Já pensou uma empresa pagar quem deixar escanear o olho? A Tools for Humanity, uma organização cofundada por Sam Altman, CEO da OpenAI, está promovendo essa proposta. Trata-se da digitalização da íris humana em troca de criptoativos. Pode até parecer singelo, mas essa abordagem levanta questões sobre a natureza e a segurança dos dados biométricos que estão sendo coletados.
Por que escanear o olho?
A íris é um dos traços mais distintivos do corpo humano, apresentando características únicas que variam de indivíduo para indivíduo. Ao contrário de outras características físicas, como a cor dos olhos, a formação da íris é exclusiva para cada pessoa, mesmo em gêmeos idênticos que não compartilham a mesma impressão ocular. Além disso, as características da íris permanecem praticamente inalteradas ao longo da vida.
Essa singularidade torna a íris uma ferramenta viável para identificação biométrica, semelhante à impressão digital. A biometria é considerada um dado sensível e pessoal, e sua troca é menos flexível do que métodos tradicionais de autenticação, como senhas ou cartões magnéticos. Em caso de comprometimento, os dados biométricos não podem ser facilmente alterados ou excluídos.
De acordo com a empresa World, que está à frente do projeto de escaneamento, a biometria da íris é mais precisa do que outras modalidades, como o reconhecimento facial. Além disso, as características da íris são intrinsecamente difíceis de serem manipuladas, ao contrário das impressões digitais, que podem ser alteradas acidentalmente.
A Tools for Humanity argumenta que essa tecnologia pode ser uma solução para distinguir seres humanos de máquinas em um cenário onde a inteligência artificial avança rapidamente.
Dados sensíveis
Os dados biométricos pessoais são considerados “sensíveis” pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), e seu compartilhamento requer cuidados rigorosos. Ou seja, escanear o olho para vender não é bem uma prática segura. O uso indevido dessas informações pode resultar em sérias consequências.
A Tools for Humanity, entretanto, assegura que as imagens capturadas não são armazenadas, mas o risco de vazamento persiste. Além da íris, outros dados biométricos sensíveis incluem impressões digitais e características faciais.
Verificação de identidade humana
A verificação humana ocorre através de um dispositivo chamado Orb, equipado com câmeras de alta definição para realizar o escaneamento da íris. O sistema gerado pela empresa resulta em um identificador único conhecido como WorldID. Este código poderia ser utilizado em diversas situações, como recrutamento profissional, assegurando que candidatos sejam realmente humanos e não algoritmos automatizados.
Quanto paga?
A recompensa pela participação no escaneamento vem na forma de criptoativos. Os indivíduos que fornecem seus dados biométricos podem receber tokens digitais que são passíveis de conversão em dinheiro — relatos indicam que alguns usuários conseguiram retirar até R$ 700, embora não exista um valor fixo garantido.
O interesse pelo escaneamento da íris tem sido expressivo: mais de 22 milhões de pessoas já baixaram o aplicativo WorldApp globalmente, com um milhão somente no Brasil. Destes, cerca de 10 milhões completaram a verificação da íris, sendo 400 mil no território brasileiro. No entanto, muitos dos participantes parecem carecer de informações adequadas sobre o projeto e suas implicações.
Investigação em andamento
A ANPD iniciou uma investigação sobre as práticas da Tools for Humanity após seu lançamento no Brasil em novembro do ano passado. O órgão requisitou documentação sobre o tratamento dos dados coletados e os direitos dos titulares dessas informações. Especialistas em segurança e privacidade expressam preocupações quanto à coleta e uso indiscriminado desses dados sensíveis.
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