Xênia Bier morreu aos 84 anos, nesta segunda-feira (24). A apresentadora e colunista tornou-se conhecida do grande público por seu estilo feminista, que marcou toda uma geração por suas participações no rádio e na TV. Durante sua carreira, Xênia também foi colunista de revista AnaMaria no período entre 2006 e 2017, sempre incentivando as leitoras com mensagens de autoconfiança, perseverança e liberdade.
Quem trabalhou diretamente com Xênia neste período foi Luciana Bugni, que atualmente tem uma coluna no UOL, mas trabalhou como editora da revista AnaMaria no período entre 2011 e 2018. Em um depoimento especial para AnaMaria Digital, ela conta que falou com Xênia semanalmente, durante muitos anos, e que todos esses ensinamentos foram fundamentais para a sua carreira. Leia o depoimento completo:
LIGAÇÕES SEMANAIS
“A gente se falou por telefone, semanalmente, durante muitos anos. Tem um alarme no meu celular até hoje para ligar, acho que era na tarde de terça, sempre às 15:30. Eu ligava porque ela não tinha acesso ao computador, já que não queria mexer na internet.
Aí a Xênia escrevia à mão a coluna e me ditava. Eu pegava e já ia editando uma parte. Essa conversa poderia durar 10 minutos, mas sempre era longuíssima porque conversávamos muito sobre programação de TV. Ela tinha muitas ideias de pauta, principalmente de novelas, que assistia muito, porém dando um viés mais comportamental.
Eu diria que absorvi demais na minha carreira essa característica dela. Já usava antes, mas quando mudei de trabalho, empreguei em quase tudo. Hoje, como colunista do UOL, o que eu mais utilizo é esse viés de pegar o que está ali no comportamento das celebridades, ou das novelas, e fazer um texto comportamental. Essa troca com ela sempre foi muito rica.
A Xênia também me contava muitas coisas de sua vida, pois foi uma pessoa que trabalhava há muito tempo: detalhes de como era viver em São Paulo na década de 1950, o começo da TV… Era uma pessoa incrível e super mística, pois sempre falava de várias coisas espirituais.
ALÉM DE TRABALHO
Definitivamente, não tínhamos uma relação apenas profissional e fiquei bem chateada com a notícia [da morte]. A última vez que a gente se falou foi em fevereiro deste ano, um pouquinho antes da pandemia. Pensei em ligar para ver como ela estava em vários momentos depois, mas não consegui fazer isso.
Na última conversa que a gente teve, a Xênia contou que estava com muita dificuldade de enxergar, mas, como sempre, estava 100% lúcida. Acho que a pouca visão atrapalhava muito para ver TV e fazer as coisas, então ela estava um pouco chateada com isso, mas conversamos sobre o Brasil e ela também perguntou do meu filho (sempre perguntava), e até me convidou para ir na sua casa. Falei que tinha mudado de emprego, e agora não teria mais plantões. Por isso, iria na casa dela em algum domingo, mas logo começou a pandemia e esse plano foi adiado”.