Pesquisadores revelaram uma descoberta significativa sobre a comunicação dos bonobos, um dos primatas mais próximos dos humanos. A pesquisa, publicada na revista Science, destaca a capacidade desses animais de combinar sons para criar novos significados, um traço essencial da linguagem humana. Este estudo, liderado por cientistas das universidades de Zurique e Harvard, analisa mais de 400 horas de gravações de vocalizações de bonobos na Reserva de Bonobos de Kokolopori, na República Democrática do Congo.
A capacidade de combinar sons para formar novos significados, conhecida como composicionalidade, é uma característica fundamental da linguagem humana. Até recentemente, não havia evidências claras desse fenômeno em outras espécies. No entanto, a pesquisa com bonobos sugere que essa habilidade pode não ser exclusiva dos humanos, desafiando a compreensão atual sobre as origens da linguagem.
Como os bonobos utilizam a composicionalidade?
O conceito de composicionalidade envolve a formação de expressões com novos sentidos a partir da junção de unidades com significados próprios. Nos bonobos, essa habilidade foi observada através da análise de vocalizações combinadas que transmitem significados distintos. Um exemplo é a combinação de um grito agudo, usado para chamar a atenção à distância, com um grito grave, associado a uma reação emocional intensa, criando um novo significado que não é evidente quando os sons são emitidos isoladamente.
Os pesquisadores utilizaram técnicas matemáticas avançadas para mapear visualmente as relações entre os sons e seus significados. Esta abordagem permitiu identificar que, embora a maioria dos pares de sons combinados não trouxesse novos significados, alguns pares se destacaram, indicando uma capacidade de comunicação mais complexa do que se pensava anteriormente.
Quais são as implicações para a evolução da linguagem?
A descoberta de que os bonobos podem combinar sons para criar novos significados tem implicações significativas para a compreensão da evolução da linguagem. A primatologista Federica Amici, da Universidade de Leipzig, sugere que as diferenças entre humanos e outros primatas, especialmente na comunicação, são menos definidas do que se supunha. Isso pode indicar que a capacidade de formar novas expressões a partir de sons combinados tem raízes mais profundas na árvore evolutiva do que se imaginava.
No entanto, a descoberta também gerou ceticismo. O neurobiologista Johan Bolhuis, da Universidade de Utrecht, argumenta que, embora os padrões identificados nos bonobos sejam interessantes, eles ainda estão longe da complexidade das estruturas linguísticas humanas. Essa visão ressalta a necessidade de mais pesquisas para entender completamente as capacidades comunicativas dos bonobos e suas implicações para a evolução da linguagem.
O que a comunidade científica pensa sobre a descoberta?
A comunidade científica está dividida quanto às implicações da descoberta. Enquanto alguns pesquisadores veem o estudo como um avanço significativo na compreensão das origens da linguagem, outros são mais cautelosos. A complexidade da linguagem humana, com suas regras gramaticais e sintáticas, ainda não foi observada em outras espécies. No entanto, a capacidade dos bonobos de combinar sons para criar novos significados sugere que a comunicação complexa pode ter uma base evolutiva mais ampla.
Essa pesquisa abre novas possibilidades para o estudo da comunicação animal e suas semelhanças com a linguagem humana. À medida que mais estudos são conduzidos, a compreensão sobre a evolução da linguagem pode se expandir, revelando novas conexões entre humanos e seus parentes primatas.