacional. Inicialmente, havia protestos por parte dos educadores, pois se que isso prejudicaria a aprendizagem. No entanto, com o tempo, percebeu-se que as calculadoras eram aliadas no processo de ensino e aprendizagem”, comenta.
André diz, ainda, que a IA tem potencial para ser uma grande aliada na educação, contribuindo para a personalização do ensino e a melhoria da qualidade da aprendizagem. “A inteligência artificial pode ajudar a identificar as necessidades e preferências de cada aluno, adaptando o conteúdo e o ritmo de aprendizado. Isso permite uma abordagem muito mais eficiente e personalizada. Além disso, a IA pode desempenhar um papel importante na avaliação dos estudantes, oferecendo feedback instantâneo, avaliação mais justa e equitativa, e a possibilidade de criar avaliações mais adaptativas e personalizadas”, afirma. Para ele, a tecnologia não vai substituir o professor, mas complementar a atuação dos educadores. “A IA vem para somar, não para substituir. Os professores são insubstituíveis, pois possuem habilidades humanas e emocionais que nenhum algoritmo pode replicar. A inteligência artificial está aí para auxiliar, oferecendo recursos que facilitem o trabalho do educador e tornem a aprendizagem mais eficiente”, ressalta. E complementa: “Precisamos superar as resistências iniciais e enxergar as potencialidades que a inteligência artificial pode oferecer. A IA tem o poder de revolucionar a educação, e é nosso dever aproveitar essa oportunidade”.
O Educacional, Ecossistema de Tecnologia e Inovação, por exemplo, lançou uma versão evoluída da sua plataforma de ensino adaptativo, a Aprimora. A nova versão se destaca por ser a primeira plataforma brasileira de Língua Portuguesa e Matemática com foco em estudantes a utilizar inteligência artificial generativa. Ela também se diferencia por inserir os alunos em um ambiente lúdico no qual ele será o protagonista do processo de aprendizagem durante todo o ensino fundamental. Nessa jornada, o estudante é estimulado e recompensando a cada avanço, em uma dinâmica totalmente gamificada. A solução ainda conta com elementos de acessibilidade, como ajustes de fontes, LIBRAS e alto contraste. A interface do Aprimora 5.0 reproduz a cabine de controle de um submarino. Nela, o aluno tem uma visão panorâmica de seu processo educacional: cada ano escolar corresponde a uma ilha temática que o usuário deve explorar e na qual haverá desafios a serem resolvidos. O sucesso possibilita que cada estudante customize a ilha à sua própria maneira, o que potencializa e individualiza a experiência rumo às metas educacionais. A nova plataforma utiliza, ainda, a inteligência artificial generativa, no modelo de chat integrado, com tecnologia GPT, batizada como “MARIA” (Módulo de Assistência Remota com Inteligência Artificial), para apoiar os alunos na resolução de questões, no esclarecimento de dúvidas e na personalização do conteúdo. “Não estamos apenas lançando uma versão do Aprimora, mas sim uma jornada única de aprendizado em que a tecnologia está inserida de forma a potencializar o estudo, sem diminuir a necessidade do usuário buscar as informações”, afirma Martin Oyanguren, CEO do Educacional.
Uma questão de segurança
Para além dos benefícios ou não dessas ferramentas, um outro assunto bastante importante quando se fala sobre elas é em relação à segurança. Afinal, com tecnologias, brechas são sempre existentes e nem todos, especialmente crianças e adolescentes, têm esse cuidado para evitar vírus, programas espiões etc.
Para Leonardo Rocha, docente de TI do Marista Escola Social Ir. Acácio, em Londrina, o tema é amplo e exige uma discussão maior sobre o ponto de vista da segurança. “As novas tecnologias podem contribuir quando usadas corretamente no contexto educacional, mas é importante ressaltar que o cuidado passa por manter atualizações constantes, seja do celular, notebook ou tablet, assim como antivírus e recursos de segurança para que os pais possam conferir o conteúdo acessado na internet”.
A seguir, o especialista dá dicas de como manter uma internet segura para crianças e adolescentes
– Mantenha o diálogo sobre o que é acessado, converse sobre os aplicativos, jogos e conteúdos que ele consome na rede;
– Conversar com os professores e com a comunidade escolar também contribui para que os pais e responsáveis possam entender melhor as tecnologias. Com isso, podem auxiliar os estudantes sobre o que pode ser utilizado como pesquisa na hora da lição de casa e dos trabalhos, por exemplo;
– Cuidado com os dados pessoais, seja ao utilizar recursos de AI ou de outras ferramentas, é essencial verificar se o site é confiável, se os dados fornecidos estão dentro do que é seguro.
