Dar vida à rainha Kalesi, da novela A Terra Prometida (Record), seria desafiador para qualquer atriz. Pois não é nada fácil encarnar
uma mulher que tem por hábito desfilar com cobras ao redor do pescoço e que, em 1.200 A.C., comenta com seu marido, o rei Malek (Igor Rickli), a respeito dos próprios amantes. Juliana Silveira, porém, tem tirado de letra a empreitada! Primeiro, por ser talentosa e dedicada. Segundo, por ser mãe de Bento, 4 anos – e achar que desafio mesmo é a maternidade. A seguir, a ex-ajudante de palco dos programas da Angélica (SBT e Globo) e protagonista da novela infantil Floribella (Band) fala como lida com um sentimento que toda mãe conhece de cor: o coração apertado na hora de dizer aqueles tão necessários “nãos”.
Você se considera uma mãe durona?
Não faço sucesso lá em casa. Meu filho não quer ver o DVD da Floribella, não, gente [risos]! Mas eu mimo à beça, não sou durona. A diferença é que meu marido consegue mimar mais, então, o papel do policial “ruim” sobra pra mim…
O coração aperta?
Claro. Eu entendo que a criança precisa ouvir “não” para que se torne um adulto bacana e saiba respeitar os demais. Mas, às vezes, você vê aquela criança de 5 anos… E sabe que tudo passa. Ninguém vai chupar chupeta, usar fralda ou fazer pirraça para sempre.
Mas quando é seu filho fazendo pirraça, vem aquele ego de mãe: “Ah, não, vou colocar ordem aqui!” Porém, no fundo, a vontade
é de deixá-lo pirraçar. Só que eu sou mãe, não sou irmã… Fico sempre nessa luta, pensando até onde eu posso ir. É um desafio diário.
Como dá as broncas?
Com muita conversa! De vez em quando, ele até diz: “Mamãe, eu não estou ouvindo. Quero ficar sozinho”. Do tipo: “Já deu!” Ele se expressa e conversa bem para a idade dele. Por isso temos uns papos engraçados. Eu fico pensando: será que é uma criança de 5 anos ou um pré-adolescente? [risos].
E o seu visual ruivo?
Foi feito para a Kalesi. Ficamos em dúvida se ela seria ruiva ou loira. Eu fiquei torcendo pelo ruivo, porque sempre tive vontade.
E as gravações?
Em uma das minhas cenas, tive que fazer a coreografia com uma cobra. Mas ela estava trocando de pele, então fiz com um macho que pesa 6 kg a mais. Mas aí você pensa: “Calma, eu tenho 36 anos, vou administrar a cobra de 6 kg a mais”. Chegar até a Terra Prometida é difícil, viu, gente [risos]? Mas vale a pena. A novela é muito bonita de fazer. Os textos não têm nada a ver com as
palavras que a gente usa, precisa de muito estudo para se apropriar.
Como foi isso?
Pra quem é controladora como eu, é quase a morte! Mas com o tempo dá para aprender tudo. Você queria participar de uma novela bíblica? Sim! Estou na Record há dez anos, mas nunca pedi nada. Fico esperando as pessoas me olharem e pensarem: “Ah, ela está pronta pra fazer isso”. Então, fiquei torcendo. Quando eu soube, fiquei com vontade de fazer.
Você acha que o papel vai ser um divisor?
Eu acho que essa é a personagem mais importante que eu já fiz. Lógico que é um processo, né? É uma caminhada que a gente constrói. Aliás, gosto da internet porque a gente nem precisa ficar gravando os capítulos pra se ver depois. Quando bate uma saudade, é só ir lá e assistir. Isso é bom para ver a nossa evolução. Ultimamente, estou revendo Chamas da Vida (2008), que passa à tarde. Me vejo com aquele cabelo curtinho, 28 anos, voz de menina. É engraçado, porque você vê e se lembra do dia em que gravou, como estava sua vida pessoal na época, quais eram seus problemas… Tudo passa!
Você é ansiosa?
Gosto de controlar as coisas. Mas não sou assim na vida profissional. É uma coisa impressionante, como se duas pessoas
morassem no mesmo corpo. Sou organizada com os compromissos. Pra mim é a morte chegar atrasada a alguma coisa! Sou tensa,
arrumo direitinho minha roupa e maquiagem. Não gosto quando as coisas saem do rumo.
Faz meditação?
Sim, comecei a praticar meditação transcendental. Fiz um curso particular com amigas. Agora está difícil, porque tem que meditar
20 minutos de manhã e 20 à noite. Às vezes, faço 40 minutos à noite. Estou mudando o método, porque quero encaixar na rotina
de gravação. Meu professor que não me ouça! [risos].