A vida universitária é frequentemente retratada como um período de crescimento e oportunidades, mas também pode ser um dos momentos mais desafiadores na vida de um jovem adulto. Entre a pressão acadêmica, a adaptação a um novo ambiente social e a necessidade de equilibrar estudos e vida pessoal, muitos estudantes enfrentam dificuldades que podem impactar significativamente sua saúde mental.
Com o aumento dos casos de estresse, ansiedade e depressão entre universitários, é crucial abordar como esses desafios podem ser gerenciados e superados. AnaMaria conversou com a psicóloga clínica e educacional Marley Marques Zeferin, para explorar as estratégias e recursos disponíveis para apoiar a saúde mental durante a jornada acadêmica.
Barreiras para manter a saúde mental
A vida universitária apresenta uma série de desafios complexos que podem impactar profundamente a saúde mental dos estudantes. Entre esses desafios, destaca-se a adaptação a um ambiente diversificado, onde conviver com pessoas de diferentes culturas e origens exige uma abertura mental e habilidades interpessoais que nem todos têm desenvolvidas.
Essa convivência enriquecedora, embora positiva, também pode ser fonte de estresse e desconforto, à medida que os alunos buscam se integrar e se sentir aceitos em um novo círculo social.
Outro desafio significativo é a adaptação ao ritmo acadêmico acelerado, que demanda não apenas uma nova abordagem para o estudo, mas também uma reconfiguração das técnicas de aprendizagem. Muitos estudantes encontram dificuldades ao tentar aprender a estudar novamente, após anos de métodos educacionais que podem não se alinhar com as exigências da universidade.
A gestão eficaz do tempo e das informações torna-se crucial, pois os alunos precisam equilibrar múltiplas tarefas, cumprir prazos rigorosos e lidar com a pressão constante das entregas acadêmicas.
Além disso, as expectativas pessoais e familiares sobre o desempenho no curso acrescentam uma camada adicional de pressão. Os alunos frequentemente se sentem sobrecarregados pela necessidade de atender a essas expectativas, o que pode contribuir para um aumento significativo no estresse e na ansiedade.
“As pressões sociais e expectativas externas e familiares podem desencadear em quadros ansiosos e de estresse pela cobrança de alto desempenho e recolocação profissional imediata. Os estudantes começam a se cobrar de forma excessiva, angustiando quando não conseguem atingir alto rendimento”, aponta Marley.
A vida universitária também provoca uma transformação comportamental e uma ampliação da visão de mundo. Esse processo de mudança, vital para o crescimento pessoal e acadêmico, nem sempre ocorre de forma tranquila. As dificuldades enfrentadas durante essa fase de transição podem ser desafiadoras e exigem uma abordagem consciente para manter a saúde mental e o bem-estar.
Gestão de crise e apoio
Segundo a psicóloga, as estratégias mais eficazes para manter a saúde mental estão profundamente ligadas ao investimento no autoconhecimento e no desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
Esses dois aspectos são fundamentais para lidar com as adversidades que surgem e minimizam o impacto negativo que esses desafios podem ter na saúde mental.
O autoconhecimento, que envolve a compreensão das próprias emoções, pontos fortes, limitações e valores, é uma ferramenta essencial para a resiliência. Ao conhecer a si, o estudante pode identificar suas fontes de estresse e suas reações diante de diferentes situações, o que permite uma abordagem mais consciente e eficaz para gerenciar o estresse.
Além disso, o autoconhecimento promove uma maior capacidade de autoaceitação e autocompaixão, ajudando a reduzir a pressão interna e as expectativas irreais que podem contribuir para a ansiedade e o esgotamento.
Simultaneamente, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a inteligência emocional, a empatia, a comunicação eficaz e a gestão de conflitos, fornece ferramentas práticas para enfrentar os desafios diários.
Essas habilidades são cruciais para construir relacionamentos saudáveis, resolver problemas de forma construtiva e manter um equilíbrio emocional mesmo diante de situações difíceis. A inteligência emocional, por exemplo, ajuda os alunos a reconhecer e regular suas emoções, facilitando a adaptação ao ambiente universitário e a interação com colegas e professores.
“Uma boa gestão do tempo e saber elencar prioridades são as melhores técnicas de equilibrar vida acadêmica e social de forma saudável e prazerosa. Ter este equilíbrio evita estresses e exaustão mental, reservando momentos de prazer e descanso o cérebro funciona melhor”, aponta ela.
Quando buscar ajuda profissional?
É crucial distinguir entre o estresse momentâneo e sinais de alerta que indicam problemas mais profundos com a saúde mental. A frequência e a intensidade das crises são fatores importantes para identificar a necessidade de buscar ajuda profissional.
Um sinal de alerta significativo é a frequência com que as crises de ansiedade ou estresse ocorrem. Situações estressantes podem surgir ocasionalmente, como prazos apertados ou pressão para entregar trabalhos em grupo, mas crises que acontecem de forma recorrente e sem uma causa aparente são motivo de preocupação.
Se o estudante experimenta episódios de angústia com frequência, mesmo na ausência de situações específicas que justifiquem o estresse, isso pode indicar uma questão mais séria que precisa de atenção.
Além da frequência, a intensidade dos sentimentos também é um indicador importante. Sentimentos persistentes de desmotivação e falta de sentido que não diminuem com o tempo podem ser sinais de um problema maior. Se a desmotivação e a sensação de falta de propósito persistem, mesmo após a conclusão de tarefas ou após o término de períodos estressantes, é fundamental considerar que isso pode ser um sinal de depressão ou outro distúrbio emocional.
“Muitas vezes estas crises são banalizadas ou menosprezadas, mas podem voltar com mais intensidade quando não é compreendido seus motivos e gatilhos e não se busca formas de lidar com elas”, afirma a especialista.
Outro sinal importante é o isolamento social. Se o estudante se afasta de amigos, colegas e atividades sociais que costumava desfrutar, isso pode indicar um problema com a saúde mental. O isolamento é muitas vezes um mecanismo de defesa contra o estresse, mas também pode ser um sinal de que o aluno está lutando com questões emocionais mais profundas.
Compartilhar sentimentos e preocupações pode aliviar o peso emocional e ajudar a obter perspectivas diferentes sobre os desafios enfrentados. Às vezes, apenas falar sobre o que está acontecendo já é um passo importante para encontrar alívio e clareza.
“É importante entender o que vem afetando sua saúde mental para poder tratar de forma correta ou mesmo preventiva. Não tenha vergonha e nem se defina por um momento difícil que possa estar vivenciado” finaliza Marley.
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