Muito além do GPT
Costumamos associar inteligência artificial ao Chat GPT. Entretanto, há outras plataformas que podem ser aliadas aos estudos.
Vinicius Paulo Raimundo, gerente de Tecnologia e Transformação do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná, pontua que, como já falamos, não há como ignorar esse avanço tecnológico e, sim, é preciso se atualizar constantemente sobre as novas ferramentas criadas. “Como essas tecnologias estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano, é essencial saber usá-las corretamente, de modo a potencializar as habilidades humanas”, diz.
A seguir, ele pontua cinco ferramentas que podem ajudar no aprendizado.
– Socratic: IA que possibilita analisar conteúdos ensinados em sala de aula e buscar mais informações sobre os assuntos abordados, de forma mais completa e visual, em questões de matemática, química e literatura, por exemplo. O aplicativo pode ser baixado pelo Google em aparelhos Samsung ou IOS, de forma gratuita e ilimitada;
– Grammarly: recurso baseado em IA exclusivo para a escrita. Com ele, é possível garantir que qualquer redação se torne mais precisa em relação à gramática e ortografia. Além disso, o aplicativo sugere mudanças no estilo da escrita, adaptando para o público-alvo em questão;
– Mendeley: Um “bibliotecário particular” e também uma rede social para acadêmicos. Isso significa que ele não só ajudará com as bibliografias no final dos trabalhos, mas também permitirá que o usuário colabore com outros acadêmicos no fórum Mendeley e sugira novos artigos relevantes com base nos trabalhos anteriores;
– Nuance: Aplicativo de reconhecimento de voz, particularmente útil para estudantes que têm dificuldade em escrever ou digitar. Ele utiliza a ferramenta Dragon Speech Recognition, que transcreve até 160 palavras por minuto. Dessa forma, o aplicativo dita com precisão redações, planos de aula, planilhas de exercícios e várias outras possibilidades, a uma velocidade três vezes mais rápida do que a digitação humana;
– Gradescope: Uma combinação de IA e aprendizado de máquina para simplificar a avaliação. Ao terminar uma lição, o aplicativo ajuda o estudante a ter uma noção do que será corrigido. Os professores podem usar essa ferramenta de IA para tornar a marcação mais rápida, mas ela também pode ser utilizada por alunos que querem identificar áreas que precisam de melhorias com antecedência.
Opinião profissional sobre tecnologias
Apesar de muitos ainda terem duvidas com o uso de tecnologias, seu uso já é visto como aliado por muitos profissionais da Educação.
Quando se fala de tecnologia em sala de aula, o debate é mais profundo. Estudos recentes indicam que o uso do celular, por exemplo, pode ter efeitos baixos a moderados no aprendizado, mas, ainda assim, comporta finalidades pedagógicas importantes. “Diante desse cenário, a prática da autorregulação do uso do celular emerge como uma ferramenta vital para balancear os benefícios da tecnologia com uma vida equilibrada e saudável, envolvendo a conscientização e controle sobre o tempo e a forma como se usa”, destaca Jonas Sousa, assessor pedagógico da plataforma Amplia, sistema de ensino para a educação básica.
A tecnologia vem se mostrando uma grande aliada das instituições, como mostra um levantamento da ABstartups (2020), em que houve um crescimento de 44% no número de edtechs, empresas que desenvolvem soluções tecnológicos para serviços educacionais. “O uso estratégico da tecnologia proporciona o desenvolvimento dos estudantes de modo integral, abarcando os aspectos intelectual, social e emocional do aluno. Essa expansão é muito valiosa, principalmente na fase da formação”, afirma Felipe Menezes, fundador e diretor de inovação da Maxia, solução que oferece aprimoramento educacional por meio da Inteligência Artificial (IA).
E quanto ao Chat GPT, especificamente? Será que o caminho mais efetivo é ir na contramão disso? “É um avanço irreversível. O que precisamos, na verdade, é trazer aos alunos o que é (ou não) Inteligência Artificial Generativa e quais suas limitações, com uma visão de criticidade”, pondera Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco. “É como preparamos as crianças e jovens com os processos cognitivos necessários para continuarem aprendendo e não lançando mão de recursos ágeis e fáceis”.
E cada vez mais instituições integram as possibilidades oriundas da tecnologia em seu dia a dia. “Com doze anos consecutivos como melhores colocados do ENEM, utilizamos a plataforma Plurall para fornecer dados cruciais que orientam o processo de ensino-aprendizagem. O time pedagógico acessa informações detalhadas sobre o desempenho dos estudantes, permitindo um acompanhamento mais próximo”, explica André Ricardo de Castro, diretor do Colégio Fibonacci, fundador do Fibonacci Sistema de Ensino. “Assim, temos um termômetro que vai nos dizendo o caminho que o aluno está seguindo ao longo da formação, se está bom ou não”, explica.
