Peço licença para começar essa resenha falando de um lado meu que os mais íntimos conhecem bem: sou uma noveleira de carteirinha – e tenho minhas tramas preferidas. Já apelando para um certo clubismo televisivo, a versão de 1988 de Vale Tudo, para mim, é uma obra-prima. Quando fiquei sabendo do remake, senti ciúme, confesso.
A primeira versão aconteceu na época certa, no Brasil certo. E foi um tremendo sucesso de audiência. O país, recém-saído da ditadura militar, via nascer a Constituição. A sociedade clamava por justiça social. Por isso, a honestidade caiu como uma luva ao servir de pano de fundo para Vale Tudo. Mas será que a tônica ainda funciona?
Já entrego de cara: a nova versão de Vale Tudo me pegou. Difícil a tarefa de julgar um produto da complexidade e extensão de uma novela considerando apenas as primeiras semanas de exibição. Porém, considero que a primeira fase da trama serve como termômetro. Vale pontuar que Renascer me fisgou na primeira semana e me perdeu no decorrer dos capítulos.
1988 x 2025
É injusto comparar uma obra a outra, já que cada uma é filha de seu próprio tempo – e autor. Porém, é justo avaliar as adaptações que Manuela Dias fez para dar sentido à história, que agora acontece no Brasil de 2025.
Já no primeiro capítulo, o remake revida um tapa com 37 anos de atraso. Raquel não pensa duas vezes antes de retribuir a agressão de Rubinho, enquanto na original, a violência fica barata. A autora também inclui outros temas ao longo dos capítulos: pandemia, excesso de plástico no planeta e desigualdades de gênero.
A nostalgia começa na abertura
A abertura, embalada pela voz de Gal Costa na composição de Cazuza, assim como no folhetim original, mostra o contraste do país, de forma repaginada, claro. Embora a web tenha comparado à propaganda do governo federal, a vinheta produzida pela equipe da designer Júlia Rocha fez um ótimo trabalho ao retratar, sutilmente, as desigualdades do Brasil.
O elenco entrega tudo?
Paolla Oliveira é uma Helenina fragilizada pelo alcoolismo. O olhar baixo, o menear de cabeça incerto, a insegurança na fala… em detalhes sutis, pude ver Paolla entregando trejeitos de uma Helena Roitman interpretada por Renata Sorrah em 1988. E estou ansiosa pela icônica cena da fala “Bota um mambo aí, poxa! Um mambo bem caliente!”
Parte da Internet tomou as dores de Maria de Fátima, interpretada por Bella Campos, o que mostra que a atriz está fazendo um bom trabalho. Mas será que essa empatia pelo medo da pobreza vai durar até o fim da trama? Já Taís Araújo não precisou de mais de cinco minutos de tela para me convencer como Raquel. Ela domina cada cena que aparece.
Em suma, vale a pena continuar acompanhando a nova Vale Tudo. Não falo só por mim, mas muita gente estava com saudade de um novelão!
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (18 de abril). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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