Entre parecer perfeita e ser sincera, Deborah Secco escolheu a segunda opção. A atriz, de 40 anos, não foge de respostas e, às vezes, assusta as pessoas com tanta franqueza.
Ela sabe que paga um preço alto por expor o que acredita, mas se sente mais confortável em poder dar voz ao que realmente acredita.
“As pessoas brigam comigo, dizem que preciso falar menos, mas essa sou eu. Amo ser assim, transparente. E não tenho vergonha disso, sou humana, erro pra caramba, mas também aprendo”, garante a intérprete da Alexia em ‘Salve-se Quem Puder’.
E é a entrevista dessa mulher de verdade para AnaMaria que confere a seguir, falando sobre novela, a filha Maria Flor e o relacionamento com Hugo Moura.
QUEM É A ALEXIA?
Embora ela assuma um segundo nome, acaba sendo a maluca de sempre. Alexia é doida, engraçada, dramática e tem duas compulsões: comida e homens. Isso a torna muito próxima de nós, mulheres, porque temos essa relação com a balança e, às vezes, estragamos a nossa vida com uns boys mais ou menos. Ela ama atuação, o universo de filmes, teatros… A Alexia cita e reproduz cenas de muitos filmes, tem bordões ótimos como “minha nossa senhora da musculação”, “minha nossa senhora da banda larga”, “minha nossa senhora da lerdeza”… Adoro quando ela fala “meu amor, eu sou Alexia, eu sou o máximo”, porque o nome dela é Alexia Máximo.
GOSTOU DE VOLTAR PARA A COMÉDIA?
Eu estava há muito tempo sem fazer uma novela de comédia, estava louca para voltar, brincar… Desde que a minha filha nasceu, as coisas mudaram um pouco. Minha realização era toda no trabalho, mas hoje estou muito em casa e essa novela está sendo leve para mim, tenho vindo para gargalhar, me divertir e está uma delícia.
SE INSPIROU EM ALGUÉM PARA COMPOR A PERSONAGEM?
Na Claudia Raia. Nessa coisa do musical.
CONSEGUIU TROCAR FIGURINHAS COM ELA?
Não tive tempo, foi tudo muito corrido e a Claudia estava em Verão 90. Quando ela terminou a novela, a gente já estava gravando. Mas eu assisti a tudo da Claudia: tem um personagem dela pela qual sou apaixonada, a Adriana, de Rainha da Sucata [1990]. Ela fazia aquela bailarina desengonçada com o Antonio Fagundes. Estou tentando muito chegar àquele lugar. Sei que falta muito ainda, porque a Claudia é diva, mas aquela personagem marcou a minha história.
COMO FOI GRAVAR COM A GALINHA DE ESTIMAÇÃO DE ALEXIA, A FELIPA?
Essa é a parte mais difícil da novela. Felipa é mais estrela. Às vezes, ela fala, às vezes não, ela tem o tempo particular dela. É muito divertida a relação da Alexia com a Felipa. Elas conversam por horas e a Alexia escuta a Felipa. E Alexia é bem louca, acredita naquele cacarejo [risos].
TER SE TORNADO MÃE AJUDA NA HORA DE SER LÚDICA NA NOVELA?
Sempre fui lúdica. Minha vida sempre foi fantasiosa, sempre criei personagens, brinquei de ser outras pessoas antes mesmo de atuar. Agora está sendo um lúdico que a Maria Flor [filha de Deborah] pode assistir. É a primeira em que ela verá a mãe na TV, ultimamente ela só vê o papai [o ator Hugo Moura vive o personagem Daniel, em Malhação].
VOCÊ MUDOU O CABELO…
Olha, gostar não é mais uma possibilidade… [risos]. Confesso, prefiro cabelo curto, principalmente no verão. Depois de muito tempo de cabelo curto, tá sendo difícil usar megahair. A cor eu adoro.
E OS CUIDADOS COM OS FIOS?
A gente não consegue ter muito cuidado por causa da rotina de gravação. Eu, Juliana Paiva e Vitória Strada estamos gravando seis dias por semana, onze horas por dia. E ainda tem umas cinco horas em casa decorando texto. A nossa rotina está bem puxada.
A ALEXIA VENCERÁ A LUTA QUE TERÁ COM A BALANÇA?
Na verdade, ela não tem uma luta com a balança, ela tem uma luta com a própria visão que ela tem dela. Ela tem uma visão deturpada.
