Usadas com moderação, as redes sociais agregam. E ainda bem, pois estamos diante de um caminho sem volta: de uma maneira ou de outra teremos que conviver neste mundo paralelo. No entanto, um efeito rebote em especial tende a ser bem danoso: plataformas como Facebook, Instagram e LinkedIn nos mantêm conectados a quem, de outro modo, talvez nunca mais víssemos.
Assim como são ferramentas úteis para encontrar amigos e reunir a quem seria impossível de outra forma, tornam-se instrumento de tortura quando o objetivo é manter alguém na arca do passado. Porque a fechadura abre a todo momento, deixando escapar fantasmas que precisam permanecer trancados a sete chaves.
Hoje, ao terminar um relacionamento, o personagem não sai totalmente de cena. Antes das redes, sem outros vínculos – como amigos, escola, trabalho em comum ou moradias próximas – dificilmente daria para saber o que tinha sido feito do ex. Mas, com o mundo conectado, muitas informações sobre a quantas anda a vida do dito cujo estão a poucos cliques de distância e é quase irresistível espiar.
Que jogue o primeiro “dislike” quem nunca buscou nas redes o nome do ex para se certificar se engordou ou ficou careca. Também prendemos a respiração ao acessar a página da miss primavera do colégio – por quem você foi trocada e que depois virou esposa – para confirmar se a moça embarangou. Aí, dependendo do resultado, fechamos o aplicativo com aquele sorrisinho de satisfação, principalmente se, apesar de termos sido preteridas, ainda entramos no vestido de formatura.
Claro, o bom senso diz que o melhor a fazer seria, num ato heroico, bloquear o perfil do danado. Mas cadê a coragem de fechar a janela da rede social com blackout para, espontaneamente, não ver o que se passa daquele lado? Dependendo do desfecho da história, talvez fosse o correto a fazer. Contudo, a atitude madura o impediria de acompanhar que sua rotina vai bem, obrigada, e que você nunca foi tão feliz. Mesmo que isso seja só mais uma fake news.
OS OLHOS VÊEM E O CORAÇÃO SENTE
A máxima “o que os olhos não vêem o coração não sente” tem sua lógica. Quando não sabemos que fim levou a criatura, o exercício do desapego fica mais simples. O ônus de dessa conexão eletrônica emperra nossa capacidade de ir adiante. Monitorar o ex vira obsessão e as recaídas ficam constantes. Damos um passo para frente e dois para trás, além de demorarmos mais tempo para conseguir sacudir a poeira, enquanto alimentamos angústias que não deveriam mais existir.
Mesmo porque, em muitos casos, sofremos à toa: nem tudo que reluz na rede é ouro. E a gente sabe disso por experiência própria. Quantas vezes nosso sorriso largo na foto do story não esconde um buraco no peito do tamanho do mundo?
*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br