Uma cena ‘Nos Tempos no Imperador’, exibida no último sábado (21), levantou um debate intenso nas redes sociais. Na ocasião, Samuel/Jorge (Michel Gomes) sugeriu que a namorada, Pilar (Gabriela Medvedovski), sofreu ‘preconceito’ por ser branca. Após duras críticas ao roteiro, a autora da novela, Thereza Falcão, veio à público pedir desculpas pelo contexto da cena.
A atual novela das 6 se passa durante o Segundo Reinado, em meados de 1856, antes da abolição da escravidão. No período, porém, alguns negros já haviam conseguido sua liberdade, após muita luta, e conseguiam refúgio na Pequena África. O espaço, no centro do Rio de Janeiro, também abrigava escravos foragidos e outros negros que precisavam de proteção.
Na trama, Samuel namora Pilar, uma moça branca. Quando a Condessa de Barral (Mariana Ximenes) avisa que vai deixar o país, a jovem fica sem ter onde morar. É nesse momento que o músico sugere que ela busque apoio na Pequena África – coisa que é rapidamente rejeitada pelo dom Olu (Rogério Brito), rei que administra o espaço.
Foi então que o ex-escravo reclamou por não poder dividir o espaço com a amada. “Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?”, declarou o personagem. Por sua vez, a aspirante a médica reconheceu seus privilégios como pessoa branca.
Cena de Nos Tempos do Imperador sugere “racismo reverso” pic.twitter.com/MEK9SK5TPv
— WWLBD (@whatwouldlbdo) August 24, 2021
INDIGNAÇÃO
O ativista AD Júnior fez uma postagem rechaçando a fala de um dos protagonistas da novela das seis. “Pessoas negras nem eram consideradas seres humanos e nem poderiam de fato segregar pessoas. Sem poder. Os brancos poderiam morar até lá no centro da pequena África se quisessem. Eles são e eram donos de tudo… Pessoas negras viviam em regime de exceção”, começou ele, destacando que cenas como essa podem ser consideradas como fato histórico por pessoas que não conhecem a história do período.
“O conceito de direitos igualitários nem se discutia do ponto da humanidade. Entenda: negros não eram seres humanos (…) Aplicar o conceito de racismo reverso numa fala é muito perigoso e essa cena vai morar na cabeça de milhares de pessoas. Um desserviço total”, continuou, na legenda de uma publicação no Instagram.
Nos comentários, dezenas de personalidades da mídia criticaram a situação. “Bastante vergonha”, escreveu Ícaro Silva. Polly Marinho se colocou no lugar do ator que proferiu as falas: “deve ter doído muito para o ator fazer essa cena. Fico aqui pensando no psicológico do Michel Gomes”, disse.
A cantora Maria Rita também se indignou: “ah, mano, não acertam uma?”, afirmou. Fabiula Oliveira, Monica Iozzi e Hélio de la Peña também se mostraram bastante chocados.
PRONUNCIAMENTO DA AUTORA
Na própria publicação do ativista, Thereza Falcão – que escreveu a novela em parceria com Alessando Marson – assumiu o erro e pediu desculpas pelo ocorrido. Ela também justificou que, quando os diálogos foram escritos, os autores não tinham assessoria especializada – o que só aconteceu com a entrada do pesquisador da cultura afro-brasileira Nei Lopes no projeto.
“Foi péssimo. Pedimos muitas desculpas. Eu mesma quando vi a cena aqui em casa, falei: ‘o que foi isso?’ Todos os capítulos que vão ao ar até o 24 foram escritos em 2018, gravados na ampla maioria em 2019. Na época não contávamos com uma assessoria especializada, o que só aconteceu no ano passado, com a entrada do Nei Lopes. Hoje assisto à muitas cenas com uma sensação muito longínqua. Mais uma vez pedimos desculpas por cometer um erro grosseiro como esse”, declarou.
Na maioria das mais de 170 respostas que o comentário recebeu, os internautas não se mostraram satisfeitos com as justificativas apresentadas.