Em entrevista exclusiva, Juliana Paes conta como é estar de volta ao horário nobre
Como a confeiteira Maria da Paz em ‘A Dona do Pedaço’, Juliana Paes volta a brilhar no horário nobre da Globo. Na trama, ela vive entre bolos, um amor interrompido e uma herdeira psicopata. Na vida, como qualquer mulher moderna, se divide entre o excesso de trabalho e a educação dos dois filhos. E foi sobre tudo isso, durante uma gravação do folhetim em um parque de São Paulo, que ela conversou com AnaMaria.
Maria da Paz é a sua segunda protagonista em pouco tempo. Como tem sido?
Na verdade, fiquei mais de um ano fora do ar. Parece menos porque a Bibi foi marcante. Existe o que chamamos de “rabo do foguete”: a novela acaba, mas o personagem segue vivo na memória das pessoas, no coração. Outro dia, gravando na Av. Paulista, muita gente ainda me chamava de Bibi. Então, existe insegurança e expectativa de que a Maria também caia no gosto das pessoas, seja querida como a Bibi.
E isso dá frio na barriga?
Quando perder esse frisson talvez perca um pouco a graça de fazer. O frio na barriga faz parte do processo. Graças a Deus, hoje, tenho um pouco mais de maturidade para lidar com isso. Dentro desse caos criativo, já entendo que essa é a dinâmica e tento, na medida do possível, ficar um pouco mais serena.
Você se sente pressionada?
Não, pelo contrário, me sinto impulsionada. Sabe quando recebe uma missão no trabalho e fala: “Agora eu vou ter que fazer o meu melhor”? Quando alguém me diz: “Quero ver se dará conta, a novela tem o seu nome”. Isso, para mim, é força motriz. Sempre fui movida pelos desafios. No início, fiquei: “Ai, meu Deus, mas eu sou A Dona do Pedaço?”
E depois?
Aí, entendi a força da novela ter um título personificado em alguém e o quanto isso cria identificação. Até porque a Maria fala do espírito trabalhador, aguerrido do povo brasileiro, principalmente das mulheres. Fico emocionada ao falar porque, tenho certeza, em cada mulher existe uma Maria da Paz que precisou largar uma família, um pai, uma mãe...
Que guardou uma dor grande em uma caixinha para ganhar a vida, conquistar seus objetivos. Alguém que não teve medo de enfrentar um trabalho, talvez não tão glamouroso, que não tem vergonha de pegar no batente. Acho essa mensagem vencedora, linda. Tenho um pouco disso na minha história, na história da minha família e, certeza, outras pessoas também têm.
O que mais a desafia na Maria?
Pela primeira vez, a minha idade está no meio das idades da personagem. Usei acessórios para esticar a pele por meses, foi esquisito. Mas na primeira fase ela era bem novinha. Depois, vivi a Maria da Paz com 25, 27 anos. Agora ela tem 45 anos e eu, 40. Pela primeira vez vivo alguém mais jovem e, depois, mais velha do que eu. Isso é um desafio. Ao mesmo tempo, me motiva saber que me foi concedida a responsabilidade de uma personagem madura. Isso significa que a Globo e os diretores veem em mim uma atriz com respaldo artístico para fazer. Isso me enche de alegria e entusiasmo.
E como é ser mãe de uma jovem? [Agatha Moreira faz Josiane, a filha de Maria da Paz na trama]
Ter uma filha de 20 anos é outro desafio. Afinal, sei lidar com as alegrias e os dilemas da maternidade até a idade dos meus filhos – de 8 anos [Pedro] e 5 [Antônio]. A parte de gerenciar uma empresa, já experimentei um pouco. Gosto de empreender. Mas estou estudando bastante, lendo livros. Gosto de biografias de grandes mulheres, acho estimulante saber o caminho que percorreram e aonde chegaram. Recomendo a da Michelle Obama [ex-primeira dama dos EUA] e a da Mary Key, dona da marca. A Mary tem uma trajetória vencedora.
Se preparou para ser uma confeiteira?
Eu sabia o básico: bater bolo, fazer brigadeiro... Mas precisei de aulas com uma profissional para pegar dicas. Aprendi, por exemplo, a quebrar ovo com uma mão só. Antes, batia um garfo. E aprendi, por exemplo, a colocar uma colher de creme de leite para o brigadeiro ganhar uma cremosidade diferente, um toque gourmet.
Sempre untei as formas de bolo com manteiga e farinha. Descobri que é possível usar um papel de enxugar a mão para ele sair sem a poeirinha de farinha que se forma em volta. Aprendi a fazer um bolo de abacaxi que nunca pensei que fosse gostar, mas achei maravilhoso. Mas, confesso, o meu preferido é o de banana.
