A perda do pai e de um sobrinho, com intervalo de apenas três meses entre um e outro, foi o estopim para o publicitário Irineu Villanoeva Junior criar um projeto sobre o luto, com o intuito de encarar o assunto e ainda ajudar outras pessoas a lidarem com a morte de entes queridos.
A iniciativa ‘Suas perdas, seu luto, vamos conversar?’ aborda o assunto com ações gratuitas como a ‘Sem Pressa Pra Viver’, em parceria com o Quatro Estações Instituto de Psicologia neste sábado (2), Dia de Finados, durante atividade nas Clínicas, uma das estações do Metrô de São Paulo (SP).
O objetivo é acolher e realizar uma escuta terapêutica, conduzida por um grupo de psicólogos voluntários e especializados em luto, para pessoas que estão passando ou passaram por alguma perda e precisam ser ouvidas sobre suas dores.
Para AnaMaria Digital, Irineu afirma que é fundamental compreender que o luto é um processo a longo prazo e não acontece de forma linear. “Não é algo fácil, mas, se visto como parte da vida, pode se tornar menos doloroso”, acredita. Ele ainda ressalta que falar sobre o assunto é o um dos caminhos mais indicados para naturalizá-lo.
Para exemplificar como enfrentar este tema tão sensível especialmente com crianças, Irineu relembra uma situação pela qual passou: “Outro dia, uma mãe, que perdeu o marido e tem dois filhos, entrou em contato conosco para saber como conversar com os pequenos, se deveria participar do ritual de funeral e como lidar com as questões”.
Ele conta que a mulher usou o curta-metragem ‘O dia em que o passarinho não cantou’, produzido para a ação que ele lidera, baseado no livro que leva o mesmo nome das autoras Luciana Mazorra e Valéria Tinoco, e que tem como intuito abrir o diálogo sobre perdas e luto com crianças. Irineu garante que deu super certo!
Irineu ao lado das autoras Valéria Tinoco (esquerda) e Luciana Mazorra (direita) (Foto: Arquivo Pessoal)
MEDO DA MORTE
Segundo uma pesquisa realizada no ano passado pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep) e pelo Studio Ideias, a população brasileira tem dificuldade para enfrentar o óbito.
Tanto que 74% dos entrevistados afirmaram não falar sobre morte no dia a dia.
Além disso, os sentimentos mais relacionados com o fim da vida são tristeza, dor, saudade, sofrimento e medo. Tanto que a frase “não tem nada mais sofrido e dolorido que a dor da perda” é verdadeira para 82% deles.
TEM COMO SUPERAR?
“Existe uma adaptação. Uma mãe nunca vai deixar de sentir a perda de um filho, por exemplo. Ela aprende a viver com esse fato”, esclarece o publicitário.
Irineu ainda afirma que elaborar o luto não significa esquecer a pessoa querida, pelo contrário, implica em transformar uma relação que vai continuar sendo importante.
ALGUÉM PRÓXIMO ESTÁ PASSANDO PELO LUTO. O QUE FAZER?
O apoio da família e de amigos durante o processo é fundamental, pois este é um momento de extrema solidão e vulnerabilidade para quem está sofrendo.
“Atitudes acabam sendo muito mais eficazes e acolhedoras. Vale um abraço sincero, ouvir sem julgamentos o enlutado ou ajudá-lo com tarefas simples. Tudo isso acaba surtindo efeitos mais positivos do que apenas palavras”, aconselha o psicólogo cognitivo comportamental Emerson Viana, diretor clínico da Viva Psicologia.
“RECAÍDAS”
Comuns e esperados, os episódios de “recaída” podem acontecer com mais frequência próximo a datas significativas, como a de hoje, e não devem ser julgadas. Vale destacar que o processo de luto é individual e, por isso, o ritmo e o estilo de enfrentamento de cada enlutado deve ser respeitado e compreendido.
O sentimento de culpa por não ter feito o suficiente pelo falecido, costuma ser muito comum. Por isso, é primordial que o enlutado externe os seus sentimentos. “O choro, por exemplo, torna-se uma ferramenta importante, pois bloquear o sentimento pode ser perigoso, ocasionando até mesmo em uma depressão. Já a sensação de solidão quando acompanhada por um sentimento de saudade, torna-se natural e importante para a superação da perda”, ressalta Viana.
QUANDO PROCURAR AJUDA?
Ao se identificar com algum dos itens abaixo, a pessoa deve procurar ajuda de um profissional de saúde para avaliar se precisa de um apoio mais especializado.
- Falta de espaço para expressar o luto;
- Falta de suporte social;
- Dificuldade prolongada de retomar as atividades;
- Sofrimento intenso;
- Sintomas físicos;
- Dificuldade nos relacionamentos;
- Irritabilidade excessiva;
- Sentimento de culpa intensa;
- Pensamentos suicidas;
- Pensamentos obsessivos;
- Depressão;
- Ansiedade.
Lembre-se: somente junto a um profissional de saúde conseguirá avaliar, diagnosticar e decidir sobre a necessidade de ajuda e tratamento.
Entender a realidade e a finitude como parte da vida são partes da conscientização da morte e pode aliviar quando há alguma perda. “Não acredito que exista uma preparação. Todos nós vamos morrer um dia. É preciso valorizar a vida e aproveitar esse tempo aqui”, aconselha Irineu.
OUTRO PROJETO
A campanha ‘101 Perguntas sobre perdas e luto da criança’, também iniciativa do #sempressaparaviver e do Quatro Estações Instituto de Psicologia, é um movimento colaborativo que incentiva as pessoas a enviar perguntas sobre como tratar do tema com os pequenos, que serão respondidas por especialistas.
As perguntas podem ser enviadas no email 10**********@4e*******.com. Villanoeva conta que a ideia é transformar esse conteúdo em uma publicação e/ou conteúdo digital.