A intenção de d. Elza era mais do que nobre: proteger a família e a carreira da filha famosa, Gaby Amarantos. Mesmo assim, a decisão de ignorar e esconder durante meses os sintomas do câncer que tomava seu pulmão custou à dona de casa de 69 anos o mais alto dos preços: sua vida. Dois dias antes da morte da mãe, Gaby falou com AnaMaria sobre saúde, fé, otimismo e o porquê de, sem pensar duas vezes, ter largado tudo para cuidar da mulher da sua vida nos momentos finais dela.
A saúde da mãe de Gaby sempre foi frágil. Nascida em uma comunidade ribeirinha, não tinha acesso a atendimento médico. “Ela nunca fez um raio-x ou foi a um pneumologista, mas tinha falta de ar quando criança e era asmática”, disse a cantora. Quando ficou mais velha, começou a sentir fortes dores no peito. Escondeu os sintomas dos filhos até ter uma convulsão em casa. Foi parar na UTI e, após uma série de exames, recebeu um duro diagnóstico. O câncer já havia atingido um estágio avançado. Consequentemente, o tratamento seria muito difícil. Ciente disso, a própria cantora quis fazer um alerta: “Não escondam nada de suas famílias. O diagnóstico precoce é tudo. Eu entendo o lado dela, que tinha medo de atrapalhar minha carreira, mas com saúde não se brinca”. Após a morte, Gaby falou mais sobre isso numa rede social: “Um dos maiores medos de mamãe era que eu descobrisse o que ela sentia: eram fortes dores e outras complicações que soubemos depois, por relatos de amigos. Mas ela nunca parou de fazer seus trabalhos na igreja e sua dedicação era a serviço do amor. Ela nunca quis me preocupar”.
Pausa na carreira
Logo que descobriu a doença, Gaby decidiu deixar tudo para se dedicar por completo à mãe. Ela ia lançar e divulgar um novo CD, mas os pais vieram em primeiro lugar. “Percebi que a presença da família é muito importante para o tratamento e eu não tinha nem condições de pensar em trabalho. Larguei tudo mesmo, porque eles são meu tesouro, são tudo para mim”. Enquanto Dona Elza – como Gaby costumava se referir à mãe – estava no hospital, ela se dividia com os dois irmãos e o pai para não deixá-la sozinha. A cantora aproveitou para mimar muito a mãe, que sempre foi sua companheira e exemplo de vida. Era ela quem cuidava do neto Davi, de 6 anos, para que Gaby alegrasse o Brasil com seus shows. “Ela fez isso para eu poder viajar e continuar a minha carreira. Foi uma mãe pra ele. Antes, ela abriu mão de tudo pelos filhos. Deu a vida por nós”. A força da matricarca serviu para que a artista se mantivesse forte, e a pausa na carreira foi somente uma forma de retribuir tudo o que Dona Elza fez pela família. “Ela ficou com minha avó, que teve Alzheimer, e passou por momentos muito ruins. Nessa época, eu a admirava muito e via sua força.”
Saudável por dentro e também por fora
Apesar de tentar encarar tudo de forma positiva, Gaby procurou um psicólogo para se conhecer melhor: “Descobri um monte de coisa. Ajuda muito”. É claro que a cantora teve um momento de revolta ao saber do câncer da mãe, mas não se deixou abater. “Os problemas não mudam, o que muda é a forma como você decide enfrentá-los. Quero mostrar para todo mundo que podemos ver o lado bom das coisas. Não sou melhor do que ninguém e sei que isso tinha que acontecer”. Gaby aproveitou o tempo livre que não tinha antes pra cuidar da saúde dela também: “Agora, na minha casa todo mundo come bem, só alimentos orgânicos! Os aprendizados do Medida Certa [quadro do Fantástico] continuam. Também estou tratando um pequeno cisto no ovário, que está quase desaparecendo. É comum em muitas mulheres, nada grave.”
Tudo diferente
“Tenho certeza de que vou voltar mais forte para o mundo lá fora. Vão me ver no show e perceber que alguma coisa mudou, vou estar diferente. Meus valores agora estão reafirmados”, diz a cantora, que se considera bem mais espiritualizada agora. Gaby disse ainda que percebeu durante o tratamento da mãe que precisava passar por essa situação, pois estava afastada de seus valores. Tanto que, dois dias antes da morte dela, disse para AnaMaria: “O meio artístico, infelizmente, acaba nos afastando disso. Mas agora estou sentindo uma fé muito forte. E fico feliz com isso. A minha fé, a minha força e a minha vontade de acreditar deixa minha mãe entregue nas mãos de Deus. Se Ele decidir levá-la, com toda a sinceridade, te digo que estou pronta para isso.”
Alma serena
Assim como fez questão de informar a todos sobre a doença da mãe, Gaby também falou sobre a morte em um texto muito emocionado no Instagram: “Obrigada, mãe amada, minha estrela guia… Quero seguir teus ensinamentos e ser para o meu filho tudo o que você é e sempre será para mim, meu pai e irmãos. Peço ao Espírito Santo que me dê forças pra seguir, e muita luz e conforto para toda a nossa família e amigos que te amam e sentem sua falta. Obrigada, Senhor Deus, por ser tão perfeito e permitir que o sofrimento dela fosse poupado”. A cantora ainda agradeceu os fãs.
Não deixe os sintomas passarem batido
Entenda por que você não precisa ter medo de encarar o câncer de frente. Quanto mais cedo for descoberto, maior a chance de cura:
O caso de Dona Elza é muito comum. Com medo de atrapalhar a família, o paciente acaba escondendo os sintomas e, quando descobre a doença, o grau é muito avançado. Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, diz que isso diminui muito as chances de cura: “Varia do tipo de câncer, mas quando descobrimos ainda no começo, com certeza, é melhor”. Claro que ninguém quer receber a notícia, mas é como a Gaby falou: o tamanho do problema quem decide é você.
- Não se assuste com a palavra câncer. É uma doença como qualquer outra e você pode, sim, se curar. Muitas pessoas nem fazem exames, pois dizem que isso “atrai” o problema. Nada disso! Ao se cuidar desde cedo, as chances de ficar bem são altas. Há casos tristes, mas também existem muitas pessoas que saíram dessa.
- Vá ao médico a cada seis meses e seja sincera. Conte tudo o que está sentindo e, se tiver com algo anormal no corpo, peça para ele examinar. Tome a inciativa quando o assunto é saúde: pergunte quais exames são importantes e faça-os logo!
- Sempre conte se alguém da sua família foi vítima da doença. As chances de você ter câncer aumentam bastante e o cuidado deve ser redobrado. Vale tia, avó e até bisavó. Não descuide!
- É normal não querer incomodar, mas pense bem: quanto mais cedo descobrir a doença, menor é o risco de morte ou sequelas graves. Nossa família só quer ver a gente com saúde.
- Aliás, o papel dos filhos é importantíssimo! Muitas vezes é preciso acompanhar os pais ao médico e contar com detalhes toda a rotina deles, além de reparar se há algo diferente, como o jeito de andar ou até uma manchinha nova.
- Um pequeno sangramento, nódulos, feridas, dor estranha… Tudo isso pode indicar um tumor, mas a doença também sabe ser bem silenciosa. Por isso, é importante fazer os exames regularmente. E nada de ir até o laboratório e depois não buscar ou escapar do retorno.
Em 2015 serão 576.580 novos casos de câncer, e quase a metade são mulheres. Ao descobrir um câncer no começo, a chance
de cura chega a 95%.