ELA LEMBRA ALGO QUE VOCÊ JÁ FEZ ANTES, NÉ?
A Alexia mistura um pouco da Darlene [Celebridade, 2004], um pouco da série Louco por Elas [2012], da Natalie [Insensato Coração, 2011], que são as personagens de comédia que já fiz. A gente se repete um pouco porque a gente não é Deus e tá longe de ser a Fernanda Montenegro.
SE IMAGINA NA SITUAÇÃO DA PERSONAGEM, QUE DEIXA TUDO PARA TRÁS E COMEÇA UMA NOVA VIDA?
Não consigo me imaginar deixando a minha filha para trás. Podendo levar a minha filha, acho que ia ser massa.
E DEIXAR A CARREIRA DE ATRIZ?
Ia ser massa, viveria acampando. Mas a novela mostra uma proposta de pensamento muito interessante: será que o que você sempre sonhou é de fato o que vai te fazer feliz? Alexia está em busca do que sempre desejou, de repente acontece um negócio e ela vai para um caminho completamente diferente. E ela pode ser muito mais feliz. Adoraria ter essas possibilidades de tentar fazer diferente. Penso em tentar morar fora, em uma cabana no meio do nada, sei lá.
QUAL É O SEGREDO DE UMA CARREIRA TÃO CONSOLIDADA?
Não sei se tem segredo… Acho que é o resultado de muito anos de trabalho. Amo o que faço, então, me entrego aos meus personagens e trabalhos. Além disso, sou profissional, correta e também tive muita sorte.
E COMO TER ESSE CORPO AOS 40 ANOS?
Genética abençoada! Além disso, algumas das minhas personagens que fizeram muito sucesso eram sexy, gostosas… Então, o povo confunde um pouco. Eu mesma não tenho esse apelo todo, mas tudo bem, aceito os elogios.
TEM MALHADO?
Fiquei cinco anos sem malhar, desde que minha filha nasceu. Agora estou tentando voltar. Mas estamos gravando muito, duas vezes por semana é o que está dando. Além da novela, tenho filha, marido. Não faço nada, genética é o que conta mais.
PENSA EM TER MAIS FILHOS?
Penso, mas nesse momento estou trabalhando muito. Existe um impasse: quero muito ter um segundo filho e o Hugo quer muito adotar.
EM 32 ANOS DE CARREIRA, O QUE FALTA ARTISTICAMENTE?
Não tenho muitas ambições diferentes de atuar. Escrevo as minhas coisas, talvez escreva uma peça, estou pensando nisso, mas amo atuar. Meu barato é dar vida às mulheres diferentes de mim. Poder me transformar nelas, conhecer mulheres diferentes de mim. Quero fazer isso até ficar velhinha igual a dona Fernanda Montenegro.
SONHA COM ALGUMA PERSONAGEM?
Difícil… Fiz todos os personagens que sonhava. Agora fico alternando: comédia e drama, mocinha e vilã. Claro, ainda devem ter personagens que farei e serão inesquecíveis, mas ainda não as conheço. Sempre busco personagens que me motivem, me excitem.
O QUE ESTÁ ESCREVENDO?
Uma peça sobre a minha vida, mas não sei nunca se a farei.
QUAL FOI O MAIOR ENSINAMENTO QUE GUARDOU PARA VOCÊ DESSE UNIVERSO?
Quando fiz Bruna Surfistinha, uma garota de programa me falou: “Deborah, a gente não é como a gente quer ser, a gente é como a gente consegue ser”. Foi uma grande lição. A gente tem muito julgamento alheio: “A fulana está gorda, magra, bonita, com homem bom, com homem ruim…”. Tá todo mundo tentando ser o melhor que pode. Todo mundo dando o seu melhor e nem sempre o nosso melhor é o que a gente quer. Precisamos ter mais compaixão com o melhor das pessoas. E aceitar que temos defeitos.
SE ARREPENDE DE ALGO?
De nada, porque tudo que fiz, fez com que me tornasse a mulher que sou hoje. Claro, faria diversas coisas diferentes na minha vida, porque graças a Deus amadureci, aprendi com as lições que a vida me deu, mas não me arrependo de nada. Caso contrário não chegaria ao lugar em que eu estou hoje e ele é maravilhoso, não abro mão dele.
