O Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos é celebrado no dia 27 de setembro — e a conscientização se estende para o restante do mês, com o Setembro Verde. A campanha nacional incentiva o diálogo entre as famílias e a tomada de decisão sobre ser doador.
Isso porque, segundo a legislação brasileira, somente a família pode decidir se vai doar os órgãos do ente-querido falecido, não importando a vontade do próprio. Neste caso, pulmões, coração, fígado, pâncreas, rins, intestinos, válvulas cardíacas, ossos, pele e tendões podem ser doados.
Porém, também é possível ser doador em vida. Um dos rins, a medula óssea e o fígado estão entre as possibilidades. O tema, claro, é recheado de dúvidas. Neste artigo, AnaMaria aproveita o Setembro Verde para responder perguntas recorrentes sobre a doação de fígado.
Quem pode doar? O fígado do doador cresce de novo?
A doação de fígado pode ocorrer tanto de doadores falecidos quanto de doadores vivos. Por isso, uma das questões mais comuns é: o fígado do doador cresce novamente após a doação? A resposta é sim. O fígado é um dos poucos órgãos que têm a capacidade de se regenerar, tornando possível a doação de uma parte dele sem comprometer a saúde do doador.
Esse processo de regeneração é o que permite que uma pessoa viva doe parte de seu fígado para alguém que precisa de um transplante. Em poucas semanas após a cirurgia, tanto o fígado do doador, que cede de 40% a 70% do seu órgão, quanto o do receptor retomam seu tamanho completo, sem prejuízos às funções do órgão.
Patricia Almeida, hepatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que há critérios rigorosos para garantir segurança e sucesso do transplante. Um dos critérios essenciais é a compatibilidade sanguínea, além da checagem de critérios de saúde para não comprometer a vida do doador.
É importante destacar que qualquer pessoa saudável, que não tenha sido transplantada de fígado previamente, pode se candidatar como doadora. A facilidade também se estende para os doadores pós-morte: “Não há necessidade de registrar em cartório ou colocar na carteira de identidade. Apenas declarar explicitamente a escolha de ser doador de órgãos à sua família”, explica a especialista.
Quem pode receber o fígado?
A doação de fígado é recomendada para pacientes que sofrem de doenças hepáticas graves e irreversíveis, como cirrose causada por abuso de álcool, hepatites virais, doenças genéticas e autoimunes. Além disso, o órgão pode ser gravemente comprometido de maneira aguda, como no caso de intoxicação por medicamentos ou chás com substâncias tóxicas, levando à falência hepática em poucos dias ou semanas.
A gravidade da condição do paciente é o fator determinante para a posição na fila. O Brasil utiliza o índice Meld Na, que considera diversos exames laboratoriais para determinar a gravidade do caso. Pacientes mais graves, com pontuações mais altas, têm prioridade na fila de espera. O tempo de lista serve apenas como critério de desempate, uma vez que a urgência médica é o fator preponderante.
A vida pós-transplante passa por mudanças drásticas. Após a cirurgia, o paciente precisa adotar um estilo de vida saudável, com cuidados específicos na alimentação, prática de exercícios físicos e acompanhamento médico.
Patricia, recomendando o não consumo de alimentos processados/industrializados, como fast foods e refrigerantes: “É preciso uma alimentação baseada em alimento in natura e rica em legumes, grãos e frutas”. O paciente transplantado também deve fazer uso de medicamentos imunossupressores, que evitam a rejeição do novo órgão.
O Setembro Verde
O Setembro Verde é fundamental para ampliar o conhecimento da população sobre a doação de órgãos. E o sucesso da campanha é refletido nos números — o que também representa mais pacientes saudáveis e famílias felizes.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2023 o Brasil atingiu o maior número de transplantes de órgãos dos últimos dez anos: mais de 6.700 transplantes realizados até setembro. O crescimento de doadores também é significativo: mais de 3.000 doações concretizadas no mesmo período, um aumento de 17% em relação ao ano anterior.
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