Aceitar fingir que está morta para não manchar a reputação da família. Assumir a culpa por um crime que não cometeu para que Clara (Bianca Bin) não seja acusada de assassinato. Ninguém pode negar que a personagem Duda, interpretada pela atriz Gloria Pires em O Outro Lado do Paraíso, não mede esforços para proteger suas filhas – nem que, para isso, ultrapasse as barreiras da sua própria felicidade! Apesar de, na ficção, esse ser um comportamento extremo, em muitos lares o que vemos são pequenas doses desse mesmo hábito. O que nem sempre é ruim: afinal, não dá pra ser mãe sem se doar. Mas, em excesso, esse pensamento pode ser prejudicial para si mesma e para as próprias crianças. Listamos situações do dia a dia para explicar como!
“Mas ele é tão pequeno…”
Logo que a licença-maternidade acaba, faz parte da realidade de muitas mulheres o retorno ao trabalho e a diminuição brusca das horas ao lado de seus pequenos. “Esse é um dos maiores dilemas das mães da modernidade”, comenta Rita Calegari, psicóloga da rede de hospitais São
Camilo, de São Paulo. De acordo com a profissional, essa culpa tem diferentes origens: primeiro, em uma questão cultural. A sociedade está acostumada a pensar nas mães como
seres onipotentes, que se sacrificam para poder cuidar bem de seus filhos – enquanto a figura paterna fica um pouco de lado. Apesar de essa mentalidade estar mudando com o passar dos anos, as mulheres ainda tendem a sofrer mais com esse processo do que os homens.
Outros fatores também interferem na intensidade desse sentimento: quando há a necessidade de retornar às atividades para sustentar a criança, a culpa pode ser amenizada. Já nas famílias em que a situação financeira é mais estável e a mulher pode decidir se quer ou não retornar ao trabalho, o dilema tende a ser mais complicado. Mas sabe o que faz a culpa diminuir? Uma boa rede de apoio. Quando o homem assume suas responsabilidades como pai, a família reconhece o valor da mãe e oferece ajuda, essa transição fica mais fácil.
“Onde foi que eu errei?”
Quando o desempenho escolar da criança cai, algumas mulheres tendem a pensar, automaticamente, que a falha está dentro de casa. “No entanto, a situação escolar é complexa e múltiplos fatores podem contribuir para um desenvolvimento abaixo do esperado”, ressalta Leonardo Abrahão, psicólogo e professor de sociologia. Afinal, a origem do problema pode estar, sim, na família – por exemplo, quando os pais permitem que as crianças faltem demais e sem motivo às aulas. Porém, ela também pode estar no método aplicado pela escola ou professores ou na própria criança ou adolescente, que pode apresentar problemas físicos, emocionais ou cognitivos que retardam seu progresso nas matérias.
“Antes eu era tão vaidosa, agora nem sei o que aconteceu”
A adaptação dos bebês consome muita energia de todas as mães. E se cobrar demais com relação à aparência nesse período não faz sentido! Mas se esse é um fator importante para
o bem-estar da mulher, conforme os pequenos vão crescendo, as oportunidades de se arrumar um pouco mais aqui, se cuidar um pouco mais ali, vão reaparecendo aos poucos. Porém, algumas mulheres, mesmo sendo vaidosas no passado, acabam não se importando mais com isso no presente. A psicóloga explica: “É possível que a maternidade mude a maneira de enxergar a si mesma e ao mundo e por isso as prioridades se transformem. Pode ser que a mulher que antes adorava passear e fazer compras no shopping, hoje não abra mão de deitar com seu filho no sofá e assistir ao mesmo desenho animado pela décima vez”. Tudo bem se sentir diferente!
Deixar a vaidade de lado só é um problema quando incomoda a própria mulher. Às vezes, acontece por falta de tempo – o que simboliza o quanto ela está sobrecarregada com
as tarefas do dia a dia. Mas há também outra possibilidade para essa mudança. “Ela ocorre quando as mulheres absorvem tanto o papel de mãe que acabam negligenciando a si mesmas”, esclarece a profissional. Se o quadro vier acompanhado de mudanças de humor, pode até sinalizar o começo de sintomas relacionados à depressão. Então, se estiver incomodada, procure olhar mais para si mesma para entender o motivo do seu desânimo.
E, se necessário, procure a ajuda de um psicólogo ou terapeuta.
“Ele merece o melhor”
Pretende economizar mais neste mês porque quer dar um brinquedo caro de aniversário para o seu filho? Tudo bem! Esse tipo de sacrifício é comum entre os pais. O problema é deixar
a exceção virar um hábito, e passar a confundir os desejos do pequeno com necessidades. “É saudável que as crianças tenham seus pedidos negados de vez em quando, porque é assim que aprendem a lidar com as frustrações do dia a dia”, alerta Rita. Pense nas necessidades financeiras da família para decidir suas prioridades.