Não é nenhuma novidade que o feijão é um alimento quase obrigatório na mesa dos brasileiros. Seja com arroz em cima ou embaixo, na feijoada, no bolinho ou com caldinho: o alimento e suas inúmeras formas de preparo e consumo são marca registrada do país.
Mas, ao mesmo tempo, também não faltam suposições e crenças criadas sobre este grão tão rico em nutrientes. Pensando nisso, AnaMaria Digital pediu para a engenheira de alimentos Ana Rachel, diretora de operações da Combrasil, explicar e desmistificar tudo sobre o feijão, alimento que ela considera como o mais plural, democrático e completo, sendo fundamental para a dieta.
Feijão engorda?
Não, e de uma certa forma, é o contrário. Isso porque o amido presente no feijão é chamado amido resistente – ou seja, ele é resistente a digestão. Então, da forma que entra, ele sai, e não é absorvido. O feijão não te faz ganhar peso. É ao contrário: graças ao alto índice de fibras solúveis que tem e a alta fonte de proteína, esse amido te faz perder peso e não ganhar.
O feijão é somente rico em ferro?
Mito. Há inúmeros outros benefícios que o alimento oferece, além do ferro. Segundo a especialista, a “má fama” é graças a uma antiga legislação, responsável por obrigar a declação de ferro na tabela nutricional do alimento enviado às prateleiras. A lei e as embalagens fizeram com que gerações crescessem levando esse mito como verdade.
“O feijão é um dos alimentos mais completos e deve fazer parte de dietas”
Verdade. Além da questão cultural, geralmente, um prato de feijão vem acompanhado de uma porção de arroz – e isso potencializa sua saúde. “O nosso corpo precisa de 20 aminoácidos principais para a nossa saúde estar em equilíbrio e em bom funcionamento. Desses 20, dez são essenciais para o corpo, porém o organismo não dá conta de produzir e precisa de uma ingestão proveniente dos alimentos” argumenta Ana.
E quem tem esse combo dos 10 aminoácidos essenciais? Arroz e feijão.
“Todos os grãos são transgênicos (geneticamente modificados), por isso fazem mal a saúde”
Falso. A modernidade trouxe um impacto muito grande na inflamação dos organismos na indústria alimentícia. A longo prazo, produtos industrializados afetam a saúde do consumidor. A engenheira reforça que toda a alteração genética precisa ser estudada e comprovada, além de traçar um comparativo com a soja e o milho, alimentos que são modificados geneticamente. Ao contrário do feijão, que não sofre tanto com as alterações – por isso, o consumo é indicado.
Preciso deixar o feijão de molho antes de cozinhá-lo?
Sim. A importância de deixar o feijão de molho, de 8 a 12 horas serve para eliminar alguns antinutrientes que prejudicam absorção dos nutrientes. Em caso de dúvidas sobre a procedência do alimento, é sugerido que deixe de molho para que qualquer componente não benéfico, como agrotóxico, saia e restem apenas nutrientes benéficos – que terão total absorção.
O processo de produção e escolha dos grãos impacta nos nutrientes?
Verdade. Até a escolha das fontes desta matéria prima é fundamental. E isso vai desde o manejo no campo à forma de armazenagem, colheita e toda a tratativa do solo. O controle de qualidade começa bem antes: a forma como esse feijão se desenvolve ainda na vagem dele e no pé de feijão também são etapas criteriosas
Isso porque quando temos um desenvolvimento deficiente, esse produto é chamado de “fraco”. A leguminosa se desenvolve, mas fica deficitária desses nutrientes. O processo também impacta, a seleção é fundamental para que você tire os grãos defeituosos, e deixe apenas aqueles considerados.
Grão feijão tipo 1, que é a classificação que denomina a qualidade do produto.
O feijão está sumindo do prato dos brasileiros?
“Na verdade, tivemos um apagão do feijão no mercado. No estimulo e incentivo ao consumo, por causa de alguns mitos e falta de informação. Muitas pessoas pensam que precisam comer muito feijão, em quantidades enormes para ser suficiente. Mas basta uma concha de feijão para você ter acesso a tudo. Essa é a quantidade diária recomendada”, esclarece a engenheira alimentícia.
A profissional também ressalta a questão holística por traz do tema. Para ela, a queda no incentivo da produção para o produtor rural, fez com que o plantio de outros grãos, como soja e milho, exportados em níveis muito maiores, se tornassem mais vantajosos.
Como a produção foi reduzida de maneira impactante, a redução do produto nas prateleiras dos supermercados foi visível. Com uma quantidade ainda menor de feijão disponibilizados para a venda, o preço foi no caminho inverso e subiu – fazendo com que o consumo também diminua.