Os miomas uterinos são tumores benignos que se desenvolvem a partir de células musculares no útero. Embora sejam comuns, afetando cerca de 40% das mulheres após os 40 anos, sua presença pode representar um desafio significativo para aquelas que desejam engravidar.
Para entender mais sobre o problema, AnaMaria conversou com Rodrigo Gonçalves, ginecologista do HSPE. O especialista explica que a maioria dos miomas são pequenos e assintomáticos. Ou seja, não impactam diretamente na qualidade de vida das mulheres.
Além disso, vale ressaltar que os miomas uterinos, diferente do que se imagina, não são o mesmo que câncer. O especialista aponta que a possibilidade de evolução para uma neoplasia é bastante rara. Segundo ele, fica abaixo de 1%. Por outro lado, há o mioma submucoso.
Entre os diferentes tipos de miomas, o submucoso se destaca por sua capacidade de interferir diretamente na fertilidade feminina. Entre os anos de 2019 e 2023, o Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) realizou mais de 51 mil exames ginecológicos transvaginais, detectando mais de oito mil casos de miomas submucosos.
A relação entre miomas uterinos e infertilidade
Os miomas submucosos se localizam na camada interna do útero, a cavidade endometrial, e têm uma maior probabilidade de dificultar a implantação do embrião, levando a problemas de infertilidade. O crescimento desses miomas depende de fatores hormonais, mas a causa exata ainda é desconhecida.
De acordo com o especialista, esse tipo de tumor pode provocar sintomas como o sangramento menstrual aumentado cólicas mais intensas e períodos menstruais prolongados: Essas manifestações, contudo, não são indicativos diretos de infertilidade, mas sim de que há algo anormal ocorrendo no útero: “Não tem sintoma especifico para alteração de fertilidade”, explica.
Em todos os casos, o diagnóstico precoce dos miomas, também conhecidos como fibromas, é crucial para evitar complicações. “A suspeita clínica é fundamental. Por isso a importância da consulta ginecológica anual com exame físico adequado”.
O ultrassom pélvico transvaginal é o principal exame para identificação. Embora seja o mais comum, em pacientes que não tiveram relações sexuais, o ultrassom pélvico pode ser realizado via abdominal. Neste caso, a eficácia é um pouco menor, como explica Gonçalves.
Além destes, há outros exames, como ressonância magnética e histeroscopia, que podem ser indicados.
Tratamento para os miomas
O tratamento dos miomas uterinos deve ser individualizado, considerando o tamanho, localização, sintomas associados e outros fatores. Medicamentos, como anti-inflamatórios, anti-hemorrágicos, anticoncepcionais hormonais, a implantação do DIU ou métodos minimamente invasivos são considerados.
Em outros casos, a remoção cirúrgica pode ser uma solução eficaz. O ginecologista detalha as várias abordagens cirúrgicas disponíveis:
- Histeroscopia, que permite a remoção do mioma por via vaginal;
- Laparoscopia, que envolve pequenas incisões no abdômen.
- Cirurgia abdominal aberta, recomendada em casos mais complexos.
Em alguns casos, a remoção pode ser realizada em ambiente ambulatorial — ou seja, sem a necessidade de internação pra anestesia. Noutros, a depender do desejo reprodutivo, a opção de retirada do útero junto também deve ser analisada.
Miomas na gravidez
Embora raras, há complicações geradas por miomas na gravidez. É o caso de miomas uterinos grandes, que podem sofrer degeneração rubra, uma condição em que o tumor não é adequadamente nutrido devido às mudanças hormonais durante a gestação, como explica Rodrigo.
Ainda de acordo com o ginecologista do HSPE, esse processo pode resultar em dores abdominais e cólicas mais intensas. Em casos extremos, miomas podem até contribuir para o parto prematuro: “Em alguns casos, não é o habitual”, reforça.
Diferentes métodos de concepção, como a fertilização in vitro, também são afetados pelos miomas uterinos? O especialista explica que, quando esse mioma uterino é o causador da infertilidade, ele deve ser retirado. Assim, as chances de sucesso no método de reprodução aumentam.
No entanto, essa abordagem deve ser cuidadosamente individualizada, conforme explica Rodrigo: “Em alguns casos, a retirada dos miomas pode ser necessária antes de procedimentos para aumentar as chances de sucesso, mas isso não é uma regra geral”, finaliza.
Leia também
- Caso Isabel Veloso: como é a gestação com câncer?
- Grávidas e mulheres com silicone: 10 dúvidas comuns sobre o exame de mamografia
- Mioma e trombose: especialista explica os problemas por trás da morte de MC Katia