Nenhuma outra artista representa tão bem o espírito alegre, inspirador e autêntico de AnaMaria como Susana Vieira.
Não à toa ela foi eleita a estrela da nossa capa comemorativa de 23 anos.
Em entrevista exclusiva, a atriz fala do retorno às novelas – ela será Emília na nova versão de ‘Éramos Seis’ –, de como se aproximou mais de si mesma durante o período em que esteve afastada para cuidar da saúde (Susana foi diagnosticada com um tipo crônico de leucemia), de sonhos, medos e, claro, da linda relação com a publicação.
COMO É VOLTAR ÀS NOVELAS COMO A TIA EMÍLIA NA ICÔNICA ‘ÉRAMOS SEIS’?
É com grande alegria que estou nessa produção. Ouço falar que muita gente já viu e que muita gente gostaria de ver essa história. Trata-se de um título icônico mesmo, ficou muito famoso no passado. Além de ser uma honra interpretar uma personagem que foi da Nathalia Timberg [na versão do SBT, em 1994]. Só tem coisa boa esperando por nós, atores, equipe e telespectador. Temos trabalhado com muita alegria e delicadeza.
ONDE BUSCOU INSPIRAÇÃO PARA COMPOR ESSA MULHER FORTE?
Nunca procurei inspiração em alguém especificamente. Crio o meu personagem junto com o autor, lendo os capítulos. Quando a figurinista me veste, ela já me veste com as características da personagem, além do cabelo e da maquiagem. É sempre um conjunto de fatores. Quando vou para o estúdio já estou com quase tudo definido, pois antes de entrar em cena, nós, atores, temos muito preparo. Sobre fazer uma mulher extremamente forte… Tenho a impressão de que isso tem me acompanhado ao longo da carreira.
MAS JÁ TINHA FEITO ESSE TIPO DE PAPEL EM UM FOLHETIM DE ÉPOCA?
Trabalhei em uma novela de época, A Sucessora [1979], que é uma das minhas favoritas. A personagem era uma mulher frágil, mas sempre tenho um pouco de mulher forte dentro dos meus papéis. Então, não é muito difícil. A tia Emília tem uma postura superséria porque ficou viúva durante muito tempo. E ela tem uma filha com distúrbios mentais.
VOCÊ VÊ ALGUMA SEMELHANÇA ENTRE A EMÍLIA E A BRANCA, SUA VILÃ EM ‘POR AMOR’, QUE ESTÁ SENDO EXIBIDA NO ‘VALE A PENA VER DE NOVO’?
As características não são extremamente iguais. E a mudança de época, principalmente, faz uma imensa diferença. A Branca é da alta sociedade, como a Emília, que também é rica e tradicional. Mas a Emília é triste. Claro, ela tem lá seus motivos, como a dificuldade em lidar com os distúrbios da filha.
IMAGINAVA, NOVAMENTE, ESSE SUCESSO TODO DA BRANCA NA REPRISE DE ‘POR AMOR’?
Sempre acreditei nas novelas do Manoel Carlos [autor da trama] na década de 70, na de 80, 90… e continuarei acreditando se ele seguir escrevendo em 2050. Ele é um grande escritor, pelo português, pela forma como coloca todas as qualidades e os defeitos de uma família.
Trabalhei em muitos dos projetos dele e foram os meus melhores personagens, sem desfazer de nenhum outro. O Manoel não passou de época, não existe isso de época para um autor bom. Um dramaturgo bom é bom em 1980 e em 2019. Ele conquistou o coração de todo o Brasil e de fora do país também. Recebo mensagens pelo Instagram do mundo todo, da Rússia à Argentina. É maravilhoso como Manoel Carlos é atemporal. O texto dele é o mais difícil que eu tive para estudar na vida, mas é o que eu consigo falar com maior naturalidade.
E COMO É VOLTAR A TRABALHAR COM A GLORIA PIRES?
