Maitê Proença interpreta Dionísia em Liberdade, Liberdade: uma senhora de fazenda que obriga seu escravo Salviano (David Júnior) a satisfazer seus desejos sexuais. Entre outras frases cruéis, ela afirma que escravos não são humanos – coisas que dão até arrepio de ouvir hoje, mas eram bem comuns há 200 anos. A atriz abre debate sobre a condição feminina em todas as épocas da história. “Algumas mulheres são obrigadas a ficar com homens que as espancam, por não ter o que comer. Isso não acontece só nos países árabes, e sim aqui do lado de nossa casa”, diz.
Como você avalia a personagem em usar um escravo para satisfazer o seu prazer sexual?
Ela acha que os escravos são peças que ela comprou e pode fazer o que bem entende. Era o pensamento da época.
Só escutávamos falar que os homens faziam isso com as escravas…
A gente não escutava falar nisso porque o Brasil é um país que não tem memória escrita. Não é que não acontecia, somente não foi registrado.
E acredita que isso era comum?
Acho que é provável que muitas mulheres fizessem o que ela fazia, sim.
Mas é só sexo ou ela gosta dele?
Ah, acho que ela gosta um pouco dele, sim, ela tem o prazer. Ele é lindo!
Naquela época, mulher não assumia desejos. E hoje?
A escravidão que ainda existe é a da mulher. Nos países árabes, as mulheres são submetidas a ter filhos que elas não desejam, elas não têm dinheiro próprio, não têm direito a herança, educação ou trabalho. Isso é uma escravidão e ainda acontece. Elas são
obrigadas a ficar com homens que as espancam por não ter o que comer. Acontece ao lado de casa também.
O quanto incomoda a submissão de uma mulher?
Se eu começar a criticar a mulher submissa, eu vou acabar criticando a minha família inteira. Acho que a gente tem que procurar entender…
Você continua sendo um símbolo de beleza. Como faz para manter a pele sempre bonita?
Não gosto de usar nada, porque eu sou superalérgica. Não sei bem o segredo da minha pele, eu acho que é a comida. Desde os 18 anos de idade que eu pesquiso nutrição. Encontrei um jeito de comer que é gostoso. Tenho que ter prazer. Não dá para viver de alface, ovo e galinha.