Após Fernanda Torres retornar de sua turnê em direção ao Oscar, sua mãe, Fernanda Montenegro, chega aos cinemas com Vitória. Inspirado em uma história real e tão intensa quanto Ainda Estou Aqui, o filme retrata a trajetória de uma mulher que precisou viver escondida por 17 anos após denunciar criminosos e policiais corruptos, levando-os à prisão.
A história real por trás de Vitória
No filme, acompanhamos Nina, uma senhora solitária que, preocupada com a crescente violência em sua vizinhança, começa a filmar da janela de seu apartamento a movimentação de traficantes. Durante meses, ela registra as atividades criminosas com a intenção de cooperar com a polícia.
Na vida real, Nina foi Joana Zeferino da Paz, uma massoterapeuta alagoana que, em 2003, entrou com uma ação judicial contra o Estado do Rio de Janeiro pedindo indenização pela desvalorização de seu imóvel. O motivo? O tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, favela de Copacabana, bem nos fundos de seu apartamento.
Ao ler a resposta de um coronel da Polícia Militar alegando que o tráfico no local era uma “mentira”, Joana decidiu reunir provas. Comprou uma câmera e passou meses registrando em vídeo a movimentação criminosa. O material resultou em oito fitas VHS entregues a um policial do Estado.
O jornalista Fábio Gusmão, ao descobrir a história, investigou o caso e se impressionou com a coragem de Joana. Seu apartamento ficava a apenas 150 metros do ponto de venda de drogas, e em muitos momentos, nos próprios vídeos, ela perdia a paciência e gritava com os traficantes. Segundo ela, a sorte era que a consideravam “louca”.
O impacto das denúncias e a vida em sigilo
A história de Joana veio a público em 2005, quando o jornal Extra publicou um caderno especial revelando detalhes de seu diário em vídeo. Para protegê-la, sua identidade foi mantida em sigilo, e ela recebeu o codinome Dona Vitória.
Com a repercussão do caso, Joana entrou para o programa de proteção a testemunhas, mudando-se para um local seguro. Sua denúncia resultou em mais de 30 prisões, incluindo dois policiais militares envolvidos com o tráfico.
Apesar do anonimato, Joana se tornou um símbolo de coragem e recebeu prêmios como o PNBE de Cidadania e o Faz Diferença, do jornal O Globo, como personalidade do ano no Rio de Janeiro. Infelizmente, seu rosto só foi revelado publicamente após sua morte, em 2023, devido a complicações de um AVC.
Por que Fernanda Montenegro interpreta uma mulher negra?
Um dos pontos mais discutidos sobre o filme Vitória foi a escolha de Fernanda Montenegro para interpretar Joana, que na vida real era uma mulher negra. A decisão gerou críticas sobre o possível embranquecimento de uma história essencial para a comunidade negra.
O diretor Breno Silveira, que iniciou o projeto, explicou que no momento em que a produção começou, não se sabia a identidade real de Joana, já que suas características físicas foram mantidas em sigilo durante anos pelo programa de proteção a testemunhas.
Além disso, a roteirista Paula Fiuza revelou que a própria Joana era uma grande admiradora de Fernanda Montenegro. “Ela era apaixonada pela Dona Fernanda, citava muito Central do Brasil e dizia que ela era uma atriz extraordinária”, contou Paula ao Fantástico.
Curiosamente, o filme também inverteu a etnia do jornalista Fábio Gusmão, que no longa é interpretado por um ator negro, enquanto na vida real ele é branco. A decisão, segundo os produtores, foi uma forma de manter o sigilo da identidade das pessoas envolvidas no caso.
Com um enredo inspirado em fatos reais, Vitória não é apenas um thriller sobre denúncia e sobrevivência, mas também um retrato do medo e da força de uma mulher que não se calou diante do crime organizado. O filme chega aos cinemas carregado de simbolismo e emoção, trazendo à tona uma história que não pode ser esquecida.
Confira o trailer de Vitória:
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