Valéria Barcellos se tornou conhecida do grande público ao estrear como Luana Shine em ‘Terra e Paixão’. Não é para qualquer um chegar às telinhas diretamente em horário nobre da TV Globo, mas se engana quem pensa que a carreira da atriz começou aqui. Foram mais de 35 anos nos palcos – incluindo trabalhos como cantora, performer, artista plástica, DJ e até mesmo escritora. Conheça mais!
Em entrevista exclusiva à AnaMaria Digital, Valéria se define como uma artista de oportunidades. “Eu não posso me dar esse direito [de escolher uma carreira só], porque essas oportunidades não me são dadas de maneira fácil. Quando surge, eu tenho que agarrar com unhas e dentes”, declara.
A atriz enfrentou o racismo, a transfobia e o machismo para chegar à posição de prestígio. Hoje, ela batalha para ser a referência negra e transgênero que não teve em sua infância. “A primeira vez que eu vi uma mulher negra em um lugar de destaque foi uma capa da Taís Araujo. Eu pensei ‘gente, mas pode?’ Eu achava tão distante ao ponto de pensar que existia um consenso de que não era possível, não podia”, relembra.
Ela acrescenta: “Esses meus múltiplos afazeres são lindos na teoria, mas muito difíceis, na prática. Se hoje eu sou uma curadora, é porque não havia curadoras trans quando comecei. Esse trabalho de multiartista vem a partir do não lugar.”
Foi então que Valéria Barcellos ultrapassou todas as adversidades – incluindo um câncer em 2018 e um ataque homofóbico com facadas em 2022 – e se desafiou nos múltiplos ofícios até chegar à trama de Walcyr Carrasco.
O recado que a atriz daria à sua versão do passado seria: “Calma, tudo tem o seu tempo! O câncer me fez entender que não sou eu quem manda no tempo, ele é quem faz a sua própria trajetória. Eu tive que entender isso a duras penas. Eu diria para essa Valéria ter muita calma, porque as coisas vão acontecer… Talvez não da maneira que você queira, mas elas vão acontecer.”
ESCALADA PARA ‘TERRA E PAIXÃO’
Valéria conta que fez o teste para ‘Terra e Paixão’ sem expectativas, uma vez que já havia sido recusada para dois papéis na TV Globo. No entanto, as coisas mudaram quando ela conquistou a chance de interpretar Luana Shine – gerente do bar de Cândida (Susana Vieira) que vive romance com Rodrigo (Maicon Rodrigues).
“Eu pensei que nunca pegaria um papel na novela das nove e acabei passando. Depois disso foi que a ficha caiu, se é que caiu. Eu venho de outra realidade, foi um processo de aceitação muito grande e de entendimento que se perdura até agora”, afirma.
Estreante nas novelas, ela ressalta que os aprendizados durante as gravações são diários – especialmente contracenando com os veterano Glória Pires e Tony Ramos. “Foi gigantesco o acolhimento de todo mundo para nós, que somos artistas de primeira novela. Eu pergunto muito, porque algumas coisas eu não sei ou não entendo”, comemora.
VIDA REAL X FICÇÃO
Questionada sobre as semelhanças com Luana Shine, a atriz garante que as duas são completamente diferentes. E compara: “Eu só empresto meu corpo para ela, que é romântica demais. Já eu sou mais realista. A Luana sonha com o príncipe, eu não sou assim.”
Outra diferença seria a visão de Luana de que, mesmo sendo uma mulher negra e trans, conseguirá o respeito das pessoas devido à posição social – ao que Valéria discorda. “Acredito que sou tolerada a partir de uma grande visibilidade. Eu não sou querida pelas pessoas”, lamenta.
Por outro lado, a atriz considera compartilhar da determinação e do senso maternal da personagem: “Ambas têm isso, de quererem juntar os outros para um bem maior. Mesmo que as nossas diferenças pareçam ser maiores do que o bem, elas nunca são!”.
VEM AÍ
Acostumada a equilibrar seus multitalentos, Valéria Barcellos não deixou as outras carreiras de lado nem mesmo diante das gravações de ‘Terra e Paixão’. Os planos para os próximos meses incluem a turnê humorística ‘Isso a TV não mostra’ (13 de setembro), lançamento do disco ‘Saraval’ (25 de novembro), e o livro de romance ‘Enzo e Valentina’ (sem previsão).
Quanto às novas músicas, ela entrega: “Uma mistura de muitos ritmos e muitas pessoas, com produção do André Morais, que fez a trilha sonora de ‘Lisbela e o Prisioneiro’. Terão regravações de Elza Soares, Chico Buarque, Gilberto Gil e também canções minhas. Vai ter uma pegada muito doida, misturando rock com samba, tango e eletrônico. Tudo muito misturado!”.