Os livros de Martha Medeiros são fáceis de achar, seja qual for a livraria, afinal, provavelmente estarão com os mais vendidos. Sucesso entre o público, a gaúcha começou na publicidade até se arriscar na poesia. Publicou alguns livros e migrou para as crônicas, quando passou a escrever colunas em jornais. Desde então, não parou de exercer sua maior paixão: a de colocar seus sentimentos no papel. Confira nossa conversa com a escritora, que aconteceu no 11º Encontro de Mulheres, organizado pelas Farmácias Pague Menos, em Fortaleza (CE).
De onde tira inspiração para os seus textos?
Ah, nem me fala! [risos]. Já são mais de 20 anos escrevendo colunas para jornal… As pessoas têm uma ideia de que os escritores
ficam deitados em uma rede, de que a inspiração cai no nosso colo. Mas não é assim, né? A gente tem que estar sempre ligado.
Vivo com o radar voltado para tudo o que acontece à minha volta: nas cenas de rua, nas notícias do telejornal, nos papos de amiga, nas coisas que acontecem comigo ou com pessoas próximas… Estou sempre atenta para saber o que pode despertar uma reflexão. Então, acabei me treinando, tiro tudo do cotidiano. E há muitas coisas que me intrigam de forma pessoal. Acabo desenvolvendo-as nos textos. É quase como se estivesse fazendo uma autoterapia, que depois é compartilhada. O jeito é estar ligada 24 horas!
Então a importância está nos detalhes...
Isso. Porque absorvemos tudo com rapidez, não temos tempo de pensar em nada. Então, a vontade que tenho é de pegar as coisas que parecem triviais e trazer mais para perto. Ter um olhar mais focado sobre elas. Eu falo muito sobre as relações humanas! E a gente acaba vivendo no piloto automático, vive um dia depois do outro sem parar pra pensar no que está sentindo. Às vezes, até
nos acostumamos com as nossas próprias ideias e não nos damos conta de que já mudamos, não pensamos como antes. Só não tivemos tempo para refletir sobre essas mudanças. Então o que eu faço, na verdade, é trazer esse tipo de assunto para uma estrutura, de maneira que as pessoas possam pensar mais sobre si mesmas.
Acha que é por isso que elas se identificam tanto com seus livros?
Trato de assuntos profundos de uma maneira muito simples. Parece até uma coisa superficial, mas não é. E as pessoas percebem: aquilo ali, que aparentemente é simples, na verdade é fundamental para o bem-estar e para a felicidade delas. E são coisas que acontecem entre quatro paredes da casa da gente. Porque vivemos hoje em uma sociedade do espetáculo, né? Parece que você só vai ter uma vida legal se tiver uma grande casa, um grande amor, muito dinheiro, tudo digno de capa de revista. E o que acho importante é mostrar para as pessoas que a vida pode ser muito grandiosa sendo simples. E existe felicidade no que acontece no nosso pequeno grupo, na nossa família, amigos… Isso é uma riqueza, isso é a grande riqueza, na verdade.
Ultimamente, estamos presenciando um movimento de união das mulheres. Você acha que essa é uma tendência?
Sim. Só não acredito que seja uma questão de poder, porque poder parece uma coisa de dominação. A gente não tem que dominar nada! Precisamos é de autoestima e de consciência de quem somos. Estava comentando com alguém esses dias: [1] temos que começar a nos dar conta de que, às vezes, é melhor estar sozinha do que estar com um homem covarde, agressivo. A mulher tem que começar a trabalhar isso: ela não precisa necessariamente ter alguém para ser alguém. Então o mais importante (e que envolve até a questão da violência doméstica) é isso: a mulher precisa estar abraçada à sua integridade para que possa fazer melhores escolhas sobre com quem vai viver, se relacionar. Ela deve pensar: ‘Eu posso fazer as coisas do meu jeito, tenho os meus direitos. E não preciso ter alguém do meu lado para ser maior do que sou’. Ela tem que se bastar para depois fazer boas escolhas e estar
com gente legal em volta.
Alguns dos seus textos são bem pessoais. Você não tem medo de se expor?
Tenho um autocontrole sobre isso: exponho o que eu quero expor. Claro que, se algo é muito íntimo e não quero que saibam, não
falo. Mas, inevitavelmente, estou em uma janela. E é engraçado: as pessoas me cobram depois. Porque um dia escrevi sobre um
assunto, mas depois mudei de ideia sobre aquilo, e elas continuam lembrando… Então é uma relação delicada, mas faz parte do pacote. Não tem como a gente escrever e não querer se expor. Uma coisa está ligada a outra, mas é possível controlar. Eu não
preciso ser exemplo de tudo o que estou escrevendo. Escrevo sobre coisas que penso, mas nem tudo é sobre o que eu vivo.