O tratamento do pé torto congênito, uma condição que afeta de uma a duas crianças a cada mil nascimentos, tem sido historicamente desafiador, especialmente em famílias de baixa renda. A necessidade de órteses específicas para manter a correção após o tratamento inicial torna-se um obstáculo quando os custos são elevados. Felizmente, a inovação na produção de órteses para pé torto congênito tem mudado esse cenário, trazendo soluções acessíveis e altamente eficazes por meio de tecnologias como a impressão 3D e a termoformagem.
Este artigo aborda como essas tecnologias emergentes estão revolucionando o desenvolvimento de órteses ortopédicas, focando em projetos de impacto social e acadêmico, como o realizado pelo Engenhar-MEC da UFPR. Você entenderá como funciona essa inovação, quais os benefícios e desafios envolvidos, e por que essa iniciativa pode transformar o futuro da reabilitação infantil no Brasil e no mundo.
O que é o pé torto congênito e por que o uso de órteses é tão importante?
O pé torto congênito é uma má-formação estrutural que impede que o pé do bebê fique em posição normal. Isso pode afetar severamente a locomoção se não tratado corretamente nos primeiros meses de vida. O tratamento convencional envolve gessos e, posteriormente, o uso de órteses específicas, que ajudam a manter o pé na posição corrigida e prevenir recaídas. As órteses do tipo Denis-Browne são amplamente utilizadas nesse processo. Elas funcionam como uma ponte entre a correção inicial e o desenvolvimento saudável dos pés, sendo fundamentais para o sucesso a longo prazo do tratamento. No entanto, os altos custos de produção e a necessidade de trocas frequentes, devido ao crescimento rápido das crianças, tornam essas órteses inacessíveis para muitas famílias.
Como a inovação na produção de órteses para pé torto congênito está reduzindo custos?
A manufatura aditiva, ou impressão 3D, tem sido a grande aliada na produção de órteses de baixo custo. A inovação liderada pelo professor Sérgio Lajarin da UFPR reduziu significativamente o valor de cada órtese — que pode custar menos de R$ 50 em materiais — utilizando técnicas modernas de design e fabricação. Com o uso de softwares CAD e impressoras 3D, moldes reutilizáveis são criados com alta precisão. Esses moldes servem como base para a termoformagem de chapas de poliestireno, que são cortadas, furadas e revestidas com materiais leves como EVA. O resultado é uma órtese funcional, durável e adaptável, produzida a um custo muito inferior ao do mercado tradicional.
Qual o papel da universidade no desenvolvimento dessas soluções?
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do laboratório Engenhar-MEC, tem um papel fundamental na inovação na produção de órteses para pé torto congênito. O projeto reúne alunos de Engenharia Mecânica e Terapia Ocupacional, promovendo uma colaboração multidisciplinar que une teoria e prática para resolver um problema real de saúde pública. Esse modelo de ensino-aplicado permite que estudantes desenvolvam habilidades técnicas e sociais, ao mesmo tempo que geram impacto positivo na comunidade. Além disso, a estrutura universitária oferece o ambiente ideal para a pesquisa, teste e aprimoramento constante das órteses, sempre com foco na acessibilidade e eficácia.
Quais são os principais desafios na fabricação de órteses personalizadas?
Apesar dos avanços, a personalização das órteses continua sendo um desafio técnico e logístico. Cada criança tem uma estrutura anatômica única e está em constante crescimento. Isso exige que os modelos sejam constantemente ajustados, o que demanda tempo e conhecimento específico. Além disso, o projeto depende da disponibilidade voluntária de estudantes para produção e montagem, o que pode gerar variações nos prazos de entrega. Outro fator é a necessidade de validação clínica rigorosa, uma vez que qualquer equipamento de apoio ortopédico deve atender a requisitos técnicos e de segurança bastante específicos.
Por que a impressão 3D é considerada revolucionária para órteses ortopédicas?
A impressão 3D revoluciona o setor de órteses por permitir a personalização em escala e a redução significativa de custos e tempo de produção. Diferentemente dos métodos convencionais que exigem moldes caros e processos demorados, a impressão 3D possibilita ajustes rápidos no modelo digital antes da produção, facilitando a adaptação às necessidades individuais de cada paciente. Além disso, os materiais utilizados na impressão 3D são mais acessíveis, leves e recicláveis. Isso torna o processo sustentável e ideal para projetos com foco em impacto social. O modelo do Engenhar-MEC é um exemplo claro de como a inovação tecnológica pode se alinhar a propósitos humanitários, ampliando o acesso à saúde de qualidade.
Qual o impacto social dessa inovação para famílias de baixa renda?
A inovação na produção de órteses para pé torto congênito representa um verdadeiro divisor de águas para famílias que antes não tinham condições de arcar com os altos custos do tratamento. Ao tornar as órteses acessíveis, o projeto da UFPR possibilita que mais crianças recebam o cuidado adequado desde os primeiros meses de vida, evitando sequelas motoras permanentes. Além do impacto direto na saúde infantil, essa iniciativa promove inclusão social, educação aplicada e autonomia para os envolvidos. Famílias que antes dependiam de doações ou importações agora podem contar com uma solução nacional, eficiente e segura — criada dentro de universidades públicas com forte compromisso social.
O que esperar do futuro da produção de órteses acessíveis?
Com a evolução constante da tecnologia de impressão 3D, novos materiais e técnicas de escaneamento corporal em tempo real devem ampliar ainda mais o potencial das órteses personalizadas. A expectativa é que essas tecnologias se tornem cada vez mais acessíveis a hospitais, clínicas e universidades em todo o país. Além disso, projetos como o da UFPR podem servir como modelos replicáveis em outras instituições, estimulando políticas públicas de incentivo à produção nacional de dispositivos de Tecnologia Assistiva. A combinação de baixo custo, alta eficácia e personalização promete revolucionar não apenas o tratamento do pé torto congênito, mas também de outras condições ortopédicas infantis.
Um futuro moldado pela colaboração e tecnologia
A trajetória do projeto liderado pelo professor Sérgio Lajarin mostra que inovação na produção de órteses para pé torto congênito vai muito além da tecnologia: trata-se de empatia, colaboração e vontade de mudar realidades. Quando universidades, estudantes e profissionais se unem em torno de um propósito comum, soluções transformadoras se tornam possíveis. À medida que a ciência e a tecnologia continuam evoluindo, iniciativas como essa nos lembram que o verdadeiro progresso é aquele que alcança quem mais precisa.