Na novela, sua relação com a Josiane é conflituosa...
Todas as relações conflituosas são bem-vindas para um ator. Sempre existe alguém para dizer: “Ah, não é assim. Isso não existe”. Mas a gente sabe que existe. Quando leio o que a personagem da Agatha vai fazer, fico chocada. Chego a achar que é um desvio de personalidade, algo quase patológico.
Existe um nível de psicopatia, não é possível. Eu sou tão louca pela minha mãe, tão grata, mas sei que existem casos assim. Esses dias, li um livro sobre mães que não queriam ser mães, mas vivenciaram a experiência para cumprir um papel social. Porque o mundo diz que a mulher deve ser mãe. Assim como existem mulheres que não têm conexão com os filhos, o contrário também acontece. Acho saudável trazer essa discussão para a sala das pessoas.
Às vezes, o público tem uma percepção diferente do que foi proposto e acho isso rico. Novela é entretenimento, mas pode ser um serviço público na medida em que promove uma reflexão, discussão. A gente não precisa estar certo, errado. Não temos que tachar nem sermos os donos da razão.
Depois de gravar essas cenas e voltar para casa, o que sente?
Me dá medo, muito medo [risos]. Educar é uma tarefa difícil. E para a gente que trabalha muito, passa muito tempo fora, é uma angústia. Não estou o tempo todo do lado dos meus filhos para dizer o que eles devem fazer, para vigiar, para saber o que estão assistindo na TV. Por mais que dê as ordens...
Quais ordens, por exemplo?
Não deixo mais eles brincarem nos dispositivos eletrônicos durante a semana. Só no final de semana, pois é quando consigo ver o que estão fazendo. Às vezes, mexo no telefone para saber o que estão vendo, bloqueio conteúdos para adulto...
Mas, mesmo assim, dá medo. A isso se soma a culpa de não estar sempre presente, que gera uma tendência a dizermos sempre sim. Ficam duas forças em mim. Uma delas fala: “Juliana, é hora de dizer não”. Já a outra: “Poxa, mas você passou a semana inteira fora de casa e, no final de semana, vai botar o menino de castigo?”
E o que você faz?
Nessas horas, tento me pegar um pouco na geração passada, sem me desconectar do que aprendemos hoje em dia. Os meus pais me deixavam muito de castigo. Mas eles também tiveram alguma dificuldade em demonstrar afeto. Então, tento balancear isso. Demonstro muito, porque é algo que a nossa geração já aprendeu a fazer de uma forma mais aberta.
E tem ficado mais fácil ou mais difícil à medida que eles crescem?
Vai dificultando sempre. Eles começam a entender as coisas, questionar. Às vezes, vêm perguntas que você não está preparada para responder. Mas já entendi: se eles perguntam é porque estão preparados para ouvir a resposta.
Mas, às vezes, você não tem a resposta, simplesmente não sabe [risos]. Na maioria das vezes, tento responder por meio das minhas vivências. Outro dia, um dos meus filhos perguntou: “Mãe, o que é alma”? Poxa, alguém responde aí pra mim!
Como é a sua relação com o Marcos Palmeira? [O ator faz Amadeu na trama, par de Maria]
Ele é um amigo de outros trabalhos, fizemos Celebridade [2004] juntos. Não contracenamos muito, mas tínhamos bastidores muito agradáveis. Depois nos encontramos em um episódio de As Brasileiras [2012] e fomos elogiados.
Eu fui uma personagem que decepava o noivo por ciúme. Imagina o quanto não nos divertimos em gravar cenas desse teor. Ele é muito generoso, sensível, está sempre preparado para ouvir. Tem aquele jeitão de quem está sempre andando pelo campo. Ele tem essa coisa bucólica na alma, é muito fácil e gostoso trabalhar com ele.
Qual a diferença desse romance para outros que você viveu em novelas anteriores?
Essa é uma história de amor interrompido. A promessa do amor é muito forte. Ele não chega a ser vivenciado em sua plenitude. Então, tudo o que é uma promessa vai para o campo do sonho, do perfeito.
Quando eles se encontram, é amor à primeira vista, de verdade. Estamos vestindo a camisa do melodrama. A gente quer contar essa história assim, de um jeito rasgado, sem vergonha de ser feliz, sem vergonha do amor. Eles se apaixonam de cara, são dois corações solitários que se juntam e que imediatamente precisam um do outro. Então, de repente, quando esse amor é interrompido, ele vira uma promessa muito forte.