A novela ‘Vale Tudo‘ sempre foi sinônimo de grandes viradas, mas o remake de 2025 parece ter confundido impacto com pressa. O diagnóstico de leucemia de Afonso (Humberto Carrão) surgiu tão abruptamente que o público mal teve tempo de processar. Do nada, ele estava doente. Logo depois, já em tratamento. Em ritmo de série, não de novela.
E esse é justamente o problema. Diferente de outros formatos, a força da telenovela está no tempo: a construção gradual das tramas, a empatia que nasce da convivência com os personagens, o envolvimento que nos faz sofrer junto. Quando essa cadência é quebrada, a emoção se perde.
Basta lembrar de ‘Laços de Família’ (2000). A leucemia de Camila (Carolina Dieckmann) não virou notícia de um capítulo para o outro. Foram meses de indícios, exames, dúvidas, até chegar à revelação. O público acompanhou cada etapa, se afeiçoou à personagem e entendeu o peso da doença. Resultado: uma das cenas mais marcantes da teledramaturgia, a do corte de cabelo, que até hoje é lembrada.
Já em ‘Vale Tudo’, a leucemia de Afonso parece ter sido usada como um recurso rápido para movimentar a história. Não houve tempo para construir tensão, para explorar fragilidades, para gerar empatia. A consequência foi uma das tramas mais criticadas do remake. Por exemplo: a colunista Anna Luiza Santiago, responsável pela coluna Play, do jornal O Globo, deu nota 0 ao arco, chamando atenção justamente para a pressa do roteiro. Em fóruns de discussão, internautas definiram o câncer de Afonso como “pego como catapora”. Difícil discordar.
Ainda assim, não dá para ignorar a força de algumas cenas recentes. Na última sexta-feira (29), Solange (Alice Wegmann) revelou a Afonso que ele é o pai dos filhos que ela espera, em um momento de cumplicidade que arrancou lágrimas do público.
Já no sábado (30), os dois dividiram talvez a sequência mais emocionante até agora: enquanto raspa o cabelo do amado, Solange fala sobre os gêmeos para distraí-lo, transformando a dor em ternura. Humberto Carrão e Alice Wegmann entregaram atuações intensas, transmitindo um verdadeiro turbilhão de emoções que fez o público se sentir parte daquela intimidade.
O mais frustrante é que o tema tinha potencial para ser forte. Poderia humanizar Afonso, criar um elo com o público e até render debates relevantes sobre saúde e escolhas pessoais. Mas, ao ser resolvido em segundos, soou como um artifício descartável. Ainda não sabemos se ele vai sobreviver ao tratamento, mas a sensação é que, após o fim dessa tempestade, ele e Solange vão viver felizes para sempre com os gêmeos. E mesmo se esse não for o caso, a falta de desenvolvimento dessa trama continua sendo um problema.
A pergunta que fica é: Afonso precisava ter câncer só para se curar? Talvez a pressa em chocar tenha feito a novela esquecer que emoção não se impõe, se constrói.
Leia também:
Além de Taís Araujo em ‘Vale Tudo’: veja atores que criticaram rumo na novela