Em ‘Bom Sucesso‘, nova novela das 7 da Globo, Grazi Massafera, 37 anos, vive uma costureira supostamente à beira da morte que resolve viver intensamente. Mais tarde, porém, descobre-se vítima de uma troca de diagnósticos.
A atriz encara o desafio como uma homenagem às mulheres trabalhadoras que criam filhos sozinhas, situação vivida dentro de casa, na infância. “Me lembrei do quanto minha mãe batalhava e isso ajudou a me tornar uma mulher forte.”
À AnaMaria, Grazi falou sobre o passado, Cauã Reymond, a segurança que, hoje, experimenta ao viver uma protagonista e, claro, do grande amor da sua vida: a filha, Sofia.
Confira a entrevista na íntegra.
O QUE A MOTIVOU A ACEITAR ESSE PAPEL?
Pela homenagem à minha mãe, que é costureira. Ainda tenho muita memória afetiva, ouço o barulho da máquina de costura ao fechar o olho. Quando poderia fazer uma costureira de novo para homenagear a ela e tantas outras Palomas por aí? Me lembrei do quanto minha mãe batalhava e o quanto isso ajudou a me tornar uma mulher forte.
E O QUE TEM DE VOCÊ NO PAPEL?
O resgate a essa coisa popular, o público que fui um dia. Hoje dou entrevista, virei atriz de novela… Saí desse lugar, mas tem a simplicidade, estou amando o resgate, a espontaneidade.
ASSIM COMO A PALOMA, 39% DOS LARES SÃO CHEFIADOS POR MÃES SOLO…
É muita responsabilidade, uma homenagem a todas elas. Me sinto madura para retratar a vida dessas mulheres todas.
A NOVELA TAMBÉM FALA DA MORTE, NÉ?
Na verdade, fala de vida. Se tem algo do qual temos certeza é a morte, que está presente na vida de todos. Porém, como vivemos o dia a dia? Não nos questionamos e nos achamos imortais. Como a Paloma tem uma data para morrer, ela muda e vive intensamente.
E COMO É FAZER ESSA MÃE BATALHADORA?
Agora sou mãe de três, né? É muito diferente. Sou mãe de uma criança, já a Paloma tem filhos adolescentes. Tive a sorte e o prazer de conquistar a independência financeira antes de ser mãe. Isso faz uma grande diferença.
COMO É TER FILHO JOVEM NA FICÇÃO?
A Paloma tem duas filhas adolescentes e o Peter, de 10 anos. Quando minha mãe teve filhos, se separou do meu pai e ficou em uma situação complicada. Com isso, jurei para mim que seria mãe só após conseguir minha independência financeira. Como sou canceriana, a maternidade está na minha veia. Tenho o luxo de contar com o auxílio de pessoas da família e anjos da guarda como funcionários que me ajudam quando estou gravando novela.
A PALOMA TEM OUTRA SITUAÇÃO…
Ela e tantas outras Palomas têm uma situação mais complicada. Imagine ser mãe de três filhos e dar conta da casa, lavar, cozinhar, passar… É tanta coisa! Na fase bebê é mais fácil. Quando crescem chega a hora de educar mesmo e tudo complica. Estou sentindo isso na pele.
A PALOMA É MUITO ESPIRITUALIZADA…
Eu também sou. Fui criada católica e, hoje, acredito em fé, o princípio de tudo. Nós temos a mesma santa de devoção: Nossa Senhora de Aparecida.
VOCÊ SE COLOCOU NO LUGAR DA PALOMA QUANDO ELA DESCOBRE QUE TEM POUCO TEMPO DE VIDA?
Me coloco mais no lugar dela do que no meu. A novela tem muito drama, mas uma pitada de humor e leveza também. Sei que protagonista sofre do começo ao fim, mas vamos lá. Vamos enganar o organismo e os sentimentos.
O QUE FARIA SE SOUBESSE QUE LHE RESTAM APENAS SEIS MESES DE VIDA?
Algo parecido com ela: viveria intensamente. Mandaria tudo para as cucuias e viajaria com a minha filha para todo lado, abraçaria, beijaria, agarraria a minha pequena…
O ENCONTRO DA PERSONAGEM COM O CARNAVAL AGUÇOU A SUA VONTADE DE VOLTAR PARA O SAMBA?
A Paloma tem muitos pontos que me fazem reviver situações. E o lado popular é o Carnaval. Quando pequena, saía na escola de samba da minha cidade. Depois, desfilei no Rio de Janeiro. Tem essa coisa de me colocar em contato com a leitura também. E o Fagundes é uma enciclopédia ambulante, uma biblioteca! Ele nos presenteia com livros divinos. Já estou com uma listinha que ele me deu, não estou conseguindo ler, mas vou ainda. É um presente estar com esse homem.
VOCÊ TEM TANTA INTIMIDADE COM A LEITURA COMO SUA PERSONAGEM?
Não. Lá em casa, quando eu pegava um livro, minha mãe dizia: “Você é vagabunda? Vai trabalhar”. Livro significava não ter o que fazer. Para a maioria dos brasileiros, infelizmente, ainda é assim. Existia essa conotação de não estar fazendo nada quando, na verdade, você está lendo. O hábito de ler deve ser desenvolvido desde cedo. Hoje, leio com a minha filha.
O QUE ESTÁ LENDO?
A Morte É um Dia Que Vale a Pena Viver. Um livro maravilhoso, que ganhei de uma das consultoras da novela. Pensei que a obra falasse de morte. Mas percebi que é sobre a vida, qualidade da vida, como viver aqui… Porque a finitude existe para todos, mas seu tempo é diferente [do tempo] do outro.
