“Como isso aconteceu comigo?”. Foi o que se questionou a modelo Babi Beluco em 2014, logo após sofrer um acidente de carro. Por conta da batida, quase fatal, ela fraturou as vértebras C1, C3 e C4 da coluna cervical.
Seu caso lembra o de Christopher Reeve, que viveu o personagem Super-Homem em quatro filmes clássicos do cinema.
O ator norte-americano fraturou as mesmas vértebras ao cair de um cavalo e acabou tetraplégico.
Babi, que na época tinha 27 anos, viu seu mundo desmoronar com a notícia. “Eu não acreditei no que tinha acontecido inicialmente, pois saí das ferragens sem nenhum arranhão”, conta.
O diagnóstico só veio quando a modelo já estava no hospital. “Por ordens médicas, nem espirrar eu podia”, lembra.
Como seu acidente aconteceu poucos dias depois do que vitimou a atleta Lais Souza, que também fraturou a C1 e ficou em coma na época, Babi lembra de ter ficado bem tensa quanto ao seu prognóstico.
VOLTA POR CIMA
Durante o processo de recuperação, Babi passou um mês hospitalizada e outros dois sem poder caminhar ou mesmo se mexer. Essa imobilização era importante para ajudar na fixação das lesões, corrigidas durante a cirurgia. “Jurei que, se eu saísse sem nenhuma sequela, iria correr uma maratona. Seria o meu ápice de esforço na vida”.
Após muitas sessões de fisioterapia, Babi acabou se recuperando. Sete meses depois do acidente, ela deu início aos treinamentos para cumprir sua promessa. A preparação incluía, por exemplo, longos períodos correndo para acostumar o corpo a não estranhar as longas distâncias.
Seus primeiros 42 km, mais 195 metros, foram na Maratona de Berlim, na Alemanha. “O acidente mudou muito meu jeito de pensar e perceber o quanto precisamos viver o presente. O amanhã pode não chegar”.
Desde o acidente, Babi já participou de uma segunda maratona e está se preparando para correr a de Chicago, em outubro. Em cada prova, ela diz que conquistou diversos aprendizados, como o foco na prática regular de exercícios, além de se alimentar de forma mais saudável, focada em performance.
MEDULA ESPINHAL
O caso de Babi chamou a atenção do neurocirurgião Jerônimo Milano, que trabalha no Hospital do Instituto de Neurologia de Curitiba (PR). “A pessoa conseguir correr uma maratona após esse tipo de lesão não é algo comum”, comenta ele, que é especializado em coluna vertebral.
Apesar de não ter sido o médico responsável pelo caso, Milano explica que, mesmo tendo fraturado as mesmas vértebras, a situação de Babi provavelmente não foi tão grave quanto o do ator norte-americano ou da ginasta pela lesão não ter prejudicado sua medula espinhal.
Caso contrário, as sequelas seriam bem mais complicadas. “Algo que também faz muita diferença nessa hora é um atendimento rápido, que ajuda a evitar problemas maiores”, diz.
Já o ortopedista André Evaristo, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que a prática de exercícios físicos é fundamental na recuperação de lesões como o da modelo.
Ele serve para fortalecer a musculatura, que fica mobilizada durante o tratamento.
Segundo o especialista, o resultado cirúrgico em caso de lesão na coluna é quase sempre positivo e, quando somado com a atividades físicas regulares, a recuperação costuma ser excelente.
Apesar da vida normal que tem, a modelo ainda carrega algumas traumas por conta do acidentes. Ela evita, por exemplo, algumas posições em sua rotina de treinos, como aquelas em que a pessoa fica com a cabeça virada para baixo. “Morro de medo, de verdade”.
Hoje, além da vida de atleta, ela também dedica tempo para dar dicas de vida saudável em um canal no YouTube e blog. “Quando a pessoa quer reverter alguma situação, sempre se pode dar a volta por cima”, diz.