Sobre o Perdão
“A oração não visa a influenciar Deus, mas mudar a natureza de quem ora” (Soren Kierkegaard)
A visão do espiritismo sobre o perdão destoa de certa forma do conceito que muitos religiosos têm sobre essa “marca” de Deus, interpretando o perdão divino como uma espécie de anistia a qualquer tipo de “pecado”, isentando o “pecador” da responsabilidade sobre o ato praticado, tipo “passando uma borracha”.
A frase do filósofo Soren Kierkegaard, transcrita como subtítulo deste artigo, é o alerta perfeito e vem totalmente ao encontro de como a Doutrina Espírita entende o perdão.
Na questão de número 661 do Livro dos Espíritos, Kardec questiona os mentores espirituais da seguinte forma:
– “É válido orar a Deus pedido perdão pelas nossas faltas?”
– Sim, respondem eles, “porém o perdão só vem com a mudança de conduta.”
Tanto Kiekegaard como os espíritos que respondiam a Kardec deixaram claro que pedir perdão é válido, mas perde a validade se o objetivo é conquistar algo não merecido, pela simples interferência divina.
O perdão sem mudança de conduta traduz-se em impunidade, o que estimula a reincidência no erro, uma vez que as consequências difíceis são fundamentais para a correção dos equívocos.
Isso é pedagogia básica!
Se eu não mudei meu comportamento e fui perdoado, não devo mais nada, nem tampouco assumi as consequências dos tropeços, qual o estímulo para não repeti-los?
O perdão divino consiste no abraço paternal, no enxugar de lágrimas, no amparo e no apoio incondicional para que os erros sejam corrigidos e o comportamento redirecionado.
Não há castigo, apenas consequências!
Somos senhores da semeadura, mas escravos da colheita.
Os erros geram aprendizado quando seus efeitos deletérios incomodam o autor e o impelem a mudar de conduta. Não há outra forma de aprender.
Deus nos ama, e como dizia Içami Tiba, “quem ama, educa” e quem educa, corrige.
Simples assim.
Edson Sardano