Entre amputar parte do dedo ou apenas engessá-lo, a escolha parece óbvia, certo? Não para o australiano Matt Dawson, de 30 anos. O jogador de hóquei decidiu pela primeira opção para ter condições de disputar as Olimpíadas de Paris, que começa nesta sexta-feira (26).
O motivo para isso foi a fratura do dedo anelar da mão direita, que colocou a participação do atleta nos Jogos Olímpicos de 2024. Isso porque a recuperação da maneira tradicional — e recomendada pelos médicos, era com o uso de gesso, mas teria uma recuperação mais lenta.
Desta forma, Dawson decidiu retirar a parte superior do dedo. “Tomei essa decisão com o aval do cirurgião, não apenas para ter a chance de jogar em na capital francesa, mas para a minha vida futura”, disse o australiano à rede de TV local Channel Seven.
A controversa decisão do atleta em prol da participação nas Olimpíadas de Paris deu o que falar, claro. Colin Batch, treinador da equipe vice-campeã em Tóquio, comentou: “Não é algo que um treinador possa decidir por um jogador […] Não tenho certeza se eu faria o mesmo”.
Mas o que a medicina diz sobre o caso? Para entender, AnaMaria conversou com o ortopedista e traumatologista Antonio Carlos da Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), que falou sobre os riscos da escolha de Matt Dawson.
A amputação do atleta
Antes de tudo, o especialista listou os casos em que a amputação de um membro é considerada do ponto de vista médico, como necrose, infecção grave, esmagamento ou tumores. A intervenção é indicada quando não é possível preservar o dedo ou quando compromete a saúde do paciente, como é o caso de tumores malignos.
No caso do australiano, ele classifica que a amputação “não é usual”. Até por isso, o caso não serve de parâmetro para casos “normais”, desconsiderando os atletas de alto nível: “Absolutamente não”, respondeu Antonio, ao ser questionado sobre a possibilidade.
“Infelizmente não sei o que aconteceu exatamente no dedo do atleta , mas outras possibilidades poderiam ser pensadas, como fixação com parafusos, em caso de fraturas, ou até anestesia do dedo antes das partidas”, avalia, destacando o objetivo do atleta em participar das Olimpíadas de Paris.
Já aconteceu no Brasil!
Dawson não é o primeiro atleta a escolher o caminho menos convencional. Inclusive, o médico relembra de um caso parecido. Em 1957, foi o goleiro Castilho quem recorreu à amputação. O atleta do Fluminense sofria com diversas lesões no dedo mindinho.
Na época, os arqueiros jogavam sem luvas e com bolas mais pesadas. E o recomendado para tratar as repetidas lesões era um enxerto ou a correção do eixo, que necessitariam de ao menos 90 dias de repouso absoluto. Foi quando ele sugeriu a retirada.
Ao ge, o filho de Castilho detalhou: “Depois da cirurgia, quando ia jogar, ele preenchia aquele vazio com um enchimento, uma tala… Foi uma coisa da cabeça dele, todo mundo achava ele maluco (risos). Eu acho que não existe história igual a essa”.
Prejuízos à saúde e outras alternativas?
Além disso, o presidente da SBCM destaca que, assim como qualquer intervenção cirúrgica, a amputação de Dawson também tem riscos. Ainda assim, o tempo de recuperação deve ser menor do que o tratamento convencional das fraturas — justamente o objetivo em prol das Olimpíadas de Paris.
Sobre os possíveis prejuízos à saúde, o especialista destaca a presença da dor fantasma, que é quando o paciente sente dor no segmento amputado. “É comum também a presença de choque ao toque na ponta do dedo, principalmente em países de clima frio”, acrescenta.
Por outro lado, a circulação, movimentação e outros pontos essenciais da mão e outros dedos não são afetadas pela amputação. Por fim, vale lembrar que Dawson já “acostumou” com lesões extremas. Há seis anos, o australiano quase perdeu o olho após ser atingido por um taco de hóquei.
A Austrália estreia nas Olimpíadas de Paris neste sábado (27). Os medalhistas de prata da última edição enfrentam a Argentina, que saiu campeã dos Jogos do Rio, em 2016. O Brasil não se classificou para a disputa na capital francesa, tendo disputado a modalidade uma única vez — quando foi país-sede.
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