Escrevo esta coluna em um sábado preguiçoso, curiosamente quieto… E o passado que mora em mim acabou me remetendo à Avenida Paulista. Há muitos anos, eu jovem – e, modéstia inclusa, linda –, saindo do trabalho e recebendo como presente um espetáculo de imensa beleza! Naquele tempo, ela era estreita, de mão dupla, poucos carros e, de ponta a ponta, ipês formavam um lindo túnel de flores amarelas e lilases, forrando o chão com um tapete que dava dó pisar.
A Avenida Paulista era o lugar preferido de moradia dos barões do café. Gente muito rica, os chamados paulistas quatrocentões. Entre eles, havia também italianos. A família Matarazzo era a mais famosa: italianos que fizeram fortuna no Brasil. Hoje, o palacete que se transformou em estacionamento, não causaria tanta admiração. Mas, naquele tempo, era um castelo encantado. Quando passávamos pela calçada, tínhamos o cuidado de não falar alto ou bater o salto do sapato para não incomodar a baronesa! A Casa das Rosas tinha um jardim enorme, e as rosas exalavam um perfume suave, porém, que poderia ser sentido de longe.
Mas tudo acabou. Foi expulso em nome do progresso. A avenida abriu-se, derrubando os casarões e os jardins. Os carros precisavam passar empesteando o ar com seus motores! A novela Além do Tempo me traz um pouco daquela época, não posso negar, pois mora em mim, mesmo correndo o risco de ser chamada saudosista. Às vezes, para viver o presente, é preciso buscar forças no passado.
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