O documentário Os Avós, que estreia nesta quinta-feira (21) no Festival de Cinema de Gramado, chama atenção para um tema delicado: a adultização de crianças e adolescentes que se tornam pais antes mesmo de completar a própria infância. Dirigido por Ana Lígia Pimentel, o longa acompanha seis famílias da comunidade ribeirinha do Livramento, em Manaus, e expõe as consequências dessa realidade para jovens e suas famílias.
Segundo a diretora, a questão vai além de maternidade precoce. Ela mostra que, quando uma menina ou um menino assume responsabilidades de adulto, como criar um filho, não está preparado. “É uma criança achando que é adulto. Essa é a face mais dura da adultização“, diz Ana ao Terra.
Adultização para sobreviver
Embora o tema esteja em alta nas redes sociais, após denúncias do influencer Felca sobre a adultização no mundo virtual, a produção de Ana Lígia revela outro lado: o da sobrevivência.
Muitas jovens relatam que a gravidez foi uma forma de buscar proteção em um relacionamento, mesmo que isso significasse trocar uma violência por outra. “As meninas se casam acreditando que vão escapar da violência em casa, mas acabam entrando em novas situações de imposição”, explica a diretora.
O documentário ainda destaca como meninos pressionam parceiras a não usarem camisinha, reforçando a desigualdade de poder nas relações. Para muitos, a maternidade precoce não é escolha, mas um reflexo da falta de alternativas em contextos de vulnerabilidade social.
Histórias de dor e silêncio
Durante as gravações, a equipe se deparou com relatos marcantes. Ana Lígia foi a primeira pessoa a perguntar às meninas como elas se sentiam, e muitas não conseguiram conter o choro. “Foi um desabafo. Elas carregavam um choro preso, de anos sem poder falar com ninguém sobre isso”, lembra.
Esse retrato de tristeza é uma das forças do documentário. Ao dar espaço para que jovens mães falem de suas dores, o filme rompe com o silêncio e expõe uma realidade que segue acontecendo em diferentes partes do país.
Saúde pública e cultura geracional
Apesar de haver contraceptivos disponíveis no sistema público de saúde, a questão vai além do acesso. “Eu moro aqui e sei que existem métodos contraceptivos. O problema é cultural, geracional. São estruturas que se repetem”, afirma Ana Lígia.
O ciclo da adultização se perpetua quando famílias reproduzem padrões e meninas não recebem apoio suficiente para quebrar essa lógica. Assim, a obra provoca uma reflexão: como a sociedade pode intervir para interromper essa repetição de histórias?
Um retrato necessário
Com uma abordagem sensível, mas firme, Os Avós traz à tona a dor de meninas e meninos que perderam parte da infância para assumir responsabilidades que não lhes cabiam. O filme mostra que, por trás dos números de gravidez na adolescência, existem histórias reais, carregadas de tristeza, mas também de coragem.
“Fiquei muito triste pelas meninas. Essa emoção atravessou todo o documentário”, resume a diretora. A exibição em Gramado reforça a importância de discutir o tema e de olhar com mais atenção para comunidades que vivem à margem.
Resumo: O documentário Os Avós, exibido no Festival de Gramado, expõe como a adultização afeta crianças e adolescentes que se tornam pais precocemente. A obra mostra histórias de dor, sobrevivência e resistência, levantando reflexões sobre cultura, desigualdade e saúde.
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