Nunca os recursos tecnológicos foram tão múltiplos e acessíveis. “Isso aumenta a gama de ferramentas com as quais estamos conectados e queremos interagir”, observa a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudo em sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (SP).
E com tantas opções atraindo a atenção, lá se vai o pouco tempo que resta na nossa rotina atribulada e que poderia ser dedicado — ao menos em parte — a quem amamos. Os números confirmam essa teoria. Pesquisa do Reino Unido com 15 mil entrevistados concluiu que a frequência média de sexo dos casais é inferior a cinco vezes por mês.
Os responsáveis pelo estudo atribuíram a culpa ao fato de que, cada vez mais, as pessoas levam aparelhos tecnológicos para o quarto para acessar e-mail, Facebook, Instagram, Whatsapp… e se desapegam do que realmente interessa num relacionamento.
Ou eu ou ele!
Um estudo envolvendo 2,5 mil entrevistados, com idade entre 18 e 30 anos, revelou que a maioria prefere ficar sem fazer sexo a deixar os smartphones de lado. Opa, tem alguma coisa muito errada nesse costume, não tem não?
“A tecnologia e, sobretudo, a internet podem representar interferências importantes nas relações. E o que se nota no consultório é que as pessoas estão cada vez mais individualistas. Se elas têm uma brecha na agenda, preferem se autossatisfazer. Por isso, a virtualidade se tornou tão forte: você vai direto para o que lhe agrada e fecha o que é desinteressante. Não precisa conversar, discutir, elogiar…”, comenta o psicólogo e terapeuta sexual Arnaldo Risman (RJ). Já se relacionar com o outro demanda uma dedicação para agradar que os jovens não parecem dispostos atualmente…
Além disso, ninguém quer ficar de fora do que está rolando e correr o risco de não fazer parte do grupo. Difícil achar um meio termo assim, não?
O melhor da vida está off-line
É claro que a tecnologia oferece possibilidades incríveis e precisa ser incorporada à nossa vida. “Mas tem que ser na medida certa, pois não deve substituir a conversa, o afeto, o sexo”, pondera Carmita. Conviver e se relacionar são coisas complexas e que dão
mais trabalho do que navegar na internet ou se divertir em aplicativos. “Entretanto, as relações pessoais costumam ser mais compensadoras”, ressalta a psiquiatra. Na sua casa já existe o distanciamento? Compartilhe o seu descontentamento com o parceiro. “Verbalize, mostre que a atenção dele lhe faz falta e que o contrário também é verdadeiro”, diz Risman. Muitas vezes, esse toque é suficiente para que o parceiro reavalie a conduta e mude as atitudes. Mas é melhor garantir, certo? Então, crie algumas regrinhas para o uso dos aparelhos eletrônicos quando vocês estiverem juntos. E observe como você está lidando com a questão: não adianta cobrar dele se você faz igual…
Pequeno guia de desintoxicação digital
Inspire-se nestas ideias e implante-as pouco a pouco. Deixe claro para ele que não é implicância, e sim o desejo de aproximação. Mas tenha paciência: nenhuma mudança real de atitude ocorre da noite para o dia! E se você começar uma briga por causa desse assunto, vai afastá-lo ainda mais…
1 ORGANIZEM A ROTINA VIRTUAL
É como se faz com o cotidiano: estabeleçam horários para checar e-mails, visitar os sites favoritos e atualizar as
redes sociais. Você verá que o dia vai render mais, já que uma tarefa não irá se sobrepor à outra.
2 COMBINEM UM HORÁRIO PARA SE DESCONECTAR
Isso mesmo: desliguem a conexão wi-fi e de dados dos aparelhos móveis em períodos predeterminados, sem dor na consciência. Se alguém realmente precisar se comunicar com vocês, vai acabar ligando.
3 NÃO LEVEM O CELULAR PARA O QUARTO
Habituem-se a deixá-lo em outro cômodo. “Só combinar que não vai usar, muitas vezes não funciona. É melhor tirar do alcance para evitar a tentação da luzinha piscando e do som de alerta de mensagem”, sugere Carmita Abdo. Para isso, vale até comprar um despertador. Sem desculpas…
4 DEIXEM PARA SE CONECTAR QUANDO ESTIVEREM SOZINHOS
Privilegie o contato real com o marido, os filhos, os amigos… A menos que seja imprescindível, não espie a rede social ou mande mensagem na companhia de outras pessoas.
5 ESQUEÇAM O FACEBOOK
Esperem até o dia seguinte para ver o que está rolando nas redes sociais. Afinal, nada é tão importante no Facebook, no Instagram… Deixem de lado o sentimento de urgência e a necessidade de checar as contas on-line o dia todo ou a noite inteira.
6 BUSQUEM UM TERAPEUTA
Se não conseguirem mudar, procurem ajuda. “A dependência é caracterizada por sensação de perda da liberdade de escolha; percepção de que o hábito nos prejudica; e empobrecimento do repertório”, diz o psiquiatra Aderbal Vieira Jr (SP).