Vivendo a personagem Justina em ‘Éramos Seis’, Julia Stockler celebra seu primeiro trabalho em uma novela. Para dar vida à filha autista de Emília (Susana Vieira), a carioca teve encontros com pessoas que convivem com a mesma condição da personagem no Instituto Priorit, na Barra da Tijuca (RJ).
“A Justina emana amor e que tem uma sensibilidade muito apurada. Nós pintamos, dançamos, conversamos muito. Foi uma troca muito especial e profunda. Justina nasceu desses encontros, cheio de delicadeza e generosidade”, conta.
A atriz julga o autismo um tema importantíssimo para se discutir em uma novela de época. Ainda mais porque, naquele período, não havia diagnóstico para o transtorno.
Em ‘Éramos Seis’, a personagem de Susana Vieira sente vergonha da filha e a mantém isolada em sua mansão. A personagem também já chegou até a interná-la em uma clínica psiquiátrica.
“Cada indivíduo autista tem a sua singularidade, os seus sonhos, as suas habilidades, e eu acho muito preconceituoso colocar todos em uma única gaveta. Abrir espaço para olhar e pensar os sujeitos excluídos, à margem da normatividade, me parece fundamental”, completa.
NO CINEMA
Julia está no elenco de ‘A Vida Invisível’, que estreou na semana passada. O filme foi vencedor do prêmio Um Certo Olhar, em Cannes, e indicado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer ao Oscar 2020.
Com participação de Fernanda Montenegro, o longa narra a história de duas irmãs que são separadas e têm de enfrentar as dificuldades de uma sociedade patriarcal e machista no cenário do Brasil nos anos 1950. Stockler interpreta Guida, irmã de Eurídice (Carol Duarte).
“Admiro a coragem da Guida. Seu impulso de ir atrás dos sonhos sem medo das consequências e sua sensibilidade por defender até o fim o amor”, declara ela, que torce para o longa conquistar os brasileiros.
O filme ainda se utiliza do amor entre duas irmãs separadas para trazer uma discussão muito profunda sobre a violência que as mulheres viveram naquela época e que ainda vivem hoje.
“O machismo como perversão cultural e fascismo sussurrado dentro das estruturas familiares, a invisibilidade de tantas mulheres que não conseguiram se tornar o que desejavam por imposição do machismo. Mulheres que foram destruídas por serem mulheres. E é sobre essa submissão que precisamos lutar contra”, declara.
CULTURA DESVALORIZADA
Stockler destaca que a Ancine (Agência Nacional do Cinema) está passando por um período difícil, onde a liberdade de expressão está tendendo a ser um “valor negociável”. Para ela, a estrutura de investimento da política no cinema brasileiro está prejudicando a democratização da cultura no país.
“Estamos diante de um governo que me parece não valorizar a cultura em nenhum aspecto. Mas isso não me assusta. É claro que os artistas sempre foram na história da arte os que mais geraram medo e insegurança em governos frágeis e incapazes. Não poderia ser diferente agora”, opina a atriz.