“Minhas duas meninas não foram planejadas. Acho que filho é uma dádiva e não planejamento. Filho é o coração da gente batendo fora do corpo. Eu as crio para o mundo. Elas são simples e humildes. Por isso, as ensinei a se defender. A gente conversa muito. E quando tem algum problema, não bato. Bater não é uma maneira de educar. Lá em casa, se tem curiosidade, matamos todas juntas.
A gente debate o tema em família. Desde os primeiros meses de vida delas até hoje, sinto muito medo de não ser capaz de educá-las, de não conseguir sanar uma possível dor delas, de não ser suficientepara o que precisam. Todo dia tenho pavor que aconteça algo com elas. Se entra um espinho no pé delas, quero aquele espinho em mim, quero a
agonia, a febre… Tudo que possa fazê-las sofrer gostaria que passasse para mim.
Mesmo assim, ser mãe é uma dádiva! Não importa se você gera ou adota. Acho que é o maior presente que uma mulher pode ganhar. Muito melhor do que brilhantes, flores… Quando uma amiga está grávida ou vai adotar uma criança, sempre digo para curtirem todos os momentos, pois são únicos. Amo ser mãe!”
LUANA, UMA VIDA DE SUPERAÇÃO
“A Luana foi concebida quando eu estava em um período de descanso do anticoncepcional. Foi um presente na minha vida. Parece que o nascimento dela foi ontem. Eu ficava tão fascinada quando a amamentava… Era uma sensação de leoa. O mundo ganhou outro sentido. Entrei fraca na maternidade e saí de lá preparada para o mundo.
Entrei uma flor e saí uma floresta. A Luana nasceu com síndrome de galactosemia [doença genética marcada pela incapacidade de metabolizar a galactose, o açúcar típico do leite] e um déficit neurológico causado pelo atraso no parto.
Infelizmente, descobri o problema tardiamente. Quando nasceu, tomou o colostro e vomitou. E foi assim toda vez que dava leite a ela. Nós tentamos outros tipos de leite, mas ela sempre rejeitava. Não sabíamos o que fazer.”
RENASCIMENTO
Certa vez, eu e minha mãe Iris [esposa de Silvio Santos] fizemos uma festa para a Luana, mas a menina estava apática. Minha mãe achava que a Luana era surda. Nós, então, fizemos todos os exames existentes e todos eles descartavam uma possível surdez. Nesse período, conhecemos um médico muito capacitado que descobriu o problema, o dr. Glaucio Granja de Abreu.
Nessa época, ela já tinha 1 ano e 1 mês. A descoberta foi um alívio. Eu já tinha passado por um pediatra e um neurologista que negligenciaram o problema. Eles abriram mão da minha filha, me abandonaram. O dr. Glaucio me deu a mão. Quando esse médico descobriu o problema da Luana, ela passou a tomar leite de soja. Um produto que, na época, custava R$ 400. E a minha filha virou outra criança. Ela renasceu! Essa síndrome tem cinco níveis e a Luana teve o mais fraco, foi abençoada nesse sentido.
Hoje ela tem apenas déficit de fala. Nos casos mais graves, a pessoa perde a visão, tem sérios problemas no fígado. Sempre aprendo com a força de vontade dela em querer se superar. O desempenho da Luana nas terapias e fisioterapia é impressionante. Ela sempre surpreende os médicos. Minha filha chegou a ter 98% de escoliose e passou por uma cirurgia.
Quatro dias depois já estava andando. Ela é muito forte, não se deixa abater. Essa menina é um exemplo, uma dádiva. Ela tem hipotonia global [diminuição do tônus muscular e da força] e déficit neurológico altíssimo, mas está viva e me mostra a cada dia que é muito especial. A Luana me ensinou a sempre querer mais, a me superar, a não aceitar o não. A Luana é gratidão.”
AMANDA, A MELHOR AMIGA
“Não imaginava que fosse me separar do pai da Luana, mas aconteceu. Depois de uns três ou quatro anos, conheci o pai da Amanda e engravidei. Porém, nos separamos sete anos depois. Mas a gravidez foi surpreendente de novo: tive três princípios de aborto. Como o pai dela foi morar fora, passei toda a gravidez praticamente sozinha e ainda precisei ser assistida com muita frequência pelos médicos, pois eu estava com suspeita de lúpus.
Eu engordava 800 g e, logo em seguida, perdia 1 kg. Tive que tomar cortisona para amadurecer o pulmão… Meu pai, como sempre, esteve muito presente durante todos esses momentos difíceis. Porém, em meio aos problemas, a Amanda veio muito bem. O pai dela voltou, nós tentamos ficar juntos, mas não deu certo. Hoje, a Amanda é a minha melhor amiga. Ela me ensinou a viver o hoje, me ensinou que, caso eu caia, preciso levantar e dar a volta por cima.
Essa menina não se apega as coisas materiais, por exemplo. Que criança hoje em dia é assim? Ela já me disse: ‘Confie em mim. O mundo pode ser louco, mas eu não. Não precisa se preocupar, pois sei o que é errado’. Morro de orgulho! Quando ela quer, me chama para conversar. Aliás, uma chama a outra para uma conversa quando necessário.
E eu sempre sei que será um bom papo. Criei a Amanda para ser alguém muito forte. Estou sempre presente na vida dela, ela sabe onde me achar quando precisar.”