Quem vê as duras broncas que Henrique Fogaça, 42 anos, dá nos participantes do reality gastronômico MasterChef Brasil pode achá-lo um carrasco. Não é. Este papo exclusivo revelou um cara sensível, que se comove com as dores do mundo… Mas que sabe bem a hora de ser exigente!
Qual o papel da gastronomia na sua vida?
Comecei a cozinhar há 15 anos, por necessidade básica: precisava comer, estava me entupindo de comida congelada e sabia que aquilo não me faria bem no longo prazo. Comecei com o trivial e fui ousando. Viciei na cozinha e até hoje não larguei.
Você faz projetos sociais ligados à cozinha também?
Praticamente tudo na minha vida envolve a cozinha. Sou feliz por poder fazer projetos sociais através da gastronomia. Tenho uma filha especial, a Olívia [a menina de 9 anos tem uma síndrome não diagnosticada e se alimenta por sonda], o que potencializou o significado dessas ações na minha vida. Há oito anos o trabalho do Instituto Chefs Especiais, que ensina crianças com síndrome de
Down a cozinhar, criou uma conexão direta com meu coração. Abracei a causa no ato! Também participo de ações com o motoclube In’Omertá MC. Nas nossas motos, levamos doações de alimentos, brinquedos e roupas para instituições carentes. Faço essas e outras ações quase mensalmente, depende da minha agenda. É uma troca muito valiosa, gratificante.
Foi a chegada de Olívia que aflorou esse seu lado?
Ajudar o próximo sempre esteve muito fortemente na minha lista de prioridades. Quando a Olívia nasceu, isso foi potencializado. Ela me deixou mais sensível para as dores do mundo. Ela me ensina diariamente e quero vê-la crescer numa sociedade bacana.
O que é uma sociedade melhor para você? É um país sem fome?
A fome é um problema social que nos acompanha há gerações. Pagamos muito imposto, é justo exigirmos dos governantes uma política séria, que erradique esse problema. Mas não basta reclamar, é preciso agir. Acredito que uma sociedade melhor é aquela que dá oportunidades para todos. Há quatro anos comecei O Mercado, uma feira onde vendo comidas diferentes a um preço justo.
Os pratos custam de R$ 5 a R$ 15. Faço isso porque acredito que todos têm direito de comer uma refeição fora do trivial. É uma gastronomia acessível. Mas atenção: não é só com dinheiro que a gente melhora o mundo. Às vezes, uma conversa ou palavra de
incentivo pode transformar realidades.
Então, essa sua cara de durão é mera fachada?
Sou exatamente a mesma pessoa que você vê na TV. No meu restaurante, sou até mais duro do que no programa. Na minha cozinha, a equipe é uma família bem unida, todo mundo trabalha junto. Mas se alguém errar, eu viro o bicho! Quem participa do MasterChef está lá pra dar a cara a tapa. As pessoas buscam um sonho. Então, que vença o melhor. Por isso é importante apontar
todos os erros e não tem como fazer isso sorrindo. É preciso ser duro!
Acredita que sua função social como cozinheiro está sendo cumprida?
O trabalho do cozinheiro é muito bonito. Ele nutre não só o corpo, mas também a alma e a vida. Minha missão diária, na TV ou fora dela, é inspirar pessoas, mostrando que cozinhar é uma profissão gratificante. Por muito tempo foi renegada, mas está
mudando. Estão nos olhando com outros olhos e isso é fruto de muito trabalho. Hoje, minha vida profissional me deixa bastante contente.
Qual seu maior medo?
Perder as pessoas que amo, minha família. Sou durão na hora que preciso ser, bastante exigente. Mas também sou humano, tenho um grande coração e sou muito sensível. A verdade, a realidade da vida, me comove facilmente.
O que te deixa mais feliz hoje?
Uma fábrica está fazendo uma bicicleta pra Olivia, penso nisso a todo momento. Vai ajudar a estimular a perninha dela. Vou colocar uma bike na frente e sair passeando por aí. Isso não tem preço. É, com certeza, meu maior motivo para sorrir hoje. Fico emocionado de poder proporcionar experiências novas pra ela. (Olivia já fez até um test-drive. Veja aqui bit.ly/2brWjC8)