Diante da repercussão dos movimentos antirracistas espalhados pelo mundo, alguns modelos acusaram os renomados estilistas Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço de racismo e conduta abusiva nos bastidores de desfiles.
Alguns modelos preferiram fazer a denuncia de forma anônima, outros publicamente. Foi o caso de Thayná Santos, que abriu um espaço no Instagram para relatar todos os casos preconceituosos do mundo da moda.
Muitas jovens relataram que foram maltratadas durante a seleção para desfiles por não ter ‘cara de rica’ ou o cabelo ‘adequado’, principalmente aquelas com fios cacheados ou black power.
A maioria dos casos se referiam ao nome de Gloria Coelho. “Gloria sempre foi extremamente preconceituosa e não aceitavam nem [modelos] morenas, tinham que ser brancas. Quando morava na casa de modelos em época de semana de moda, eles nem mandavam as mais escuras para o casting dela, porque todos já sabiam que ela não queria no casting”, desabafou uma jovem de maneira anônima.
A estilista entrou em contato direto com Thayná e lamentou o ocorrido. “Sinto muitíssimo que qualquer menina tenha se sentido desprivilegiada ou sem acesso às mesmas oportunidades dentro da minha marca e do sistema de moda. Reconheço que por séculos a moda privilegiou padrões de beleza eurocentristas.”
“Estou comprometida em ouvir, me educar, educar aos que me rodeiam, e incluir mais criatividade e diversidade em minha marca. Me comprometo a incluir mais modelos afrodescendente, indígenas nos meus desfiles. Me comprometo a partir de agora. Eu e minha equipe estamos unindo forças para ampliar nosso casting e garantir que todas as meninas tenham experiências positivas em castings”, declarou em outro momento.
REINALDO LOURENÇO
Já com o estilista Reinaldo Lourenço, que é ex-marido de Gloria, a situação teve um alcance ainda maior.
O perfil ‘Moda Racista’, do Instagram, reuniu diversos relatos que denunciaram profissionais e marcas com conduta racista e abusiva nos bastidores da moda.
“Já vi ele jogar coisas nos outros, xingar, humilhar todo mundo que ele considerava inferior. Quando ele estava na sala, por exemplo, você não podia sentar nunca, era uma regra”, disse uma ex-funcionária.
Procurado pela revista Veja, o estilista também se manifestou e afirmou ter errado. “Tenho consciência de que me faltou empatia e compreensão em relação às modelos negras e aos outros profissionais de moda. Desculpem-me. […] Eu vou mudar, assim como o sistema da moda será obrigado a mudar também.”
Além de Gloria e Reinaldo, Daniel Hernandez, maquiador de grandes modelos, também foi acusado de gordofobia e racismo. Em sua defesa, ele alegou que tudo não passou de uma brincadeira do passado e que hoje não age mais dessa forma.
A influenciadora digital Lala Rudge também foi citada por não contratar meninas negras para as campanhas de sua marca. Em resposta, ela explicou que a atitude era um posicionamento da grife para refletir sua própria imagem. No entanto, desde o ano passado, a empresa resolveu seguir o caminho da representatividade.
CONFIRA O POSICIONAMENTO DE GLORIA COELHO NA ÍNTEGRA
“Sinto muitíssimo que qualquer menina tenha se sentido desprivilegiada ou sem acesso às mesmas oportunidades dentro da minha marca e do sistema de moda. Reconheço que por séculos a moda privilegiou padrões de beleza eurocentristas, e que eu ou pessoas da minha equipe no passado possamos ter compactuados com isso, ou sido interpretados dessa forma. Estou aqui me comprometendo a ser melhor, a garantir que minha equipe seja melhor. Está nas nossas mãos desmantelar o racismo sistêmico.
Eu tenho genuína e profunda admiração pela beleza, criatividade e ancestralidade afrodescendentes e indígena. Estou comprometida em ouvir, me educar, educar aos que me rodeiam, e incluir mais criatividade e diversidade em minha marca. Estou ouvindo todas vocês, e quero que tenhamos este canal aberto para fortalecermos essa luta e traçarmos um novo caminho, mais justo e inspirador, para a moda brasileira.
Me comprometo a incluir mais modelos afrodescendente, indígenas nos meus desfiles. Me comprometo a partir de agora. Eu e minha equipe estamos unindo forças para ampliar nosso casting e garantir que todas as meninas tenham experiências positivas em castings e fittings. Me comprometo a incluir meninas pretas em todas as campanhas futuras, e que o Instagram da marca represente igualmente pretas ,índias brancas , morenas e orientais.
Estamos também trabalhando para encontrarmos mais candidatos e candidatas afrodescendente para contratações nas áreas criativas, além das outras áreas da empresa. Esse já era um movimento que estávamos fazendo e vamos nos esforçar ainda mais.
Mais uma vez, peço perdão a quem eu magoei.”
CONFIRA O POSICIONAMENTO DE REINALDO LOURENÇO NA ÍNTEGRA
“Eu errei. Tenho consciência de que me faltou empatia e compreensão em relação às modelos negras e aos outros profissionais de moda. Desculpem-me. As recentes críticas e observações de quem se sentiu constrangido em algum casting, backstage ou desfile suscitaram autorreflexão. Eu vou mudar, assim como o sistema da moda será obrigado a mudar também. Comprometo-me a promover inclusão efetiva, com mais modelos negras na passarela e nas campanhas. Quero contribuir para que as mulheres negras também sejam respeitadas como consumidoras da moda nacional. Não medirei esforços a fim de ampliar a representatividade e valorizar a diversidade racial brasileira por meio da minha marca. relação às modelos negras e aos outros profissionais de moda. Desculpem-me.”