Se você passou dos 40 – ou até antes disso – tem altas chances de ter se deparado com uma situação mais ou menos assim: um ser humaninho, normalmente com menos de 20 anos, que se refere a você como se estivesse diante de uma peça encontrada em um sítio arqueológico ou de uma samambaia que, como todo vegetal que se preza, tem pouco a contribuir com as questões de ordem da Geração Z.
O que mais intriga são os adultos dotados de QI normal, que vestem a carapuça e, na presença de adolescentes, se sentem constrangidos, como quando estamos entrevistando um ganhador do Prêmio Nobel. Aceitam pacificamente a cara de saco cheio ao abrirem a boca para argumentar, quase pedindo desculpas por estarem ali, respirando o mesmo ar que a divindade presente. Um misto de medo do pequeno aprendiz de tirano e idolatria por essa geração que se vende como muito evoluída.
Não raro, vejo pais, mães e até professores tentando travar algum diálogo com este público, caindo dois patamares na evolução da espécie, usando, sem muita habilidade, um dialeto aprendido às pressas na internet. A resposta? Geralmente monossílabos entredentes, que se assemelham a uma linguagem tribal, enquanto a atenção se mantém no game do smartphone.
Ok, via de regra, esses nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010 chegaram em plena revolução digital e se adaptaram facilmente ao mundo que encontraram ao verem a luz. Mas isso não os faz super humanos, acima do bem ou do mal e muito menos salvadores da pátria. No máximo, os faz ser o que são: jovens.
O que deprime é observar nas gerações anteriores uma veneração destemperada por quem já acha que, literalmente, nasceu sabendo. O contra-argumento aqui pode vir fácil: “mas todo adolescente acha que nasceu sabendo”. Verdade. A diferença é que agora outros, além deles, acreditam nisso.
Em um comentário baby boomer, arriscaria que, para boa parte dos teens, o que sobra em habilidade na tecnologia falta em inteligência emocional e empatia para ouvir e se interessar pelo o que, não necessariamente, faz parte do universo em que habitam. E o que não compreendem costumam desprezar.
VELHINHOS SARADOS
Mas os “velhinhos” de 40 e muitos são meio diferentes hoje em dia. Cuidam, literalmente, da cabeça: disfarçam cabelos brancos, quando lhes convêm, com tinturas modernas, mechas e balayage ou até arriscam cores mais ousadas porque querem ver refletida por fora a juventude que continuam sentindo por dentro. E, internamente, sabem que ainda sobra muito giga de espaço para erros e acertos.
Esses anciões modernos – que tratam de manter a boa forma não só pela saúde, como recomendariam os médicos, mas para, deliberadamente, seguirem despertando olhares de cobiça – teriam muito a dizer àqueles que imaginam que experiência é um aplicativo que se baixa no celular.
Mas, sinceramente? Desperdício de tempo contar essa história a quem quer apenas conhecer as hashtags. E tempo é algo que aprendemos a valorizar quando ele começa a rarear. Por isso, acho mais saudável tentar aplaudir menos aqueles que sobem ao palco da vida de costas para a plateia porque o silêncio da claque pode ensinar mais do que mil palavras.
*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: walreisemoutraspalavras.com.br