A verdade é que a gente trabalhou pouco juntas. Nós temos uma intimidade muito maior que o trabalho. Houve uma empatia entre a gente desde quando ela era criança. Eu era muito amiga de Lauro Corona [ator de telenovelas, falecido em 1989], que tinha uma casa ao lado de onde a Glorinha morava. Ela era uma garota, tinha entre 16 e 17 anos. E temos uma grande afinidade por termos nascido no mesmo dia. Há anos, nós comemoramos aniversários às vezes juntas, às vezes separadas, mas sempre presentes no dia 23 de agosto. A considero uma das melhores atrizes da nossa televisão. Uma vez, fui fazer um filme com ela e fiquei estupefata com como ela tem o domínio da cena. Quando gravo com ela estou em família.
COMO O PÚBLICO A RECEBEU APÓS SEU PROBLEMA DE SAÚDE VIR À TONA?
A cada passo ganho abraços comovidos, sorrisos de alegria, palavras de conforto. Recebo bênçãos de todas as maneiras. Gostaria de agradecer aos meus familiares, que ficaram sempre ao meu lado. Estar dentro de casa me fez olhar as plantas que eu não via há tempos. O mobiliário da minha casa, que eu comprava e não via nada. Sempre dei valor a tudo o que tenho, que foi conseguido graças a mim e a Deus.
Nesse período em casa, tive tempo de usufruir a vida: dormir até tarde, assistir TV, levantar e pedir coisas para comer, sem pressa. Foi muito bom ter ficado um tempinho afastada, porque estava próxima de mim. Nesse tempo, cheguei perto do meu eu. Foi bom ter ficado distante do trabalho e próximo da minha vida doméstica e do ser humano comum, normal. Não tenho nada a reclamar. A minha fé é muito grande. E ainda tenho muitas coisas para fazer, para mim e para os outros. Estou de volta para o público que me ama!
QUAL O SEU MAIOR MEDO?
De morrer!
E O MAIOR SONHO?
Não vivo de sonhos, não. Eu vivo o agora. O meu sonho é acordar e sempre ter a mesma coisa boa que é meu dia a dia: brincar com meus cachorros, celebrar a vida, conversar com os meus funcionários. Viver!
O QUE FALARIA A SUSANA CRIANÇA SOBRE SOBREVIVER NESSE UNIVERSO MACHISTA?
Não preciso falar, a criança é que fala comigo [risos]. Na infância, tinha medo do meu pai, porque ele era muito bravo. Então, achei que todos os homens iam ser iguais. Não me enganei muito. Resolvi enfrentá-los, assim como enfrentei meu pai, fui trabalhar na televisão e consegui. Fiz disso a minha fonte de renda. Depois, meu pai começou a me ver no vídeo e teve orgulho de mim. Ele morreu dizendo que eu tinha sido o maior tesouro da vida dele. Voltando à criança que fui, diria: “Querida, não existe sexo masculino ou feminino. Existe garra, disciplina, força de vontade, vontade de vencer”
VOCÊ É A MUSA DA EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO DE ANAMARIA POR INSPIRAR NOSSAS LEITORAS HÁ MUITO TEMPO. COMO É ISSO PARA VOCÊ?
A revista AnaMaria é uma ótima companhia, inclusive para mim. Quando comecei a escrever para a revista, pois já fui colunista da publicação, me senti tão importante, mais importante do que quando eu era atriz, fazendo novela. Nos folhetins, sei que agrado a muita gente, as pessoas ficam em volta de mim. Entretanto, quando as pessoas compravam a revista para lerem uma coluna escrita por mim, meu Deus do céu, eu me senti tão valorizada, tão importante! Amo ler matérias da AnaMaria. Acho lindo a revista fazer parte da minha vida. Parabéns pelos 23 anos da revista, ela é uma fonte de inspiração e não pode deixar de existir. Porque eu já tive 23 anos e cheguei aos 77 anos, meu amor. Então, continuem!
E COMO É BRILHAR NA NOSSA CAPA DE ANIVERSÁRIO?
Estou extremamente envaidecida por isso e superfeliz por ser capa da AnaMaria em seu 23º aniversário. Muito obrigada pela lembrança. As fotos foram realizadas com muita alegria e muito prazer. Afinal de contas, nós somos amigas, não é mesmo?