Um relatório global de 2025 da Norton Cyber Safety revelou que 39% das crianças brasileiras já recorreram à Inteligência Artificial em busca de companhia e apoio emocional. O estudo também mostra que 39% dos pais flagraram os filhos usando dispositivos após o horário de dormir e 17% acessando sites bloqueados. “Estamos diante de uma infância que não apenas cresce com tecnologia, mas que já terceiriza sentimentos e vínculos para ela. O impacto é profundo no cérebro, na regulação emocional e na forma como essas crianças se relacionarão com o mundo”, explica a pedagoga Mariana Ruske, fundadora da Senses Montessori School.
Segundo pesquisas, o uso excessivo de telas afeta regiões como o córtex pré-frontal (autocontrole), o lobo temporal (memória e linguagem) e o lobo parietal (integração sensorial). Com a IA, os riscos se ampliam: “Crianças acostumadas a receber respostas prontas perdem a ‘musculatura’ da dúvida e da investigação. Crescem sem pensamento crítico, sem autonomia e vulneráveis a manipulações”, afirma Ruske. O relatório mostra ainda que 67% dos pais relatam que os filhos já utilizam o ChatGPT, enquanto 64% acreditam que a IA pode ser útil no aprendizado.
Para a especialista, o desafio não é a tecnologia em si, mas o momento de introduzi-la. Ela recomenda adiar o uso de telas nos primeiros anos, valorizar brincadeiras analógicas, proteger o sono, evitar o uso da tecnologia como recompensa e educar para a mediação consciente. “A infância é um período crítico. O que não se constrói nesses anos dificilmente se reconstrói depois. Se quisermos uma geração capaz de pensar por si, de criar, de sentir e de inovar, precisamos devolver às crianças experiências reais, vínculos humanos e a liberdade de construir sua própria identidade sem depender de algoritmos”, finaliza.