A PALOMA VIVERÁ UM AMOR COM O RAMON (DAVID JUNIOR) E UMA PAIXÃO COM O MARCOS (RÔMULO ESTRELA). COMO ELA ADMINISTRA ESSE SENTIMENTO?
Quando descobre que vai morrer e, depois, que não vai mais, ela passa por uma transformação, começa a enxergar a vida de outra forma e a viver coisas que não se daria ao direito, como a paixonite pelo Marcos, algo que não controla. Ele mexe com ela, todo mundo já viveu isso.
E O RAMON?
Ele é quase um amor de infância. Os dois têm uma filha e mesmo que seja algo desgastado, ainda existe aquela raiz.
VOCÊ GRAVOU CENA NA SAPUCAÍ. VOLTARIA A DESFILAR NO CARNAVAL?
Amo, mas é muita função… Gosto do dia do desfile, mas a função toda deixa de ser Carnaval e vira trabalho. E, para mim, Carnaval não é trabalho.
QUANDO DESCOBRE QUE TEM SEIS MESES DE VIDA, PALOMA FAZ UMA LIGAÇÃO. PARA QUEM VOCÊ LIGARIA?
Para todo mundo, falando “te amo” “sinto muito”, “me perdoe”.
DIRIA A ALGUÉM “VAMOS TENTAR”?
Vivi tudo no tempo das histórias e está tudo tão bem resolvido.
O QUE ESPERAR DE ‘BOM SUCESSO’?
Espero que gostem, pois fazemos com carinho. Estamos gravando desde fevereiro. A gente vai falar e questionar a vida. Estamos tendo uma urgência para viver que não condiz com a qualidade de viver. É um questionamento bonito.
PREPARADA PARA A SOFIA JOVEM?
Não [risos]. Fui uma adolescente do interior, que é completamente diferente de ser jovem no Rio de Janeiro. Aqui são muitos atrativos. Então, conto com o auxílio do pai, muita conversa com ela… Eu não conseguia mentir para a minha mãe e sempre dizia a verdade. Criamos uma relação de amizade e tento ter isso com a Sofia.
JÁ PENSOU EM TER MAIS FILHOS?
Lógico!
MAIS QUANTOS?
Ah, não sei. Deixa eu arrumar um pai, aí a gente decide junto [risos].
QUE CUIDADOS TEM COM O CORPO?
Tento dormir melhor, tomo vitaminas, faço ioga… Gosto de esporte, de me exercitar e sou do dia, isso ajuda muito. Levo 2 litros de água todo dia para o estúdio. E o meu maquiador me fala a hora de comer, porque às vezes esqueço.
A INGRID (GUIMARÃES) DISSE QUE VOCÊ ESTÁ TREINANDO COM ELA…
Comecei a iniciá-la no muay thai, no ioga.
NO INSTAGRAM, VOCÊ POSTA FOTOS FAZENDO POSES IMPRESSIONANTES NO IOGA…
A gente vai aos poucos. Com o ioga você vai no limite e evolução do corpo. Eu não suportava. Brinco que é igual comida japonesa, você prova e acha ruim. Aí, vai gostando. Com o ioga, senti a diferença na vida e na profissão. A gente não sabe respirar, ainda mais no mundo em que tudo é urgente. Essa conexão foi importante e estou aflita por não estar conseguindo fazer todos os dias.
ESTÁ FÁCIL SER SOLTEIRA NO RIO DE JANEIRO?
Só trabalho! Não tenho tempo e que bom.
PREFERE ESTAR SOLTEIRA OU GRUDADINHA?
Gosto de namorar, mas com o meu atual ritmo está impossível.
SE IMAGINA LEVANDO A SOFIA PARA CURTIR UMA BALADA?
Sabe que, no interior, eu ia com a minha mãe amarradona. Eu iria com a Sofia, mas só falta ela não querer [risos].
ELA JÁ CONHECE O INTERIOR?
Não consegui levá-la ainda, mas sempre que posso vou com ela para a serra, lugares que trazem essa referência.
PROTAGONISTA DE NOVELA, RAINHA DA PUBLICIDADE… QUAL O SEGREDO PARA CONTINUAR HUMILDE?
Saber que tudo passa e todos morrem [risos]. A gente não é nada. Só quero deixar uma história para minha filha lembrar com orgulho e carinho de mim.
QUE RESUMO FAZ DA SUA VIDA?
Amo malhar, esporte… Não faço pelo corpo, mas pela saúde mental. É hábito e isso a gente conquista. Desde pequena era aquela criança que ia ao Sesc, fazia todas as atividades de lá. Nas férias, me divirto. As pessoas ficam com raiva porque gosto de comer… [risos].
SOFIA TAMBÉM É ASSIM?
Não. Ela falou: “Mãe, odeio esporte”. A facada no peito veio de dentro. Acho que foi um daqueles momentos de provocação. Ela é tão animada como eu, é engraçada…
E TEATRO, ELA FARIA?
Ela brinca disso com as amiguinhas, mas não falou nada sobre o que ama ou não fazer.
COMO É A SUA RELAÇÃO COM O CAUÃ (REYMOND, PAI DE SOFIA). VOCÊS COSTUMAM SE FALAR?
A relação está ótima! Por que a gente não se falaria? O povo inventa coisa…
ISSO A INCOMODA?
Não. Só acho desnecessário.
COMO ADMINISTRA O SEU TEMPO?
Trabalho de segunda a sábado, 11 horas por dia. Fora isso, estou em casa com Sofia e estudando texto. Estou ficando verde, esse bronzeado é de mentira, é um produto [risos].
SE SENTE MAIS PRONTA E RELAXADA PARA VIVER UMA PROTAGONISTA?
Pronta e relaxada nunca, mas me sinto mais segura, sim.
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