Sociólogas explicam a luta da mulher que envolve o dia 8 de março
O Dia Internacional da Mulher acontece neste domingo, 8 de março. De forma geral, a data costuma ser comemorada com flores e elogios, mas é preciso entender que existe uma luta pela igualdade de gênero muito maior do que isso por trás da celebração.
No Brasil, por exemplo, aconteceu um aumento de 7,3% nos casos de feminicídio em 2019 quando comparado ao ano anterior, apontou levantamento feito pelo portal G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. Isso significa que 1.314 mulheres foram mortas apenas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.
Para Jucimeri Isolda Silveira, professora do Núcleo de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a data, lembrada em mais de 100 países, é fundamental para dialogarmos em sociedade, nos diferentes espaços sociais, sobre as lutas e conquistas históricas das mulheres por liberdades e igualdade, além de emancipação.
E foram muitas as conquistas. Afinal, é importante lembrar que até 1920 as mulheres não tinham o direito de viajarem sozinhas. Ou que foi apenas em 1932, e após muita pressão, que a mulher brasileira casada obteve o direito de votar nas eleições nacionais. Em 1946, a obrigatoriedade do voto foi estendida para todas as mulheres — sejam casadas ou solteiras.
“Trata-se de uma luta social feminista pela dignidade humana, contra toda forma de opressão e desigualdade, daí sua contribuição para o conjunto das conquistas sociais”, explica.
MAS AINDA FALTA MUITO
Apesar de já termos conquistado nosso espaço no mercado de trabalho, continuamos ganhando menos do que homens no mesmo cargo, e as posições de chefia ainda são dominadas pelo sexo masculino.
Também estamos presentes em peso na universidade e conseguimos autonomia, mas não podemos andar nas ruas sem medo da violência, especialmente sexual. E continuamos sendo taxadas de “loucas” e culpadas por nossas posturas ou até mesmo pela escolha da roupa que estamos usando.
Eva Blay, professora emérita de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), lembra que este é um dia de reflexão sobre os direitos das mulheres. “Essas homenagens escondem a verdadeira reivindicação. É uma maneira de enrolar a situação da mulher. Não queremos flores, nem bombons, queremos igualdade de direitos. Não é que não gostamos, mas queremos flores o ano inteiro. E nesse dia em especial queremos lembrar da luta”, ressalta.
NA HISTÓRIA
Muitas manifestações foram realizadas ao redor do mundo pedindo mais direitos para as mulheres. Em 1908, por exemplo, as norte-americanas reivindicaram o direito ao voto e melhores condições de trabalho, já que as jornadas chegavam a 16 horas por dia.
A data, inclusive, costuma ser associada a um incêndio que matou 125 operárias que faziam uma greve por melhores condições de trabalho em uma fábrica têxtil localizada em Nova York (EUA) em 1917.
“Desde o fim do século 19, as mulheres resolveram instituir um dia para colocar suas reivindicações por causa dessas posições subordinadas, por não poder exercer todas as funções em alguns países”, explica Eva.
De lá para cá, as manifestações só aumentaram nas mais variadas datas e sempre com o mesmo objetivo: direito feminino. Até que em 1975, o 8 de março foi oficializado pela ONU como o Dia Internacional da Mulher.
Para a professora Jucimeri, a data precisa ser lembrada pelas lutas já realizadas e que ainda devem ser travadas. “Já que vivemos em uma sociedade desigual, que inferioriza, violenta e mata as mulheres. Deve ser lembrado para que as pessoas busquem o caminho do respeito e da igualdade de gênero”, diz.
POR QUE PRESENTES?
Por mais que tenha todo esse histórico, o Dia da Mulher passou a ser visto como um momento para presenteá-las com bombons, flores e elogios. Jucimeri explica que isso acontece porque a sociedade, de forma geral, quer ocultar a realidade, além de silenciar as mulheres com a cultura do consumo.
“São comportamentos que simbolicamente contribuem para transformar as mulheres em objeto ou reproduzir papéis sociais como a cuidadora do lar, como ‘sexo frágil’”, ressalta.
Fato é: tivemos muitos avanços em políticas para as mulheres, como a implantação da Lei Maria da Penha em 2006, mas Jucimeri Isolda ressalta que é preciso assegurar que essas mesma políticas públicas tenham continuidade.
ALÉM DA QUESTÃO DE GÊNERO
Existe um longo caminho pela frente, já que as desigualdades se revelam profundas no Brasil. Além da questão de gênero, há também o preconceito racial.
“A Unesco, responsável pela organização do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) de 2017, destacou que, além da má-remuneração e qualidade dos postos de trabalho, as mulheres negras são mais sujeitas à violência. De acordo com o documento, mulheres negras entre 15 e 29 anos tem 2,2 mais chances de serem assassinadas no Brasil do que uma mulher branca da mesma idade. Outro exemplo é a remuneração, onde uma mulher ganha 30% menos do que um homem, mas se for negra, recebe 40% menos”, esclarece a professora Jucimeri.
Para reformular o pensamento que está inserido no coletivo, a mestre em sociologia propõe que os papéis sociais, que reproduzem a desigualdade, sejam discutidos em diversos locais. “Nossa sociedade é estruturalmente desigual, e isso deve ser superado com políticas públicas, educação em direitos humanos, com o protagonismo das mulheres”.
SE NÃO POSSO DAR FLORES, O QUE EU DOU?
Mas se as mulheres não querem receber flores, elogios e bombons, o que elas querem? Já entendemos que o Dia Internacional da Mulher precisa ser lembrado pelas conquistas e lutas do gênero feminino, então nada mais justo que usar tais medidas no dia a dia.
Para isso, basta respeitá-las, ajudá-las em casos de violência e corrigir expressões e comportamentos machistas vindas de filhos, amigos e familiares, a fim de educá-los. Afinal, uma mulher não precisa de um amor para ser feliz e os seus trajes não dão permissão para que ela seja um alvo de violência.
Também dá para dividir as tarefas domésticas em casa -até porque todos moram nela e ninguém é empregado de ninguém. Se você for pai, ensine seu filho sobre a importância do respeito! Na hora de votar, também é importante escolher políticos que implementem leis que ajudem as mulheres. Não há como mudar a desigualdade feminina sem uma aliança dos homens.