Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva mostrou um retrato alarmante da violência sexual no Brasil: 15% das brasileiras afirmam ter sido vítimas de estupro. Entre elas, a maioria (12% dos 15%) relata que o crime ocorreu antes dos 13 anos de idade — e mais da metade (57%) nunca contou a ninguém.
O levantamento, realizado entre 11 e 25 de julho com 1.200 entrevistados de todas as regiões do país, indica ainda que oito em cada cem mulheres que sofreram estupro engravidaram após a violência. A maior parte das vítimas, no entanto, não procurou serviços de saúde ou apoio psicológico, o que reforça a urgência de políticas públicas de acolhimento e informação.
Quando o abuso infantil acontece dentro de casa
Segundo Marisa Sanematsu, diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, o tabu em torno do abuso infantil e a culpabilização das vítimas fazem com que muitos casos permaneçam ocultos. “A maioria dos estupros ocorre dentro de casa e é cometido por um parente ou conhecido. Muitas vezes, a família não quer enxergar e muito menos denunciar o agressor, pois isso poderia desestruturar a casa”, explica ao g1.
O agressor, geralmente, se aproveita da vulnerabilidade da criança e da confiança que a família deposita nele. “A menina se torna refém do agressor, pelo afeto, sensação de cumplicidade ou ameaças a ela, ou a pessoas de quem gosta”, completa Marisa.
Feridas que o tempo não apaga
Os efeitos psicológicos do abuso infantil podem durar décadas. Muitas vítimas relatam bloqueios de memória e dificuldades de confiar em outras pessoas. Sem tratamento, o trauma pode gerar depressão, ansiedade e até transtorno de estresse pós-traumático.
“Algumas vítimas relatam que, já adultas, lembranças reprimidas retornam, causando sofrimento que precisa ser tratado em terapia. São feridas que resistem ao tempo porque não foram tratadas adequadamente”, afirma Marisa.
Falta de informação e desconhecimento sobre o aborto legal
Outro dado preocupante do estudo diz respeito à desinformação sobre o aborto legal. Apenas 43% dos entrevistados sabem que a interrupção da gravidez é permitida por lei em casos de estupro, risco de vida para a gestante e malformação fetal. Além disso, quatro em cada dez pessoas ainda acreditam ser necessário apresentar boletim de ocorrência para ter acesso ao procedimento — o que não é verdade.
O levantamento mostra que 7 em cada 10 mulheres gostariam de ter a opção de interromper legalmente uma gestação decorrente de estupro. No entanto, 71% dos abortos relatados no país ainda acontecem de forma clandestina, o que coloca em risco a saúde e a vida das mulheres.
Garantir informação e acolhimento é essencial para romper o ciclo de silêncio e medo que envolve a violência sexual. Políticas públicas voltadas à educação sexual, à escuta das vítimas e ao fortalecimento das redes de apoio são passos fundamentais para mudar essa realidade.
Resumo:
A pesquisa do Instituto Patrícia Galvão e do Instituto Locomotiva revela que 15% das brasileiras já foram vítimas de estupro, em sua maioria antes dos 13 anos. A falta de informação e o medo de denunciar mantêm o ciclo da violência sexual, enquanto o desconhecimento sobre o aborto legal ainda limita o acesso das mulheres a seus direitos.
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