Outra possibilidade trazida pela tecnologia foi o ensino híbrido e adaptado. Com a educação caminhando ao lado dos ambientes virtuais, o modelo misto já foi, inclusive, adotado por escolas. “Essa metodologia combina elementos do ensino presencial e online, proporcionando aos alunos uma experiência mais dinâmica e adaptável”, afirma Aline Castro, coordenadora da Assessoria Pedagógica do Sistema pH.
E o que a IA diria se tivesse que avaliar como ela pode auxiliar – ou prejudicar -, na prática, na educação do seu filho? Abaixo, um “bate-papo” com o Chat GPT. E aí, concordam?
– Prós do uso da IA na sala de aula:
1. Acesso rápido a informações: A IA pode fornecer respostas instantâneas a perguntas, ajudando os alunos a esclarecer dúvidas e aprender novos conceitos de maneira rápida e eficiente.
2. Personalização do ensino: A IA pode ser utilizada para criar planos de estudo personalizados, adaptando o conteúdo às necessidades e ao ritmo de aprendizagem de cada aluno.
3. Suporte ao professor: Ferramentas de IA podem auxiliar professores na correção de provas e na preparação de material didático, permitindo que eles se concentrem mais no ensino e menos em tarefas administrativas.
4. Estímulo ao autodidatismo: Com o auxílio da IA, os alunos podem explorar temas de interesse de maneira independente, promovendo a curiosidade e o aprendizado contínuo.
5. Inclusão e acessibilidade: A IA pode oferecer suporte adicional a alunos com dificuldades de aprendizagem ou necessidades especiais, proporcionando ferramentas como tradutores automáticos, leitores de texto, entre outros.
– Contras do uso da IA na sala de aula:
1. Dependência excessiva: Alunos podem se tornar excessivamente dependentes da IA para resolver problemas e completar tarefas, o que pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades críticas de pensamento e resolução de problemas.
2. Plágio e desonestidade Acadêmica: O uso da IA para colar em trabalhos e atividades escolares é uma preocupação real, uma vez que isso pode minar a integridade acadêmica e a aprendizagem genuína.
3. Falta de interação humana: A interação com professores e colegas é fundamental para o desenvolvimento social e emocional dos alunos, algo que a IA não pode substituir.
4. Desigualdade de acesso: Nem todos os alunos têm acesso igual às tecnologias de IA, o que pode aumentar as disparidades educacionais.
5. Privacidade e segurança: O uso de ferramentas de IA envolve a coleta de dados pessoais dos alunos, o que levanta preocupações sobre privacidade e segurança das informações.
– Uso ideal da IA na sala de aula:
1. Ferramenta de apoio: A IA deve ser utilizada como uma ferramenta de apoio, complementando o ensino tradicional e ajudando a reforçar conceitos e esclarecer dúvidas.
2. Ética e integridade: É importante promover a ética e a integridade no uso da IA, educando os alunos sobre os riscos e as consequências do plágio e do uso indevido das tecnologias.
3. Desenvolvimento de habilidades: Incentivar o uso da IA para desenvolver habilidades de pesquisa, análise e pensamento crítico, em vez de simplesmente fornecer respostas prontas.
4. Supervisão e orientação: Professores devem supervisionar o uso da IA e orientar os alunos sobre como utilizar essas ferramentas de maneira responsável e eficaz.
5. Inclusão e acessibilidade: Garantir que todas as crianças tenham acesso igual às tecnologias de IA, promovendo a inclusão e a equidade no ambiente educacional.
Dica extra: Para profissionais de Educação que querem se aprofundar no tema, o livro “Inteligência Artificial na Sala de Aula”, do professor e gestor universitário Allan Carlos Pscheidt e lançamento da Matrix Editora, discute os desafios de educar para o futuro. Qual é o impacto da Inteligência Artificial na educação? O que um professor precisa saber para lidar com esse recurso? Como incorporar o uso de algoritmos sem desumanizar o processo didático? Essas são algumas das reflexões apresentadas na publicação. A obra convida professores e educadores a embarcarem em uma jornada de integração tecnológica em suas práticas pedagógicas. Para Allan, a implementação de ferramentas como o ChatGPT é parte de um processo contínuo e exige adaptação e paciência. Ele diz, ainda, que a IA é uma aliada valiosa na sala de aula, quando bem direcionada, e tem potencial para capacitar os estudantes a serem mais críticos em relação às informações que recebem.