Na primeira fase
de Além do Tem-po, a condessa Vitória era uma mulher prepotente, que guardava um grande rancor do passado e botava medo em todo mundo. Sua grande tristeza era a ausência de Bernardo (Felipe Camargo) – filho que ela mesma internou em um hospício e deu como morto (vixe!). Mas, agora, reviravolta à vista:
150 anos depois de ser uma ricaça esnobe, Vitória volta em sua próxima encarnação como uma mulher bem amargurada que fugiu da Itália, onde nasceu, para viver um grande amor. Na Europa, deixou o marido e a filha pequena, Emília, que nem imagina estar viva. E passa por um perrengue financeiro com a falência de sua vinícola, no sul do Brasil. Que mudança, hein?
Uma das propostas de Elizabeth Jihn, autora da novela, é fazer pensar no que acontece com a personalidade das pessoas quando têm muito dinheiro disponível – uma reflexão interessante nesta época que vivemos no Brasil, de seguidos escândalos de corrupção.
Pessoalmente, Irene torce para o público não perdoar sua personagem. “O brasileiro tem essa mania de esquecer as vilanias, basta o ator dar um pouco de humanidade ao personagem. Fora da novela também é assim, vamos esquecendo os erros dos políticos e assim por diante. Não se pode perdoar o que a Vitória fez”, conta.
Vitória vai voltar 150 anos depois na pele de uma mulher pobre. Você acha que ela deixa de ser vilã?
Vitória vem amarga e triste. Ela tem uma amargura perceptível. A tristeza ela não demonstra para todos, é mais quando está sozinha, com o enteado Bento [Luiz Carlos Vasconcelos]… Ela vive dentro de uma capa. E ainda tem o nariz em pé.
Ela vai pagar pelas maldades que fez?
Eu espero que todos os personagens se transformem, pois isso é marcante dentro das obras da Elizabeth Jhin. E é isso que a novela propõe: que as pessoas mudem seu carma, revertam suas atitudes do passado para algo mais próximo de uma convivência saudável.
Todos merecem uma segunda chance?
Acho uma maravilha ter uma segunda chance. Só que nem todo mundo merece. Acho mesmo que tem gente que deve arder no fogo do inferno, não tem jeito [risos].
A condessa foi muito cruel. O público perdoa?
O brasileiro tem essa mania de esquecer as vilanias, basta o ator dar um pouco de humanidade ao personagem. Fora da novela também é assim, vamos esquecendo os erros dos políticos e assim por diante. Mas não dá para perdoar o que ela fez.
A convivência dela com o filho na última encarnação foi problemática. E nesta, como será a relação com Emília, que será sua filha?
Acontece uma coisa bem interessante nesta nova fase. O Alberto [Juca de Oliveira] e o público sabem que Emília [Ana Beatriz Nogueira] está viva, mas Vitória não sabe que é aquela Emília. Para ela, está morta. E ela não comenta sobre a filha
com ninguém, pois é um passado tão doloroso…
A condição financeira influencia no caráter da pessoa?
Muda. Lógico que muda! Em que país você vive? Basta olhar o país em que nós vivemos. Olha o que o dinheiro está fazendo com as pessoas…
Tem algum ponto positivo na condessa Vitória da primeira fase?
Não. O único ponto positivo seria o amor por esse filho, mas é um amor doentio e egocêntrico.
Acha o ciúme de mãe uma coisa normal?
Acho que tudo tem que ser trabalhado, seja na terapia, seja lendo. A pessoa tem que saber separar as coisas. Toda mãe pode ter o direito de não gostar da pessoa que o filho namora, mas qual o motivo? Seria porque ela é de uma classe social diferente? Seria porque ela pensa de outro jeito? Ou realmente não é uma boa pessoa? Tem que avaliar tudo isso para saber o que tem fundamento ou não.
Você é direta como Vitória?
Eu procuro ser educada, acho que você não deve falar para magoar e nem ferir as pessoas, mas admito que também falo o que penso, não sou de muitos filtros. Alguns personagens fazem a gente extravasar. Acho que todos temos um lado sombrio. Talvez colocar alguns sentimentos para fora em certas situações nos faça sentir mais leves.
Acredita na reencarnação?
O tema de reencarnação agrada a todo mundo. São esperanças, possibilidades que dizem respeito à nossa vida, que hoje é voltada para o material. Eu não acredito em nada. Pode ser que exista ou não. Acho a ideia da reencarnação um alento. Só de imaginar que a vida não acaba aqui, já é uma coisa confortável. Mas não fico pensando no que vem depois, não.
E se você tivesse a chance de voltar em outra vida?
Gostaria de ser homem, para fazer xixi em pé [risos]. Olha que experiência diferente…