A novela Vale Tudo, exibida atualmente pela TV Globo, está tratando de um assunto que atravessa a ficção e alcança o cotidiano de muitas empresas: o assédio moral e o impacto de líderes emocionalmente despreparados.
O personagem Marco Aurélio (Alexandre Nero), CEO da fictícia TCA, representa um perfil de chefia ainda comum: autoritário, manipulador e incapaz de lidar com suas próprias emoções. Na trama, ele abusa psicologicamente de secretárias e assistentes, criando um ambiente profissional marcado pelo medo e pela instabilidade.
A situação vivida pelos personagens Consuelo (Belize Pombal), Adelaide (Karine Teles) e Freitas (Luis Lobianco) pode até parecer exagerada, mas especialistas afirmam que esse tipo de liderança tem reflexos reais e perigosos no ambiente corporativo.
Liderar também é saber cuidar das emoções
Para Leonardo Loureiro, especialista em educação empresarial e gestão emocional, liderança não se resume a resultados e prazos. “Liderar não é só gerenciar demandas, mas também ser capaz de lidar com as próprias emoções e as dos outros, principalmente, em situações de pressão. O autoconhecimento, o controle emocional e a empatia são elementos essenciais para uma liderança que realmente inspire e engaje sua equipe”, explica.
Ele também alerta que, quando essas habilidades não são desenvolvidas, os líderes podem acabar reproduzindo comportamentos abusivos. “Líderes que não desenvolvem essas habilidades podem se tornar autoritários ou instáveis, o que prejudica tanto o ambiente de trabalho quanto os resultados da organização”, diz.
Falta de preparo emocional gera conflitos e estresse
Outro ponto importante, segundo Loureiro, é o impacto da inteligência emocional na comunicação dentro da equipe. “Quando o líder é capaz de se comunicar de maneira clara e empática, ele cria um ambiente de confiança e colaboração, fundamental para o sucesso da equipe. A falta desse tipo de gestão pode resultar em mal-entendidos, frustração e conflitos desnecessários.”
A psicóloga Amanda Carvalhal, CEO do grupo Lifting, reforça que a gestão emocional também ajuda a reduzir o estresse em momentos de crise. “Líderes que sabem lidar com suas próprias emoções e que reconhecem as emoções dos colaboradores criam um ambiente mais saudável e produtivo, onde o estresse é controlado e não é um fator constante e limitante”, afirma.
Empresas precisam mapear a saúde mental dos colaboradores
Segundo Amanda, investir em mapeamentos de saúde mental nas organizações deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade urgente.
O alerta tem base em dados recentes do Ministério da Previdência Social: em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos do trabalho por transtornos mentais, o maior número em dez anos. O aumento de 68% em relação ao ano anterior mostra que o problema está crescendo de forma preocupante.
Realizar mapeamento de saúde mental dentro das organizações é fundamental, mas tudo isso de nada vale se os próprios gestores e líderes não trabalharem essas questões dentro de si mesmos. Eles precisam ser os primeiros a desenvolver sua inteligência emocional, para que consigam reconhecer e lidar com os desafios de suas equipes de forma saudável.
“Liderança não é sobre ter todas as respostas, mas sobre saber ouvir, entender e se adaptar. Quando o líder desenvolve o autoconhecimento e a gestão das próprias emoções, ele não só melhora a relação com sua equipe, mas também contribui para o sucesso sustentável da organização como um todo”, conclui a especialista.
Resumo:
A novela “Vale Tudo” reacende o debate sobre assédio moral e liderança tóxica nas empresas. Especialistas explicam como a gestão emocional pode transformar o ambiente de trabalho e evitar conflitos, afastamentos e estresse excessivo entre os colaboradores.
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