A apresentadora Mariana Ferrão, do Bem Estar, esteve em Brumadinho (MG) desde sábado (26), justamente para acompanhar de perto a situação das vítimas da tragédia após o rompimento da barragem da Vale.
Ao voltar para casa, na última sexta-feira (1º), a jornalista decidiu escrever um relato emocionante sobre a cobertura da tragédia em sua rede social.
Ela começa explicando que foi para Belo Horizonte no dia 25/01 justamente para dar uma palestra. Quando entrou no avião, recebi uma mensagem sobre o rompimento da barragem.
“Começamos nosso evento com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas, sem ter a menor noção da dimensão da tragédia. Depois de uma semana, me arrisco a dizer que ainda não temos. As camadas de dor são tantas e muitas ainda estão escondidas sobre toneladas de lama”, relatou.
No sábado, lembrou Mariana, havia uma angústia esperançosa no ar: centenas de pessoas achavam que iam encontrar seus parentes e amigos vivos. “No céu, a lua começava a minguar. E foi minguando, assim como a esperança de cada um, a cada dia. Os olhares atentos a qualquer movimentação foram dando lugar às pálpebras quase fechadas mirando o chão. Gente querendo desviar da própria dor. Mas a dor veio em enxurrada, em avalanche”, contou.
A lama em lava de vulcão queimando sonhos, destruindo famílias inteiras. “O que dizer numa hora desta? Dei abraços, troquei olhares. Gravei entrevistas. E outras não tive coragem de gravar porque, pra mim, naquele sofrimento, não cabia câmera. Só registro no coração”, escreveu.
EMOÇÃO
Mariana ainda lembrou de algumas histórias que a deixaram impactada e muito emocionada. Veja o relato:
“Ontem conheci o seu Edson. Engenheiro geólogo que trabalhou muito tempo na Vale: ‘o que eu construí em 30 anos com a ajuda da empresa, a própria empresa me tirou em um segundo’. O Edson estava com roupa emprestada. A única coisa que sobrou da casa em que ele morava foram 11 corpos entre os escombros. Um era o da esposa. Ela avisou o jardineiro, que conseguiu fugir junto com a cozinheira, mas a esposa do Edson voltou para pegar o cachorro. Seu corpo foi encontrado com o cão nos braços. ‘História. Foi tudo que restou’, ele me disse.
E eu disse para muita gente que um jeito de não deixar ninguém morrer é carregar para sempre estas histórias no coração. A do Leo também vai comigo. A esposa dele, Daiana, voltou de licença maternidade no dia do rompimento da barragem. Na hora do almoço fez uma ligação de vídeo para o filhinho de 4 meses, o Heitor: ‘espera a mamãe pra te dar banho’. Conheci o Heitor dois dias depois na porta do IML coletando DNA para ajudar na identificação do corpo da mãe.
Enquanto conversava com o Leo, caí no choro e uma enfermeira voluntária que também trabalhou no desastre da Samarco, veio me dizer: ‘A tragédia me ensinou que mais importante do que identificar sinais vitais é a gente perceber o quanto está doente quem não sente a dor do outro. Então chora, chora que faz bem’. Ainda vamos chorar muito. Mas o grande esforço é amar mais. Mais e mais. Os que ficaram e os que foram. Porque saudade é alguém que mora dentro da gente. E eu já tô com saudade de um bocado de gente de Brumadinho”, finalizou.