DO QUE SE ORGULHA?
De ter construído uma história profissional em cima de muito trabalho, dedicação, profissionalismo e entrega. De ter construído a minha família da forma como ela é. Tenho um relacionamento que nem nos meus melhores sonhos eu poderia ter. Tenho um parceiro, um companheiro, um cara que me admira como sou, com meus erros e acertos, qualidade e defeitos. O meu maior acerto é a minha filha, que veio pronta, me dando aula. Outro dia, falei: ‘Filha, você é a mais linda”. E ela disse: “Não, mamãe, todas são lindas iguais”. Minha vida é muito boa, sou muito grata, privilegiada.
AS PESSOAS TE RESPEITAM MUITO POR VOCÊ SER ACESSÍVEL E DE VERDADE?
Acho que tem vários motivos. Pago um preço alto por ser de verdade, mas essa sou eu. Às vezes, as pessoas brigam comigo, dizem que eu tenho que falar menos, mas essa sou eu. Eu amo ser assim, eu sou assim, transparente, e não sou perfeita mesmo. E não tenho vergonha disso, sou humana, erro pra caramba, mas também aprendo, ouço os outros, estou aqui para trocar. E tem gente que não é assim e o público também gosta. O público tem uma relação comigo porque estamos aí há muito tempo, todo mundo me viu crescer. Existe o carinho de acompanhar uma vida.
COMO É A SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO?
Amo trabalhar, amo vir para o Projac. Fico nervosa como se fosse a minha primeira novela. Amo atuar e falo que se eu não atuasse, seria esquizofrênica. A minha vida é ficar falando sozinha. Quando não estou gravando, falo textos de novelas que já fiz. Sou bem louca. Atuar é o que me acalma. Hugo diz que eu sou uma pessoa melhor trabalhando. Eu amo trabalhar e quando trabalho fico completa.
O ARTISTA COSTUMA TER MUITA VAIDADE. COMO VOCÊ CONSEGUE SE DISTANCIAR DISSO?
Cada vez mais estamos tentando acabar com a competitividade, fazer uma coisa mais empática, em que todo mundo torce por todo mundo, enxerga no outro as dificuldades e os merecimentos. Faço parte dessa corrente. Torço pelas pessoas como torço por mim. E acredito que quanto mais for assim, mais o mundo cresce. Torcer contra alguém só te faz mal e eu quero me fazer muito bem. Fico feliz com essa corrente empática que estamos pregando. A vida é tão difícil, melhor a gente se unir, se amar, se jogar junto.
COMO DEFINIRIA SUA PERSONALIDADE EM UMA PALAVRA?
Acho que compulsiva.
COMO CRIAR UMA MENINA NESSE UNIVERSO QUE CONTINUA MUITO MACHISTA?
Tenho que virar feminista ativa. A gente tem que salvar o mundo por essa criança. Claro, vou errar muito, mas estou aí com toda a humildade para conversar com pessoas que sabem mais do que eu sobre o assunto.
COMO É A SUA RELAÇÃO COM A DANÇA?
Fiz dança a minha vida inteira. Cantar para mim é mais difícil. Mas para a novela eu intensifiquei as aulas de canto também.
COMO TEM SIDO A ROTINA COM A MARIA FLOR?
Uma loucura! Mas acho importante para ela ter a referência de uma mulher que trabalha, independente, que vai atrás das suas coisas. É aquilo, o faça o que eu faço funciona mais do que o faça o que eu digo. Busco ser um exemplo para ela de uma pessoa que nunca dependeu de ninguém. É o que eu desejo para a Maria Flor.
O HUGO TAMBÉM ESTÁ EM UMA NOVELA…
Mas a gente consegue se dividir. Minha mãe também está ali, mora no mesmo condomínio. Isso ajuda muito. A família dá uma mão.
VOCÊ GOSTA DE FAZER NOVELA MESMO. SEMPRE DEFENDEU.
Amo. Acho novela um grande desafio. Você tem que se vencer, vencer a falta de tempo, de possibilidades, de preparação, de condições… A gente faz um milagre. Gravamos 20, 30 cenas por dia, coisa que não se faz em nenhum lugar no mundo. Mas também gosto muito de fazer filme, fui muito feliz em Bruna Surfistinha e Boa Sorte. Sou muito feliz fazendo teatro também. Acho que atuar é isso, estar disponível para qualquer veículo.