Uma campanha publicitária de uma importante seguradora brasileira me tocou na semana passada. E olha que não sou daquelas que se comovem fácil, não. Mas a criação da agência AlmapBBDO, com a linda música “Novo Tempo”, de Ivan Lins, sintetizou um pensamento que acalento desde que a pandemia varreu a nossa rotina para baixo do tapete: este ano emblemático de 2020 valeu a pena, sim.
Na propaganda, vemos pessoas com seus “feitos” de 2020 descritos nas máscaras: “tive um filho”; “aprendi violão” e “me formei” são algumas das frases que aparecem.
A boa sacada está justamente no fato de sair do lugar comum, sem enaltecer ideias surradas de que o isolamento serviu para praticarmos autoconhecimento, ficarmos mais tempo juntos com nossas famílias, cultivarmos hortas e tentarmos a meditação. A mensagem central é ainda mais singela e, por isso, eficiente: a vida não está nem aí se tem vírus ou não. Ela simplesmente acontece. E passa.
Para quem acorda todo dia com saúde, é necessário seguir em frente com todos os “apesar de”: apesar das máscaras que nos sufocam; apesar da vontade de abraçar e beijar como antes; apesar da falta que festas e viagens fazem; apesar do álcool gel; apesar dos medidores de temperatura opressivos em formato de pistola; apesar das mesas afastadas; apesar de não termos mais cinema, teatro, shows e jogos com plateia e apesar do grande medo de que a doença chegue e faça estragos em nossos núcleos familiares e de amigos.
Conheço gente que se negou a comemorar aniversário em 2020 e fez questão de não parabenizar ninguém propositalmente, como uma forma de protesto por um ano que, segundo a linha de raciocínio, não estava compensando. Seria ótimo se fosse assim: voltaríamos aos fogos de artifício do último 31 de dezembro, impedindo o “ano novo” de decolar: “esperem aí que está com problema em uma das turbinas, aguardem na sala de embarque, que vamos tentar resolver o mais rápido possível para poderem embarcar”.
RODA-VIVA QUE NÃO PARA
Mas lá se vão os 12 meses e estamos todos um ano mais velhos, sem direito a chilique. Passado o susto inicial, viveu melhor 2020 quem optou por não prender a respiração, tomou fôlego e atravessou as águas turbulentas da pandemia.
Por esta razão, parabenizo os que chegaram até aqui, entendendo que a roda viva não para: mesmo neste ano todo estranho, coisas ruins e boas continuaram acontecendo, como acontecem sempre, desde que o mundo é mundo.
Aprender a celebrar desde as grandes conquistas até aquelas mais simples ajuda a aceitar 2020 como um ano útil, que não serviu apenas para frustrar nossos planos, mas que também agregou do jeito que deu. Ao invés de reclamar de tudo o que gostaríamos de ter feito, mas não foi possível, vamos tirar os óculos escuros e dar uma olhadinha na nossa capacidade ímpar de ter emprestado um pouco de normalidade a este ano que já está ficando velho, mas que, como todo bom ancião, teve muita sabedoria para transmitir.
Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: walreisemoutraspalavras.com.br