Quando indiquei Pedro Rocha para o trabalho de editor-chefe do site Exitoína, novo projeto da Editora Caras, a ideia era, meses depois, trazê-lo para trabalhar comigo na Rolling Stone Brasil. Chegada a hora de falar sobre a transição, pouco tempo depois, ele já estava em outro patamar. Havia crescido na empresa, levado um site iniciado do zero a números impressionantes nos primeiros meses e colecionado elogios da chefia.
Tinha a estasiante habilidade de se adaptar às novidades e tirar delas o melhor: moldava-se e crescia. Sempre foi assim, em qualquer trabalho pelo qual passou.
Pedro Rocha morreu nesta sexta, 3, no apartamento onde morava, no bairro da Bela Vista, localizado na região central de São Paulo. O jornalista tinha 27 anos e um caminho grandioso interrompido por uma parada cardiorespiratória.
O velório e o enterro serão realizados no Cemitério Parque Colina da Saudade, em Aracaju, Sergipe, no domingo, 5.
Filho único de Chico e Rosângela, vivia em São Paulo há anos, mas falava de Aracaju, cidade na qual nasceu, cresceu e os pais ainda moram, sempre que podia – principalmente ao elogiar a culinária local, como amendoins e caranguejos cozidos.
No início da carreira, em 2013, Pedro Rocha foi estagiário da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Sergipe por oito meses antes de entrar no universo das redações. Começou a jornada pelo site Papelpop, no qual trabalhou por quase três anos (2 anos e 11 meses).
Saiu de lá como redator-chefe e seguiu para um caminho pelo Grupo Estado. Participou do Curso Focas, passou pelo suplemento Divirta-se e, principalmente, pelas páginas do Caderno 2, seção dedicada à cultura do jornal O Estado de S. Paulo.
Ali, entre idas e vindas como freelancer, assinou textos sobre música, cinema e também artes visuais. Publicou entrevistas com artistas como Pabllo Vittar e Anitta, escreveu matérias sobre exposições como da Tarsila do Amaral e Lina Bo Bardi, fez críticas e análises, apresentou lives e criou conteúdo audiovisual sempre que o cotidiano atribulado da redação permitia – divertia-se muito com eles.
Em março de 2019, Pedro Rocha aceitou a proposta de capitanear um novo site chamado Exitoína, que chegava ao Brasil com a Editora Caras, dedicado à cultura pop. Ali, destacou-se pelas boas sacadas de matérias, pela agilidade em entregar a informação e pelos altos números apresentados em audiência em tão pouco tempo. “Estamos crescendo, estamos crescendo”, dizia ele a cada novo encontro, satisfeito.
Em outubro de 2019, concluiu um curso de pós-graduação na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) em roteiro para cinema e TV e prometia mais encontros com os amigos depois que o TCC fosse entregue.
Era fã incondicional da Madonna – com informações sobre a artista na ponta da língua – e outras divas do pop. Celebrou como criança a primeira vitrola para ouvir a pequena coleção de discos de vinil que já possuía. Consumia séries de TV como Parks and Recreation de forma voraz e defendia as causas LGBTQ+ em matérias, textos e publicações nas redes sociais. Tinha um papo desenvolto, era de convívio fácil e dono de um sorriso reconfortante de ter por perto.
Um jornalista promissor, destaque de uma geração pré-30 anos, muito porque não temia receber um “não” como resposta. Ia para onde fosse, tentava, buscava soluções que nem sempre eram fáceis. Vi Pedro Rocha enfrentar de tudo como jornalista, mas nunca com medo do entrevistado, da matéria, do editor, do desafio ou do novo emprego.
Certa vez, em 2016, na Cidade do México, encarou jornalistas engalfinhados para entrevistar Ben Affleck, Gal Gadot e Henry Cavill, enquanto fãs gritavam atrás de nós para obter a atenção dos astros na pré-estreia do filme Batman Vs Superman: A Origem da Justiça. De Affleck, recebeu um olhar curioso pela pergunta inteligente. De Cavill, arrancou gargalhadas. De Gadot, teve mais tempo e atenção do que qualquer um ali.
Essa mesma visita ao México durou um dia a mais porque o voo foi cancelado mesmo depois que todos os passageiros já estavam dentro da aeronave. Pedro Rocha arregalou os olhos quando viu a fila gigantesca na entrada do hotel para o qual a companhia aérea direcionou todos a bordo até que encontrasse um novo voo. “Bom, não adianta ficar esperando nessa fila, né?”, disse ele, enquanto limpava a lente dos óculos na camiseta que vestia. “Vamos tomar um ar lá fora?”
Pedro Rocha deixa os pais, o namorado Luiz e uma porção de bons amigos – que, como eu, tiveram a sorte de conviver com ele.