Um problema de dimensões assustadoras: em um período de dois anos, 37 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registradas no Brasil. Isso quer dizer que, a cada dia, cerca de 50 pessoas se mobilizam para denunciar casos semelhantes ao que acompanhamos através da novela. Infelizmente, a história de Laura faz parte do padrão: a cada dez vítimas, sete são meninas e quatro têm menos de 11 anos. A maior parte dos crimes é cometida por homens adultos. Ao ver o assunto escancarado na televisão, ficamos indignados. Mas na vida real, muitas famílias acabam se calando por medo ou vergonha – afinal, o abusador pode ser alguém querido, alguém agressivo que dá medo ou até quem banca a maior parte das contas da casa.
O que configura o abuso sexual infantil?
O abuso sexual infantil é quando um adulto ou uma pessoa três anos mais velha que a criança ou o adolescente age visando o prazer e a gratificação própria, explorando sexualmente a vítima. “Isso pode acontecer com toque físico, como beijo, carícia, penetração com objetos e sexo oral, ou até mesmo sem qualquer tipo de contato físico, como cantadas e exibicionismo”, explica Luiz Francisco, professor de psicologia da FADISP (SP).
Sintomas de que algo está errado
De acordo com Ellen Moraes Senra, psicóloga e especialista em terapia cognitivo comportamental, a criança costuma manifestar que algo está errado ficando mais ansiosa e medrosa, ou com alterações no sono, na alimentação e no desempenho na escola. “As vítimas de violência sexual também podem repetir a violência que sofreram por meio de brincadeiras sexualizadas ou com outros colegas. É importante também observar se há marcas no corpo”, diz ela.
Traumas
Segundo os especialistas, todo ato de abuso sexual compromete o desenvolvimento da criança e do adolescente. “Além de provocar ansiedade elevada e estresse pós-traumático, as vítimas podem desenvolver problemas com a própria sexualidade”, explica Francisco.
Papel dos pais
Quem relata que sofreu violência sexual já está sensível. Por isso, a melhor coisa a se fazer é confiar na criança ou no adolescente. Quando o diálogo entre pais e filhos é aberto e acolhedor, a criança se sente à vontade para revelar o abuso. Feito isso, procure orientação de um psicólogo e psiquiatra para a denúncia.
O caminho da denúncia
Nem sempre as pessoas da casa estão dispostas a falar. Por isso, se você tem contato com uma criança e desconfia que algo possa estar acontecendo com ela, denuncie. “Esse ato é importantíssimo para interromper o ciclo de violência no qual ela está envolvida”, explica Denise Maria Cesario, gerente executiva da Fundação Abrinq. Essas denúncias podem ser feitas através do Disque-100 (você não precisa nem se identificar) ou de outras instâncias, como um Conselho Tutelar. De lá, as informações passam para delegacias especializadas, que investigam os fatos e intimam os envolvidos para depor. A criança pode ser encaminhada para o SUS, a fim de checarem suas condições físicas e também de receber atendimento psicológico. Uma vez comprovado o crime, a Justiça julga o caso e penaliza o abusador de acordo com a legislação.